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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Moro não tem bafo de manhã nem chulé; ele prefere não responder a acusações

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Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

01/11/2021 18h38

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O ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro se filia ao Podemos no dia 10 de novembro. O que dizer? Sinto-me intelectualmente recompensando. Ainda em 2014, ano de criação da Lava Jato, identifiquei em tal senhor pendores para a política. A arte para o evento está pronta. Vejam acima. Falo sobre ela daqui a pouco. Antes, algumas considerações.

Como resta evidente, Moro usou a operação Lava Jato para pavimentar o caminho de um futuro candidato. De fato, ele é uma personagem central desses dias. Sem a sua atuação — e me refiro, como devem supor, à permanente agressão à ordem legal sob o pretexto de combater a corrupção —, não teríamos chegado a este pântano.

Não me espanta, claro!, que muita gente acredite que uma personagem com características de justiceiro possa ser um bom presidente da República. Não é de hoje que se confunde a política com a polícia. São palavras do mesmo étimo, que a civilização se encarregou de distinguir. E que os reacionários se encarregaram de confundir.

A vida pública é um saber como qualquer outro. Uns acumulam mais informações a respeito do tema; outros, menos. Jornalistas que cobrem política e analistas da área, convenham, deveriam estar mais preparados para enfrentar a questão, mas não estão.

Ocorre que apareceu um ente metafísico da política brasileira chamado "Terceira Via", que é o candidato "nem-nem". Esse "Leviatã" do meio-termo viria para impedir que o bolsonarismo fosse o lobo do petismo e também o contrário. Esse "Ser do Outro Mundo" se imporia sobre toda coisa viva, evidenciando os males da... polarização.

E pouco importará a esses analistas isentos que Moro, então, como uma possível encarnação do "Monstro do Meio" tenha sido aquele que tornou inviável a candidatura de um (Lula) e foi servir como ministro do outro (Bolsonaro) — e, pois, independente não era nem a sua toga, quando tinha uma.

Não deixa de ser espantoso que, aqui e ali, quando se exaltam as qualidades de Moro, muitos apontem justamente o fato de que ele estaria desvinculado dos "esquemas políticos" que caracterizariam as outras candidaturas. Que coisa! Mais uma vez essa história da antipolítica que viria para corrigir a política... Além de errado, isso será sempre mentiroso.

Sabem o que é curioso? Não há uma só experiência virtuosa no mundo que tenha nascido de tal postulação. Ao contrário: todas as vezes em que se apelou a alguém com o discurso contra o "mainstream" político para corrigir os seus vícios, as consequências foram desastrosas.

O LANÇAMENTO
Eis aí. O Podemos anuncia a filiação de Moro. Vejam acima a arte do evento. Ao fundo, a bandeira do Brasil, com destaque para o lema "Ordem e Progresso". Não é preciso ser um intérprete ousado para perceber que o cara quer avançar, inicialmente, sobre o eleitorado de Bolsonaro.

À frente da bandeira, está ele, o guia, olhando para o futuro. O ângulo pertence a uma categoria de fotos que chamo "Queixo de Estátua", como se a figura retratada já tivesse o peso de "vulto histórico" e, em certo sentido, como disse um filósofo, já nascesse póstuma.

Não se sabe ainda se Moro sai candidato à Presidência ou ao Senado por São Paulo, sendo pouco provável que dispute a vaga com Álvaro Dias. Em qualquer dos casos, ele integra os quadros do Podemos — onde brilham patriotas como o próprio Dias e a deputada Renata Abreu (SP), que preside a legenda... — para nos salvar.

Se, de fato, levar adiante a candidatura, alguém acredita que possa ser o nome único a encarnar aquele particularíssimo monstro, o "Leviatã de centro"? Já imaginaram João Doria retirando seu nome em benefício de Moro? Enquanto o governador de São Paulo se encarregava de tornar viável uma vacina — e ele está na raiz da vacinação em massa no país —, o ex-juiz escolhia trabalhar na empresa que fazia a recuperação judicial da Odebrecht... Sinto vergonha alheia até de escrever isso. Santo Deus! Parte da elite brasileira não sabe nem ser antilulista...

Indago: Moro também teria força para tirar um Ciro Gomes do pleito? Ainda que o ex-governador do Ceará topasse a parada, seus eleitores veriam no justiceiro uma alternativa? A propósito: além das suas virtudes de xerife, que aplicou a lei como lhe deu na telha, ele pensa sobre economia exatamente o quê? Devemos chamar seu ministro da Economia de "Posto Shell"?

ESTA COLUNA
Esta coluna está com inveja. Pode não parecer, mas também tem acesso ao que se chama por aí de "interlocutores" de Moro. O "interlocutor" é aquele ente ainda mais metafísico do que o "Leviatã Nem-Nem". É uma fonte inesgotável de informações.

Assim, leitores, fiquem com o que apurei só na última meia hora sobre o ex-juiz. A concorrência costuma dar umas duas notinhas por dia. Comigo não. Vai tudo de uma vez. Preparem-se.

- Esta coluna, em conversa com pessoas do entorno de Sergio Moro, apurou que o ex-juiz respira, em média, 23 mil vezes por dia.

- Interlocutores de Moro, em conversa com este colunista, dizem que ele inspira oxigênio e expira gás carbônico.

- Pessoas que têm conversado com Moro e que preferem não ter divulgados seus respectivos nomes para evitar polêmica asseguram a este jornalista que ele é um cara bacana.

- Gente que tem falado com Moro assevera que ele quer o bem do Brasil. Indagado por este solerte repórter, o ex-ministro preferiu não responder.

- Acusado de combater a corrupção e de só gostar de pessoas boas, Moro tem se negado a falar com esta coluna.

- Gente com acesso à intimidade de Moro garante que ele não tem bafo ao acordar e poderia dar beijo na boca, como em filme americano.

- Colunista entusiasmada promete ainda para este ano o livro-reportagem "Não Moro com Ele, mas Sei".

- Esta coluna apurou que Sergio Moro tem bons sentimentos. Outro lado: o ex-juiz preferiu o silêncio.

- Interlocutores que praticam a genuflexão independente asseguram a esta coluna que Moro não tem chulé.

- Acusado de exalar a lavanda ao tirar as meias, Moro tem preferido o silêncio.

- Esta coluna apurou que, para Moro, o dia 2 vem depois do 1º e antes do 3. Mas o ex-juiz diz que tudo é negociável. Menos o terno preto.

- Esta coluna pratica jornalismo independente de Bolsonaro e de Lula.