Reinaldo Azevedo

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Opinião

Lula solta o verbo sobre golpismo de Bolsonaro. Xiii... Lá vêm os corocas!

Comecei a contagem regressiva para que os corocas e as corocas de sempre, com seus dedinhos encarquilhados e, no limite do possível, nervosos comecem a bradar: "Vejam como Lula, a exemplo de Bolsonaro, não aposta na conciliação. Também ele quer a radicalização". É mesmo? Ainda voltarei a esse ponto.

E por que vão enveredar por aí? O presidente participou ontem da abertura da 4ª Edição do Fórum Nacional de Cultura, em Brasília, promovido pelo ministério da área. O tema: "Democracia e Cultura".

Num dado momento, afirmou:
"Não sei se vocês repararam que teve um ato no domingo passado [dia 25]. Aquele ato, o que é que era? Aquele ato é de um cidadão que sabe que fez caca, que fez uma burrice, que tentou dar um golpe e que ele vai para Justiça e que ele vai ser julgado e, se for julgado, ele pode ser preso e está tentando escapar".

Mais:
"A verdade nua e crua é que esse cidadão preparou um golpe para o país quando ele ficou trancado dentro de casa várias semanas, que gente não sabia se ele estava chorando. Ele estava preparando um golpe, tentando imaginar como é que ele ia fazer para não deixar o presidente eleito tomar posse".

E ainda:
"Eu acho que ele se borrou de medo e resolveu ir embora para os Estados Unidos para não ver a posse. Ele imaginava que as pessoas que ele pagou, organizou e ajudou a financiar para ficar na porta dos quarteis... [ele] achava que essa gente ia dar o golpe, [para que] ele fosse ungido pelo povo fascista deste país a voltar nos braços do povo, para assumir a Presidência da República. Era isso que ele estava desenhando e [foi] isso que não aconteceu".

LULA DEVERIA TER SE CALADO?
Ah, os corocas, especialistas na "análise nem-nem" -- para demonstrar a sua "Isenção de Denominação Controlada" -- avaliam que Lula deveria deixar a questão para a Justiça e se abster de fazer comentários. É mesmo? Ele, por acaso, resolveu tomar o lugar da Justiça? Até onde sei, está falando uma linguagem política -- e o homem é, não custa notar, um político.

Todos os elementos que vieram a público corroboram a sua leitura, incluindo, até onde se sabe, os respectivos depoimentos de dois ex-comandantes militares: Freire Gomes, do Exército, e Batista Júnior, da Aeronáutica. Preciso lembrar quem era o alvo? Em nome da dita "pacificação", deve um líder político se abster de esconjurar conspirações?

É uma avaliação ridícula.

Digam-me cá: o que o atual presidente fez contra a democracia para que possa ser acusado, junto com o antecessor, de contribuir para a radicalização e para o extremismo? Ameaçou dar golpe de Estado? Tentou conspirar para continuar no poder, ao arrepio das urnas? Convocou entes do Estado, incluindo as Forças Armadas, a rasgar a Constituição, por intermédio de falsos motivos, para decretar estado de defesa ou estado de sítio?

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Lula é aquele que chamou as massas para intimidar a Justiça ou, ao contrário, é a personagem que, mesmo diante de uma condenação sem provas, passou 580 dias encarcerado, escolhendo a Justiça, ela sim!, como campo de batalha, jogando dentro das regras, ainda que tenha sido privado, na canelada, de disputar a eleição de 2018?

Associá-lo a Bolsonaro é de uma indecência intelectual assombrosa. Não! O líder petista não tentou dar um golpe. Ele foi o golpeado em 2018 e era alvo da conspiração de 2022. E querem exigir seu silêncio?

LAVA JATO
O presidente também fez um comentário sobre a Operação Lava Jato e criticou a imprensa:
"A imprensa brasileira vai continuar mentindo sobre a Lava Jato até o fim do milênio (...) Eles compraram e santificaram algumas pessoas e agora perceberam que as pessoas não eram os santos que eles imaginavam e eles não têm coragem de reconhecer."

E foi adiante:
"Não é nem falar mal; é só reconhecer; é só dizer que não era daquele jeito; é só dizer que as coisas eram viciadas, para a gente politizar a sociedade brasileira, informar corretamente e para que as pessoas fiquem sabendo das coisas".

Não conto aqui nenhum segredo ao escrever que fui e sou crítico do comportamento da imprensa durante a Lava Jato. Fez-se uma espécie de parceria com um juiz incompetente — desde a origem, o que sempre apontei — e depois escancaradamente suspeito em nome do combate à corrupção.

Alguns setores se redimiram um tanto quando se juntaram ao "Intercept Brasil" nas reportagens da chamada Lava Jato, o lavajatismo renitente está aí e se manifestou em reportagens lembrando os 10 anos da operação. Não faltaram loas e hinos de glorificação de uma operação que regou a terra da ascensão fascitoide em 2018.

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E, como efeito, não se viu, até agora, nem mesmo um "a gente exagerou um pouco". Nem se verá.

ISRAEL
Lula estava disposto. Tirou foto ao lado de uma bandeira da Palestina e comentou:
"Vocês tão lembrados, há 20 dias, como eu apanhei pelo que eu falei da Palestina. Vocês estão lembrados. Com o tempo, a gente vai provar que eu estava certo. O povo palestino tem o direito de viver, de criar o seu país. Você não pode fazer o que foi feito: anunciar comida e mandar torpedo, mandar bala e morte para aquelas pessoas. Até quando a gente vai ter medo? Até quando a gente vai se curvar?"

Pois é... Depois de tamanha demonização, inclusive na imprensa nativa, seria de imaginar que o líder brasileiro houvesse se tornado um pária internacional. Deu-se justamente o contrário. Quem está ficando progressivamente isolado é Benyamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense. Mas não se dá por achado. Seus soldados abriram fogo contra uma legião de esfomeados em Gaza. Ontem, as Forças de Defesa de Israel fizeram uma das maiores incursões dos últimos tempos num campo de refugiados de Hamallah, na Cisjordânia, cidade que é administrada pela Autoridade Nacional Palestina — que o primeiro-ministro israelense busca desmoralizar a todo instante para anunciar ao mundo que ele não tem compromisso nenhum com a criação do estado palestino. Já morreram 400 pessoas numa área em que, em tese, a guerra não está. Quem assombra o mundo é o mandatário de Israel, não o do Brasil.

ENCERRO
Comecei a contagem regressiva. Quem será o primeiro coroca ou a primeira coroca a afirmar que Lula investe na radicalização e na polarização ao fazer tal discurso? Então não deve falar como um político, se comportar como um político e ver o mundo como um político, ainda que seja um... político?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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