Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Cafajestagem "sertaneja" ainda apela à Lei de Proteção aos Animais, tadinha
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Mais um pouco, e a cafajestagem dita "sertaneja", coitadinha!, servil à extrema direita, vai apelar à Lei de Proteção aos Animais para se defender, repetindo o ato heroico de Sobral Pinto em defesa de Arthur Ernest Ewert (Harry Berger), militante comunista alemão preso no Brasil e barbaramente torturado. Ora, ora... O implacável Comitê de Caça aos Extremistas de Direita, infiltrado na terrível "mídia", sempre ela!, estaria perseguindo alguns emblemas do livre pensamento, como Gusttavo Lima, o tal Zé Neto e outros... É um disparate!
Uma das peças da militância bolsonarista contra "os comunistas" é a Lei Rouanet. Fico muito à vontade para tratar do assunto porque nunca defendi o benefício para artistas já consagrados. Acho que tem de amparar os iniciantes, razão por que o grupo encarregado de fazer a seleção de projetos deve ser composto de pessoas que tenham o que esse governo não pode oferecer: currículo!
O grito de alerta que ganhou a imprensa, quem diria?, foi dado pelo próprio Zé Neto, um bolsonarista entusiasmado. Atacou Anitta, apelando a uma tatuagem íntima da cantora para desqualificá-la, disse que não precisava mostrar a "toba" para fazer sucesso e se jactou: seu cachê era pago pelo povo!
E como! Era o povo mesmo! Eis que, então, veio a luz o modo como esses reis da popularidade engordam os seus cofres e alimentam a vida de luxo — mansões, carrões, aviões, barcos: prefeitos Brasil afora — às vezes, deputados — apelam ao dinheiro público para pagar cachês milionários. Artista que faz um show pela Lei Rouanet pode receber, no máximo, R$ 3 mil. Gusttavo Lima cobrou da pobre São Luiz, a cidade que tem o segundo pior PIB de Roraima, quase 267 vezes esse valor: R$ 800 mil. Se Conceição do Mato Dentro não tivesse suspendido a contratação do artista, seriam 400 vezes: R$ 1,2 milhão.
Eu não sei se é muito ou é pouco para o que Gusttavo Lima acha de si mesmo e para o que acham dele. Se cobrar R$ 10 milhões e se houver, no mercado, quem pague tudo isso, então o valor é justo e merecido. DESDE QUE OS PRIVADOS ARQUEM COM O CUSTO DA COISA TODA. Inaceitável é que seja a grana dos pobres a fazê-lo. Há mais: no caso de Conceição do Mato Dentro, o dinheiro sairia de um fundo reservado à educação.
A coisa vai longe. O pré-candidato do Avante à Presidência, deputado André Janones, resolveu bancar com dinheiro público uma festança em Ituiutaba (MG), sua cidade natal, batizada de Expopec. O custo: R$ 1,9 milhão. Não! Janones não pretende desembolsar um miserável tostão. Quem vai pagar é você.
O dinheiro sai de uma sem-vergonhice em curso na Câmara apelidada de "emenda cheque em branco" ou "Pix orçamentário". O parlamentar destina os recursos para uma cidade e não precisa dizer para quê. Também não há órgão nenhum que regule o emprego do dinheiro.
Essa modalidade de sacanagem começou em 2020, com R$ 620 milhões. Cresceu para R$ 2 bilhões no ano passado; neste, serão R$ 3,2 bilhões. E a farra vai se dar justamente no período eleitoral. Eis a moralidade bolsonariana, sob o comando de Arthur Lira, aplicada ao Orçamento. A patuscada de Janones está prevista para acontecer entre 15 e 25 de setembro, a uma semana da eleição. Estão convidados, claro!, os bolsonaristas Gusttavo Lima (olhem o homem aí) e Zezé di Carmargo & Luciano, além de João Neto e Frederico, João Bosco e Vinícius e da cantora gospel Fernanda Brum, que não sei que corneta tocam no Apocalipse...
Como as aberrações estão vindo a público, os flagrados com a boca na botija resolveram escolher o lugar da vítima: "Ah, estamos sendo perseguidos só porque não somos de esquerda e apoiamos Bolsonaro..." Uma ova! Em primeiro lugar, não há perseguição, mas relato do que está em curso. Sem segundo, podem apoiar quem lhes der na telha, mas deixando o dinheiro público fora da jogada.
Mas a coisa ainda não se esgotou porque existe a Lei Eleitoral. Artistas não podem fazer showmícios nem gratuitos — e gratuitos nunca são, mas têm autorização para fazer eventos para captar recursos, o que só abre a vereda para a confusão. Tratarei do assunto em texto específico.
Em entrevista à Folha, outro notório bolsonarista, Sérgio Reis, defendeu a prática. Segundo um juízo muito singular, o dinheiro da Prefeitura não é público. Já a Lei Rouanet, antes de Bolsonaro, ele achava mesmo uma barbaridade...
Um bolsonarista, afinal!