Mais os extremistas amigos do que os inimigos querem Bolsonaro na cadeia já
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A fina flor do bolsonarismo pretendia realizar neste domingo um grande ato público na Avenida Paulista. E alguns de seus nomes mais buliçosos lá estiveram. Jair Bolsonaro apoiou a manifestação, mas não compareceu. Seus aliados mais barulhentos disseram coisas do arco da velha. Vocês sabem o que penso sobre este senhor. Mas nunca afirmei que seja burro. É até bastante esperto. Não é possível que ignore que o jogo da turma do "pega-pra-capar" é vê-lo na cadeia para que se transforme em mártir e chamariz de votos.
Para esses valentes, seria excelente que fosse em cana antes ainda do pleito de 2024, desde que Michelle pudesse continuar a viajar o Brasil como a viúva de um vivo. Não sendo possível, que a prisão ocorra antes do pleito de 2026. Pensem bem. A fórmula seria poderosa: a mulher nos palanques a falar em nome de um "preso político", que "só queria a nossa liberdade". Esse a que chamam "Mito" não deve ser trouxa. Volto depois ao ponto. Vamos ao ato.
O ATO DESTE DOMINGO
Tenho aqui prints de matérias do Estadão e da Folha a falar de "centenas" de manifestantes. Pouco depois, um texto publicado neste UOL se referia a coisa de "mil pessoas". Mais tarde, "milhares". O Globo apelou a um "cálculo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) a partir de fotos aéreas tiradas na avenida entre 15h30 e 15h45". Chegaram a 13.321 pessoas, segundo "a aplicação do método chamado Point to Point Network, que identifica as cabeças de pessoas nas imagens".
Prestem atenção: "centenas", "mil" ou "13 mil — e ainda que fossem 30 mil —, o fato é que o protesto micou, qualquer que seja o número. No nicho de opinião da direita e da extrema-direita, a convocação contou com figuras influentes nas redes sociais, como o pastor Silas Malafaia e os deputados Nikolas Ferreira (MG), Carla Zambelli (SP), Ricardo Salles (SP), Sóstenes Cavalcante (RJ), Bia Kicis (DF) e Gustavo Gayer (GO), todos do PL.
O "leitmotiv" da convocação foi a morte na papuda, ocorrida no dia 20 deste mês, de um dos presos do 8 de janeiro. E eis que algo de espetacular se deu: os ditos "patriotas" resolveram fazer na "Defesa do Estado Democrático de Direito, dos Direitos Humanos e em Memória de Cleriston Pereira da Cunha". E nenhum deles repetiu, desta feita, acho eu, a máxima dos "direitos humanos para humanos direitos"...
Lula e Alexandre de Moraes foram os alvos principais do protesto. No caminhão de som, Nikolas mandou ver: "Alexandre, o povo não tem medo de você". Sóstenes também se referiu diretamente ao ministro: "Alexandre de Moraes, o seu tempo está chegando, e você vai pagar pela morte deste inocente". Malafaia acenou com a punição divina para o "Supremo Tribunal Político". Salles defendeu os arruaceiros: "Ninguém dá golpe num domingo num prédio vazio. Isso é balela. Os brasileiros têm o direito de se manifestar". Para o deputado, Lula é um "usurpador". Nas suas palavras: "Vamos nos livrar daquele que usurpou o lugar do verdadeiro presidente da República, Jair Messias Bolsonaro".
BOLSONARO NA CADEIA
Perceberam? Acima, há a contestação do resultado da eleição, feita por Salles -- nem o "Imorrível" toca mais nesse assunto --; o ânimo de confronto com o Supremo e a incitação permanente "Fora Alexandre". Ou por outra: alguns dos que pretendem se posicionar como seus fiéis o querem em rota de colisão com o tribunal; entendem que seu papel é partir para o confronto e para o choque; incitam-no a liderar, vamos ser claros, uma cruzada de caráter golpista (mais uma!), tendo a Corte como primeiro alvo. Para o ex-ministro do Meio Ambiente e aspirante à Prefeitura de São Paulo (aproveitou o ato para alvejar também o prefeito Ricardo Nunes), o capítulo da eleição de 2022 ainda não acabou.
Muito se diz que os adversários de Bolsonaro torcem para que vá para a cadeia. Dados os crimes que entendo que ele cometeu, parece-me o local adequado, depois do trânsito em julgado da condenação — caso não haja motivos para ser recolhido preventivamente. Acontece que sou, como é óbvio, um duro crítico do seu governo. Logo, é razoável que seja esse o meu pensamento.
Quando vejo a agenda desses que se querem do "bolsonarismo-raiz", a insuflar em termos e proposições inaceitáveis o confronto de seu líder com o STF, só posso entender que estão mais ocupados com a sua própria estratégia de poder do que em defender o seu "líder". Se este resolvesse ser a "vanguarda" das postulações que os barulhentos acham legítima, acabaria por ser enquadrado no Artigo 312 do Código de Processo Penal, o que poderia resultar na sua prisão preventiva.
BARBAS DE MOLHO
Eu, no lugar do marido da, a cada dia, mais desenvolta e personalista Michelle, botaria, para recorrer a um clichê, as barbas de molho. Ele sabe que não tem a menor chance de recuperar a elegibilidade em 2026. Logo, será preciso que outro desponte no seu território eleitoral. Ocorre-me que só o empurra para um confronto com os tribunais quem o quer preso para brandir um mártir. A esperança é que as ruas voltem a se inflamar.
Contem-nos, Nikokas, Zambelli, Salles... Se uma pessoa encostar o ouvido ao coração de vocês, atenta ao pulsar da lógica, há ou não há a possibilidade de ouvir o recôndito desejo de que o chefe vá em cana? Bolsonaro cair nessa ou não, convenham, é uma escolha.
ENCERRO
Quanto ao número de manifestantes, reitero: mesmo a hipótese maximizada caracteriza um mico. A coisa "flopou". Ao escrevê-lo, será que me junto àqueles que consideram que o bolsonarismo já morreu e que o dito "capitão" não representa mais perigo?
Muito pelo contrário. Isso é papo-furado dos "extremistas de centro". Fazem-no não exatamente porque ignorem os perigos da extrema-direita. Ocorre que reconhecê-los lhes imporia outra inserção no debate, forçando-os a uma aliança com o campo progressista, o que não querem de jeito nenhum.
Esse troço que Bolsonaro hoje lidera veio para ficar e é um perigo à democracia e ao Estado de direito, ainda que outro tome o seu lugar, e ele se torne o "mito encarcerado". Mais os amigos do que os inimigos estão ansiosos para ver seu guia no xilindró.
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