Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Coluna na Folha: A CPI e o Tribunal de Nuremberg; quem banaliza o quê?
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Sempre que a evocação do Holocausto ou do Tribunal de Nuremberg servir para justificar a truculência e a morte e para minimizar o horror, estejam certos de que estarei aqui e em qualquer parte para repudiar tal manifestação. E quem fala por mim? As muitas dezenas de artigos que já escrevi a respeito em minha página, hoje hospedada no UOL, e reiteradas declarações em programas de rádio. Erra a Conib (Confederação Israelita do Brasil) ao atribuir ao senador Renan Calheiros (MDB-AL) a banalização do Holocausto judeu quando o relator da CPI associou o comportamento de homicidas da Covid-19 ao de alguns réus no tribunal de Nuremberg.
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Mas é preciso saber quando a evocação do Tribunal de Nuremberg --ou mesmo do Holocausto judeu-- serve para rotinizar o genocídio e o morticínio em massa e quando esse chamamento à memória tem o propósito de encarecer agressões de lesa-humanidade que estão sendo rotinizadas. O zelo não pode correr o risco de, involuntariamente, tomar o lugar da impiedade.
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Em palestra conferida na Hebraica do Rio, em 2017, Bolsonaro atacou as reservas indígenas e quilombolas --a propósito: está em curso hoje, no Brasil, o genocídio do povo yanomami-- e afirmou sobre uma comunidade negra, de egressos da escravidão: "Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles". Foi aplaudido. O aplauso foi indigno. As reações de repúdio ficaram bem abaixo da gravidade da ofensa.
Aprendi com um amigo que os judeus "são iguais sendo diferentes e são diferentes sendo iguais". Pareceu-me, de início, mero jogo de palavras. Mas depois compreendi o que há de profundo aí. Que nos emprestem não apenas a sua dor, mas também a indignação que alimenta a luta. Os que, por ação e omissão, mataram e matam os brasileiros têm de pagar por isso. A metáfora extrema serve para lembrar que, para certos crimes, não pode haver perdão.
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