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Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

A urna eletrônica é vacina 100% antifraude. Mais: Bia Kicis, a Cuca e o DNA

A Cuca, eleitora de Bia Kicis (à direita), quer voto impresso. Ela diz ainda que só ficou verde e com focinho de jacaré depois de ter tomado a vacina. Aprendeu com a deputada, como no Twitter acima, que o imunizante altera o DNA... - Reprodução; Cristiano Mariz/Veja
A Cuca, eleitora de Bia Kicis (à direita), quer voto impresso. Ela diz ainda que só ficou verde e com focinho de jacaré depois de ter tomado a vacina. Aprendeu com a deputada, como no Twitter acima, que o imunizante altera o DNA... Imagem: Reprodução; Cristiano Mariz/Veja

Colunista do UOL

03/08/2021 03h20

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O Tribunal Superior Eleitoral divulgou uma nota em defesa da segurança das urnas eletrônicas. Escolheu-se um critério para reunir assinaturas: os atuais presidente (Luís Roberto Barroso) e vice (Edson Fachin), o futuro presidente (Alexandre de Moraes) e todos os ex-presidentes da corte desde a Constituição de 1988.

Assim, nove dos 10 ministros da Corte estão na lista. Só Nunes Marques não aparece entre os signatários. Ele divulgou uma nota — vejam post a respeito.

Não deixa de ser estupefaciente que a corte responsável pela lisura do processo eleitoral em escala nacional tenha de vir a público para dizer o óbvio. E é óbvio não porque tenha baixado uma verdade do Céu para dizer que assim são as coisas. Mas porque o sistema de votação no Brasil obedece aos mais rigorosos critérios técnicos e é plenamente auditável em todas as fases do processo — e essa auditoria pode ser feita mesmo depois de realizado o pleito.

Se, antes da votação eletrônica, a eleição era palco de malandragens as mais variadas — da quebra do sigilo do voto ao mapismo, que consistia em fraudar a contabilidade das urnas, passando pela existência de cédulas falsas —, as fraudes, depois da adoção do modelo, caíram a zero. Notem bem: a zero!

Não estamos falando aqui da adoção de um sistema que, sei lá, reduziu as fraudes em 65%, 75%, 95%. Não. Ele as eliminou na sua totalidade. Nesse sentido, as urnas eletrônicas, como as temos, são o que as vacinas, contra qualquer doença — vacinas que salvam milhões de vidas —, nunca poderão ser: 100% eficazes. É isto: a urna eletrônica é a vacina perfeita contra o mal que busca combater: a fraude. E, pois, garante que a vontade do eleitor seja respeitada. Mesmo quando a maioria dos que votam elege um delinquente político e intelectual como Bolsonaro.

Mas, ora vejam!, os mesmos que desconfiam das vacinas; os mesmos que praticam negacionismo em relação à Covid-19; os mesmos que acreditam em cloroquina e ivermectina como remédios eficazes contra os vírus; os mesmos que sabotam as máscaras; os mesmos que fazem pouco caso dos mortos e do saber científico, esses mesmos decidem, então, opor-se à urna eletrônica. É o mesmo que querer a fraude de volta.

Convenham: a gente pode se indignar, certo? Mas o que esperar de quem se aliou ao coronavírus contra os brasileiros? A PEC, aliás, do voto impresso é de autoria da primitiva Bia Kicis (PSL-DF), deputada que, no dia 2 de dezembro de 2020, ao se opor à vacinação obrigatória, teve o despropósito de afirmar no Twitter que as vacinas provocavam alteração do DNA, que é só um jeito um pouco mais manso de afirmar que a pessoa pode virar um jacaré ou a Cuca. A deputada estava mentindo.

O TSE lida com fatos. Observem que a nota, que reproduzo abaixo, desmente a falsa ilação de que o voto impresso aumenta a segurança do sistema — faz justamente o contrário — e de que o modelo que temos é vulnerável.

De resto, já afirmei aqui e repito: Bolsonaro está pouco se lixando se a votação será assim ou assado. Seu esforço é para deslegitimar o pleito de 2022. Não quer eleição. Quer golpe. E vai querê-lo mesmo que venha a vencer. A sua cruzada verdadeira não é contra o voto impresso. É contra a democracia.

Leia a íntegra da declaração do TSE, com seus respectivos signatários.
*
O Presidente, Vice-Presidente, futuro Presidente e todos os ex-Presidentes do Tribunal Superior Eleitoral desde a Constituição de 1988 vêm perante a sociedade brasileira afirmar o que se segue:

1. Eleições livres, seguras e limpas são da essência da democracia. No Brasil, o Congresso Nacional, por meio de legislação própria, e o Tribunal Superior Eleitoral, como organizador das eleições, conseguiram eliminar um passado de fraudes eleitorais que marcaram a história do Brasil, no Império e na República.

2. Desde 1996, quando da implantação do sistema de votação eletrônica, jamais se documentou qualquer episódio de fraude nas eleições. Nesse período, o TSE já foi presidido por 15 ministros do Supremo Tribunal Federal. Ao longo dos seus 25 anos de existência, a urna eletrônica passou por sucessivos processos de modernização e aprimoramento, contando com diversas camadas de segurança.

3. As urnas eletrônicas são auditáveis em todas as etapas do processo, antes, durante e depois das eleições. Todos os passos, da elaboração do programa à divulgação dos resultados, podem ser acompanhados pelos partidos políticos, Procuradoria-Geral da República, Ordem dos Advogados do Brasil, Polícia Federal, universidades e outros que são especialmente convidados. É importante observar, ainda, que as urnas eletrônicas não entram em rede e não são passíveis de acesso remoto, por não estarem conectadas à internet.

4. O voto impresso não é um mecanismo adequado de auditoria a se somar aos já existentes por ser menos seguro do que o voto eletrônico, em razão dos riscos decorrentes da manipulação humana e da quebra de sigilo. Muitos países que optaram por não adotar o voto puramente eletrônico tiveram experiências históricas diferentes das nossas, sem os problemas de fraude ocorridos no Brasil com o voto em papel. Em muitos outros, a existência de voto em papel não impediu as constantes alegações de fraude, como revelam episódios recentes.

5. A contagem pública manual de cerca de 150 milhões de votos significará a volta ao tempo das mesas apuradoras, cenário das fraudes generalizadas que marcaram a história do Brasil.

6. A Justiça Eleitoral, por seus representantes de ontem, de hoje e do futuro, garante à sociedade brasileira a segurança, transparência e auditabilidade do sistema.

Todos os ministros, juízes e servidores que a compõem continuam comprometidos com a democracia brasileira, com integridade, dedicação e responsabilidade.

Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO

Ministro LUIZ EDSON FACHIN

Ministro ALEXANDRE DE MORAES

Ministra ROSA WEBER

Ministro LUIZ FUX

Ministro GILMAR MENDES

Ministro DIAS TOFFOLI

Ministra CÁRMEN LÚCIA

Ministro RICARDO LEWANDOWSKI

Ministro MARCO AURÉLIO MELLO

Ministro CARLOS AYRES BRITTO

Ministro CARLOS MÁRIO DA SILVA VELLOSO

Ministro JOSÉ PAULO SEPÚLVEDA PERTENCE

Ministro NELSON JOBIM

Ministro ILMAR GALVÃO

Ministro SYDNEY SANCHES

Ministro FRANCISCO REZEK

Ministro NÉRI DA SILVEIRA