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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Heleno levou Sara Winter ao Palácio e agiu como "coach" de fascistoide

Ataque ao Supremo perpetrado pelo tal Grupo dos 300. Heleno ficu sabendo de que algo aconteceria. O chefe do GSI não fez nada - Reprodução
Ataque ao Supremo perpetrado pelo tal Grupo dos 300. Heleno ficu sabendo de que algo aconteceria. O chefe do GSI não fez nada Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

11/02/2022 07h06

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O documento entregue pela delegada Denisse Ribeiro ao ministro Alexandre de Moraes (ver outro post) traz o depoimento do general Augusto Heleno, chefe do GSI. É assombroso! Ele levou a tal Sara Winter e sua turma para dentro do Palácio do Planalto. Mais do que isso: ele os aconselhou. Mais do que isso: ficou sabendo que algo aconteceria contra o STF e, como se sabe, nada fez. É coerente. Afinal, no mesmo prédio em que trabalha Heleno, atua o subversivo "Gabinete do Ódio". O general alega tê-lo feito porque...
"O Grupo dos 300, na época, estava tomando atitudes hostis contra jornalistas que acompanhavam o dia a dia do presidente; que tal situação não era do interesse do governo federal, o que levou o declarante a buscar contato com o Grupo dos 300 para mitigar ações hostis; que houve uma reunião, no gabinete do GSI, em que participaram alguns integrantes do Grupo dos 300, inclusive SARA WINTER".

É o fundo do poço. Heleno deveria renunciar hoje. E ele não se zangue comigo. Lembro a crítica severa que fiz a Gilberto Carvalho, então secretário-geral da Presidência no governo Dilma, que admitiu ter se reunido com black blocs em 2014 para tentar conter os atos violentos daquela turma.

Prestem atenção! O que Carvalho fez era infinitamente menos grave. Afinal, o governo era alvo da ação dos arruaceiros, não seu parceiro. Dilma se desgastava com os atos violentos. Não tentava usá-los como parceiros numa ameaça golpista. "E por que você criticou mesmo assim, Reinaldo?" Porque governos não podem levar bandidos para negociar em Palácio. Defendi em 2013 e 2014 — e não mudei de posição até hoje — que a ação dos black blocs era uma questão federal e que aqueles vagabundos deveriam ser enquadrados na Lei de Segurança Nacional. É só buscar o que escrevi então. E pouco me importava se desestabilizavam um governo de que eu não gostava. Não se dialoga com esse tipo de gente. É questão institucional.

Heleno recebeu marginais que pregavam golpe de estado — só que aí em consonância com o governo —, e, vejam só, o general tentou convencê-los de que o que faziam NÃO ERA DO INTERESSE do governo. E se fosse? Tudo bem? A questão não estava na ilegalidade subversiva daquelas manifestações, mas no "interesse"? E a coisa vai piorar. Sigamos com ele.

"Que integrantes do Grupo dos 300 chegaram a mencionar tema sobre posturas contra o STF, porém o declarante desaconselhou qualquer tipo de ação contra tal instituição, pois não traria efeitos positivos"

COMO É QUE É??? Então o chefe do GSI fica sabendo de "posturas contra o STF" e apenas as "desaconselhou"??? Virou conselheiro de prototerroristas, ministro? Não se envergonha. De novo, diz que a agressão "não traria efeitos positivos". Cumpre indagar: e se trouxesse? Conivência? Prevaricação? Incitamento ao crime por omissão? Este último não é um tipo penal, mas é um tipo moral.

Então o chefe do Gabinete da Segurança Institucional ficou sabendo previamente que algo se faria contra o STF e resolveu apenas atuar como "coach" de fascistoide: "Olhem, melhor não, não trará efeitos positivos". Se trouxesse...

O general também admite ter recebido o agora foragido Allan dos Santos em seu gabinete.

Eis o governo que veio trazer uma nova moralidade, pautada, inclusive, pela disciplina militar, não é mesmo?

O que se tem é arruaça em todo canto.