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Datafolha mostra que apoio de evangélicos a Bolsonaro é oco
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Pesquisa Datafolha divulgou ontem que, para 43% dos evangélicos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o melhor presidente que o Brasil já teve, enquanto menos da metade disso (19%) prefere o atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL).
A pesquisa também mostra que, em comparação com sondagens anteriores, o apoio de evangélicos a Bolsonaro caiu de 40% para 32%. Ainda que o empate técnico entre Lula e Bolsonaro continue basicamente o mesmo entre os evangélicos, é nítido o quanto ele se desconecta da base evangélica popular.
Vai ficando cada vez mais claro que a bolha de apoio criada por Bolsonaro se tornou uma "representatividade oca". Com isso, quero dizer que ela sobrevive muito mais no imaginário coletivo pelo estardalhaço e performance protagonizados por lideranças evangélicas bolsonaristas, que lutam para sustentar a ideia de que esse apoio é forte, determinante e crescente.
Os pastores bolsonaristas, arquitetos de um nacionalismo cristão brasileiro, investem na imagem de que eles são proprietários do povo evangélico. Eles precisam disso e esta é a única coisa que podem fazer. Eles precisam blefar um grau de influência e controle sobre a vida de seu rebanho, o que, na maioria das vezes, não condiz com a realidade.
O que sustenta essa 'miragem'
Ainda assim, essa imagem continua prevalecendo, e esse talvez seja o ponto crucial em que as forças progressistas carecem de um pouco de sensibilidade para entender a miragem. Mas esse imaginário não sobrevive do nada. Ele tem os seus fatores de sustentação.
Primeiro, essa imagem é sustentada, claro, pelas próprias lideranças fundamentalistas, ultraconservadoras e que estão abraçadas até o fim com o bolsonarismo.
Das teatrais performances de Silas Malafaia à discrição estratégica da Anajure (Associação Nacional dos Juristas Evangélicos), da poderosa mídia do bispo Edir Macedo aos diversos portais gospel, tudo é feito para fazer crer que "os evangélicos" estão com Bolsonaro.
Segundo, a própria mídia. Grande parte da imprensa gosta de explorar essa representatividade oca. Em grande parte, eles são orientados pelos números que as instituições apresentam. A conta é que, se o número de fiéis da Universal é 1 milhão, todas essas pessoas estão comprometidas com a escolha política reacionária e neoliberal de Edir Macedo.
Essa visão estereotipada de que os membros de uma determinada denominação seguem piamente o que a sua liderança diz sobre política e vida privada falha preguiçosamente.
Jornalistas parecem estar mais interessados na publicação dos discursos do que na investigação sobre como o projeto de poder fundamentalista funciona e se articula.
Terceiro, é que, o segundo ponto, gera uma compreensão equivocada que é capaz de ver uma simetria entre o projeto de poder de Silas Malafaia e Edir Macedo e a pastora da Assembleia de Deus do sertão de Alagoas, que é costureira durante a semana, ou o pastor da Igreja Universal do Salgueiro, em São Gonçalo, que é pedreiro durante a semana.
É como se os quatro fizessem parte de um mesmo arranjo, integrassem o mesmo plano. Essa visão é impregnada do preconceito de que sobretudo o povo pobre pentecostal não é capaz de fazer as suas próprias análises políticas e de conjuntura, e que a comunidade de fé não lhe dá outros sentidos.
A pesquisadora Silvia Gonçalves mostrou em seus estudos como mulheres pobres evangélicas votaram e permanecem firmes com a intenção de voto em Lula. O pesquisador Caio Marçal tem um estudo profundo sobre a presença e liderança pentecostal na ocupação Rosa Leão em Belo Horizonte, esperando ansiosamente a saída de Bolsonaro.
Por último, os debates sensíveis para grande parte dos evangélicos, são debates sensíveis para o toda da sociedade e exigem metodologias e afetos específicos para lidar com eles. Não é fácil falar de legalização das drogas na favela —seja a família favelada evangélica ou não. E as famílias têm suas razões e suas leituras da vida.
Então, pensando nisso, o primeiro passo a ser dado é desfazer a representatividade oca. Expor o quanto essa desidratação não pertence apenas a Bolsonaro, mas ao projeto fundamentalista, ultraconservador, o arremedo brasileiro de nacionalismo cristão da direita religiosa americana.
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