Reinaldo Azevedo

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Opinião

Facada e tiro são reais, mas com farsa histórica; mais um absurdo de Milei

Vêm coisas feias e perigosas por aí.

Quando gente como Jair Bolsonaro e Donald Trump leva facada ou tiro, produz-se um fato verdadeiro e uma farsa histórica. Não é mera frase de efeito. Ambos são vítimas, como resta evidente. Mas um e outro, por intermédio de seus respectivos discursos e práticas, incentivam a violência, o confronto e a discriminação. E, no entanto, seus agressores lhes facultam a chance de apontar o dedo para os adversários, como a desafiar: "Quem atacou e uem foi atacado?", como se a agressão que sofreram — e é muito grave! — amenizasse a desordem institucional que promovem.

"Está culpando os dois pelo mal que os colheu, Reinaldo?" Não. Apenas coloco cada qual em seu lugar. No Brasil ou nos EUA, quem articula um discurso que transforma o adversário político num inimigo a ser eliminado? Quem atua para enfraquecer as instituições e para subordiná-las à vontade do governante de turno? Quem estimula a disrupção e o ataque ao estado de direito? A facada contra Bolsonaro e o tiro contra Trump não os transformarão em porta-vozes da civilidade. Ao contrário: apenas dão a notórios truculentos a prerrogativa de falar como vítimas.

O presidente da Câmara dos EUA, o trumpista Mike Johnson, que conspirou contra o resultado das eleições em 2020, já lembrava ontem, ainda que de modo oblíquo, que os órgãos federais encarregados da segurança de candidatos e de ex-presidentes estão sob o comando do governo democrata, o que serve para alimentar os delírios nas redes sociais, que tentam atribuir a Joe Biden a responsabilidade pelo ataque.

Um palhaço como Javier Milei, presidente da Argentina, com ambições de ser um bufão internacional, escreveu o seguinte no X:
"Todo o meu apoio e solidariedade ao presidente e candidato Donald Trump, vítima de uma tentativa COVARDE de assassinato, que colocou em risco a sua vida e a de centenas de pessoas. Não surpreende o desespero da esquerda internacional, que hoje vê morrer sua ideologia nociva, e está disposta a desestabilizar as democracias e a promover a violência para se manter no poder. Com medo de perder nas urnas, recorrem ao terrorismo para impor a sua agenda retrógrada e autoritária. Espero a rápida recuperação do presidente Trump e que as eleições nos Estados Unidos sejam realizadas de forma justa, pacífica e democrática."

Ele já investigou, identificou os responsáveis e pediu a cabeça dos "esquerdistas de sempre".

Ainda que de modo um pouco mais moderado, a nota oficial do governo também apela ao proselitismo ideológico:
"A bala que passou perto de sua cabeça não é apenas um ataque à democracia, mas também a todos os que defendemos e habitamos um mundo livre."

Por alguma razão, o presidente da Argentina vê o Ocidente sob ameaça:
"A República da Argentina reafirma seu compromisso inquebrantável com a defesa da liberdade, da democracia e dos valores do Ocidente e faz um chamado à comunidade internacional para que condene energicamente este atentado e se uma na luta contra os inimigos da liberdade".

Não fosse Milei convocar, e o mundo se calaria.

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O QUE VEM POR AÍ?
Vamos ver qual será o primeiro discurso de Trump. Atuará para baixar a tensão, o que nunca fez, ou voltará o dedo acusador para o governo e, como quer Milei, para as esquerdas?

Cumpre lembrar que, antes mesmo desse atentado, o republicano já vinha prometendo um governo de retaliação dos adversários.

O delinquente que atirou contra Trump, qualquer que seja a sua motivação subjetiva, prestou, objetivamente, um serviço à extrema-direita. "E se tivesse matado Trump?" Obviamente, seria tudo ainda pior.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.