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Pesquisa: Lula supera marcas de 2002 e 2006 e poderia vencer no 1º turno
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Foram divulgados na manhã desta quarta os dados da pesquisa Genial/Quaest de fevereiro. Só há uma boa notícia para os adversários de Lula: ainda faltam oito meses para a disputa, e pode ser que algo mude até lá. Todo o resto é desalento. Nos quatro cenários testados no primeiro turno, o petista teria mais do que a soma de seus adversários: em três deles, a vitória seria provável; num quarto, abriria boa margem, mas a hipótese é impossível. No segundo turno, o ex-presidente bateria qualquer dos oponentes com folga. O levantamento ouviu presencialmente duas mil pessoas entre os dias 3 e 6, e a margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. Vejam os números. A sigla "NBN" significa "Nenhum/Branco/Nulo":
CENÁRIO UM
Lula (PT): 45%
Bolsonaro (PL): 23%
Sergio Moro (Podemos): 7%
Ciro Gomes (PDT): 7%
João Doria (PSDB): 2%
André Janones (Avante): 2%
Simone Tebet (MDB): 1%
Rodrigo Pacheco (PSD): 0%
Felipe D'Ávila (Novo): 0%
NBN: 8%
Indeciso: 5%
SEGUNDO CENÁRIO
Lula (PT): 45%
Bolsonaro (PL): 24%
Sergio Moro (Podemos): 9%
Ciro Gomes (PDT): 8%
João Doria (PSDB): 3%
NBN: 8%
Indeciso: 5%
CENÁRIO TRÊS
Lula (PT): 45%
Bolsonaro (PL): 24%
Sergio Moro (Podemos): 9%
Ciro Gomes (PDT): 8%
André Janones (Avante): 2%
NBN: 10%
Indeciso: 4%
CENÁRIO QUATRO
Lula (PT): 47%
Bolsonaro (PL): 26%
Ciro Gomes (PDT): 9%
André Janones (Avante): 3%
NBN: 10%
Indeciso: 4%
No primeiro cenário, Lula somaria 45% contra 42% dos adversários; no segundo e no terceiro, 45% a 44%. No quarto, que me parece impossível de realizar, 47% a 38%.
Não existe um cenário exatamente igual para comparar, mas há a média das hipóteses testadas desde julho do passado: a menor pontuação de Lula é 44%, e a maior, 48% — desta vez, 46%.
Bolsonaro já esteve melhor (28% em julho e agosto) e pior: 21% em novembro. Tem 24% agora. O máximo que Moro marcou foi 11% (julho). Agora está no mais baixo: 8%, já verificado antes em setembro e novembro. Em julho e outubro, Ciro atingiu a pontuação mais alta: 11%; no mês passado, a mais baixa: 5%. Desta feita, 7%.
NÚMEROS FABULOSOS
O otimismo antilulista -- e cheguei a ler a coisa outro dia com certo enfado -- aponta que o petista teria batido no teto no primeiro turno: fica ali nos 44%, 45%. Pode ser. Mas observem que os institutos colhem dados considerando os eleitores inscritos -- é o seu 100% --, não apenas quem vai votar. Não há como saber. A abstenção costuma se esconder no "ninguém", "branco", "nulo", "não sabe". Impossível determinar. E há os que não vão votar porque morreram, sem que tenha havido atualização do cadastro.
Ainda assim, vejam estes números. Em 2002, considerando o número total de inscritos, o petista obteve 34,2% dos votos no primeiro turno; em 2006, 37,2%. Percebam: Lula teria hoje uns 8 pontos a mais do que em 2006 e 10 e tanto a mais do que em 2002. Isso significaria, meus caros, algo em torno de 66 milhões de votos só no primeiro turno, mais do que obteve nos respectivos segundos turnos das duas eleições que venceu: 52.793.364 e 58.295.042.
Se os adversários de Lula não errarem demais — e estão errando muito até agora —, podem tentar comemorar o fato de que, com efeito, será muito difícil que cresça no primeiro turno. Diria até que é provável que caia porque são, reitero, números fabulosos.
Pode, no entanto, haver a ampliação dessa base, liquidando a fatura no primeiro turno? Não me parece impossível se mantiver os acenos para o centro político e se vocações jacobinas tão tardias como minoritárias não acabarem colaborando, ainda que não seja esta a pretensão, com o bolsonarismo.
SEGUNDO TURNO
O candidato do PT continua a vencer com folga todos os adversários. Derrotaria Bolsonaro por 54% a 30%, números idênticos ao de janeiro. Se o adversário é Moro, o placar é 52% a 28% -- no mês passado, 50% a 30%. Ciro seria batido por 51% a 24% (antes, 52% a 21%). Contra Doria, 55% a 16% (em janeiro, 55% a 15%). O tal Janones perderia por 14% a 56%, hipótese não testada no mês passado.
Como se percebe, exceção feita à inclusão na simulação do deputado Janones — uma cria das redes sociais, surgida à esteira da greve dos caminhoneiros de 2018 —. não há novidade na pesquisa.
MORO, POR ENQUANTO...
A esperada -- por alguns ao menos -- consolidação de Moro como nome da mal chamada "terceira via", como resta óbvio, não aconteceu. E olhem que não faltou "mídia" ao pré-candidato. É bem verdade que nem sempre aparece como gostaria. Está indignado, por exemplo, porque o TCU cobra explicações sobre o seu "sei-lá-o-quê" com a Alvarez & Marsal. Ainda assim, com alguma frequência, a notícia já começa com o "outro lado" -- o lado de Moro.
Até agora, não parece que tenha surtido grande efeito. Moro empolgou os empolgados. O mundo político começa a perceber o cheirinho da aventura. Que eleitorado ele tem de empolgar para tomar o lugar de Bolsonaro?
FEDERAÇÕES?
A formação das federações, garantindo musculatura, tempo e recursos em abundância pode ser uma saída para a candidatura Doria? Há conversas do PSDB com o MDB. O partido numeroso -- não sei se grande... -- que surge da fusão do DEM com o PSL aguarda para falar com o vencedor ou compra a aventura Moro? E Ciro? Alguma chance de arrancar um tanto de votos do PT e convencer centro-direita e direita de que é ele a melhor alternativa para vencer Lula? Os números, até agora, têm sido a madrasta má.
A eleição não é hoje. Mas há dados da pesquisa divulgada hoje que, casados com números da economia, confirmam Lula como o franco favorito. É claro que sempre excluo de análises assim os sortilégios. Analiso pesquisas, mas não prevejo facada, como aquela que foi deferida no ventre de Bolsonaro e no futuro do Brasil, que é passado que vai demorar a passar.
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