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Reinaldo Azevedo

Rio vive a simulação de uma Frente Ampla. Pode ser um ensaio para 2022?

Eduardo Paes, candidato do DEM, chega ao segundo turno com apoio amplo; Crivella conseguiu juntar contra si adversários ideológicos históricos - Reprodução; Fábio Motta/Estadão
Eduardo Paes, candidato do DEM, chega ao segundo turno com apoio amplo; Crivella conseguiu juntar contra si adversários ideológicos históricos Imagem: Reprodução; Fábio Motta/Estadão

Colunista do UOL

29/11/2020 09h09

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O Rio assistirá, neste domingo, a uma simulação de Frente Ampla — no caso, contra Marcelo Crivella (Republicanos) e, por extensão, contra Jair Bolsonaro.

Eduardo Paes (DEM), que vence a disputa com folga segundo as pesquisas, chegou ao segundo turno liderando a coligação "A Certeza de um Rio Melhor", que reúne PSDB, PL, Avante, PV, DC e Cidadania. Pode-se dizer que a coluna vertebral do grupo é de centro-direita, com costelas de centro, centro-esquerda e direita.

Crivella, que faz a pior administração da história do Rio na opinião quase unânime dos analistas, não importa o matiz ideológico, pertence a um partido que é uma extensão da Igreja Universal, de que seu tio, Edir Macedo, é o líder supremo. O nome da coligação já diz a que veio: "Com Deus, pela Família e pelo Rio".

Vale dizer: a função de gestor da cidade vem em terceiro lugar. À frente estão as tarefas de líder religioso e suposto conselheiro de assuntos domésticos. Com ele se juntaram nanicos estridentes de extrema direita, como PTC, PRTB e Patriota, mas também há uma legenda mais robustas de direita, como Podemos, além de Solidariedade e PP, que cresceu neste pleito — os dois últimos integram o centrão.

São poucos os partidos que têm coesão ideológica tal que se apresentem com um mesmo perfil em todos os Estados. Mas o que importa é o eixo de cada campanha. Embora o DEM seja uma legenda de centro-direita, a campanha de Paes pode ser definida como de centro. À medida que Bolsonaro adotou a candidatura de Crivella e que este convocou Jair Bolsonaro como cabo eleitoral, acabou se desenhando o melhor cenário possível para Paes.

Outros partidos de centro, como o MDB, e de centro-direita, como o PSD, se juntaram na recomendação ao voto em Paes. O PDT, de centro-esquerda, preferiu a neutralidade, mas é pouco crível que a maioria de seus eleitores seja neutra.

O Rio passa por uma experiência única: vive-se ali uma simulação de Frente Ampla contra o Reacionarismo e o Atraso. E põe "ampla" nisso. O PT se juntou ao PSOL no segundo turno, em São Paulo, contra Bruno Covas, do PSDB, que tem na sua enorme coligação o DEM e o MDB. No Rio, petistas e psolistas recomendam voto contra Crivella — e isso significa, é claro!, voto em Paes, que é do DEM e disputa em coligação com o PSDB, recebendo o apoio, na segunda etapa, do MDB e até do PSD, que ficou com Crivella há quatro anos.

Pode-se inferir, a partir do que se vê no segundo turno no Rio, que é possível uma Frente Ampla contra Bolsonaro em 2022? Notem: no primeiro turno, será pouco provável até mesmo uma frente de esquerda e centro-esquerda. No segundo, se o atual presidente passar pelo crivo do primeiro, a prudência sugere uma espécie de conjuração contra o horror e o desastre.

Afinal, a frente do Rio se tornou tão ampla que, como ele mesmo lembrou, até os que pertencem à página "Eu Odeio Eduardo Paes" passaram a recomendar o voto em Eduardo Paes!!!