Ronilso Pacheco

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Opinião

O 'último ato' de Bolsonaro foi o fracasso de uma aposta

O ex-presidente Jair Bolsonaro se expôs a ser colocado no lugar de irrelevante com o ato deste domingo, 16 de março.

Não importa se o ato reuniu 18.000 pessoas, como informou o grupo de pesquisa da USP, ou 30.000, como indicou o Datafolha. De fato, é claramente impossível que tivessem 400 mil pessoas em Copacabana, como informou a contagem da PM.

As imagens do auge do ato não permitem ter essa dimensão. A PM não explicou como chegou a esse número. Não explicou por uma razão óbvia: não tinha como chegar a este número.

Mas aqui essa quantidade para menos ou para mais (muito mais) importa pouco. Aqui, o mais relevante é que Bolsonaro se empolgou com a mobilização que foi se construindo para o ato.

Bolsonaro confiou tanto nela que se arriscou a projetar mais de meio milhão de pessoas para estarem em Copacabana em sua defesa. Sim, em sua defesa, ainda que o discurso público seja a defesa das pessoas "humildes" condenadas pelo vandalismo contra a democracia no 8 de janeiro.

O ato se tratava de uma aposta. Era uma aposta sobre a capacidade de engajamento do bolsonarismo, a capacidade de mobilização de Bolsonaro como líder popular.

Era uma aposta sobre o poder de adesão que a causa da anistia teria junto à população, aos apoiadores do ex-presidente. Uma aposta de que, após a eleição de Donald Trump, ter mendigado sua atenção e, sobretudo, a atenção de Elon Musk, Bolsonaro se fortalecera popular e politicamente.

O ato era uma aposta de que Bolsonaro é quem de fato dá as cartas na direita brasileira, a partir da extrema-direita onde ele está. Uma aposta de que, havendo meio milhão de pessoas, ou quem sabe um milhão, essa imagem poderosa faria Alexandre de Moraes, e todo o Supremo Tribunal Federal, recuarem.

Uma aposta de que a narrativa de que a maioria das pessoas presas no 8 de janeiro era apenas pessoas de bem que foram para Brasília apenas para orar, rezar, citar versículos. Quem depredou? Quem depredou foram os outros. Quais outros? Bolsonaro desconhece.

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Pois bem, a aposta fracassou. Eu não quero afirmar que o ato fracassou. Não acho que tenha fracassado. Talvez qualquer outro nome da direita brasileira teria reunido 10 mil e não 18, 15 mil e não 30.

O problema é que o ato veio como uma aposta, e a aposta fracassou. A julgar pelo ato, a anistia definitivamente não é uma preocupação nacional popular, e não provoca engajamento.

Nitidamente, Bolsonaro não teve o apoio que esperava, e isto estava claro. Isto é diferente de dizer que Bolsonaro está acabado. Ele claramente é um líder político de extrema-direita popular.

Mas, se toda a narrativa sensacionalista criada em torno dos presos condenados pelo ataque no 8 de janeiro tinha a intenção de ser testada no ato deste domingo para demonstrar a força que Bolsonaro tem no jogo político, ela falhou desgraçadamente.

Em Copacabana, um ato sem energia, discursos distópicos que pareciam ter saídos de uma Marcha Para Jesus, um show de mais do mesmo, com a histeria de Malafaia de um lado, e o devaneio de Magno Malta do outro.

Já nesta segunda-feira, este ato será esquecido. Morrerá primeiro na memória popular, nos comentários do dia a dia. Morrerá depois nas redes sociais.

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No jogo político real, Bolsonaro pode virar réu em julgamento no STF no dia 25 de março, e este ato de domingo se mostrou pouca ou nenhuma capacidade de pressionar por um resultado favorável ao ex-presidente.

No jogo político real, Bolsonaro não é o mártir que diz ser, e sabe que precisará mais do que a bajulação de Silas Malafaia para seguir sendo relevante politicamente.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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