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Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Coluna na Folha: O nem-nem da terceira via é um erro, antes de tudo, ético

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Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

18/06/2021 08h30

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Por que é tão difícil surgir o tal candidato de centro, embora existam políticos qualificados para tanto? A indagação não tem caráter metafísico, e eu não acredito na existência de uma maioria silenciosa à espera de Godot. Até porque o dito-cujo não aparece, certo? Um terceiro nome só se tornará viável se conquistar votos entre eleitores que já falam nas pesquisas —são eles a maioria. A eleição de 2022 será, sim, fundamental para o futuro do Brasil. Trata-se de saber se a democracia vai ou não sobreviver. Não há risco de um golpe à moda antiga. Há outras formas, algumas já em curso, de pôr a tropa na rua. A milicianização das polícias é um exemplo eloquente do inferno que nos espreita. Que seja esconjurado.

A disputa define, pois, o futuro, mas também é um eco do passado. Vivemos as consequências de uma intervenção no processo eleitoral de 2018 que conduziu a uma artificialização da vida pública. Pouco depois de recuperar seus direitos políticos --que lhe foram arrancados por meio de instrumentos ilegítimos, de legalidade viciada --, Lula passou a ser o favorito na disputa. Seria competitivo ainda que Bolsonaro se comportasse como um estadista.
(...)
Lula está tendo a inteligência de não criar uma inexistente equivalência entre Bolsonaro e os demais adversários. Quando alguém que se coloca como terceira via diz um "nem Lula nem Bolsonaro", tende a falar a uma minoria que já vê os dois postulantes como males distintos, mas equivalentes. Essa equivalência --falsa segundo os valores mais comezinhos da civilização-- faz com que esse centro, por ora, fale a um eleitorado que tem um potencial de expansão muito pequeno. Entendo que o discurso da terceira via não está no "nem-nem". Os 500 mil mortos até agora impõem uma primeira clivagem ética.

As propostas vêm depois.
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