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Em região sob tensão, mundurukus exigem que governo retire invasores
Uma invasão garimpeira com homens armados no igarapé Baunilha, dentro do território indígena Munduruku, em Jacareacanga (PA), acirrou o clima de tensão na região. Poucos dias antes, os indígenas produziram uma carta na qual informaram que estão sendo obrigados a fazer a fiscalização do território por conta própria e exigiram a atuação de órgãos do governo a fim de expulsar os invasores.
Segundo as lideranças mundurukus, uma minoria de indígenas "aliciados" por garimpeiros apoia as invasões. Uma liderança munduruku, que pediu para não ter o nome divulgado por temer represálias, disse à coluna: "A gente está no momento de uma pandemia e de uma invasão muito grande no território". Ela falou com os indígenas que foram ao córrego Baunilha verificar a extensão da invasão e disse que pelo menos uma máquina retroescavadeira foi levada pelos garimpeiros para perto de uma aldeia.
"Pedimos que as autoridades tomem providências porque qualquer coisa pode acontecer com nossos guerreiros. Então será a culpa do Estado que nunca fez a fiscalização dentro do nosso território", disse a liderança.
Nos últimos dias, o MPF (Ministério Público Federal) no Pará divulgou dois textos para alertar e pedir providências sobre a invasão no território. O MPF divulgou dois vídeos que mostram um grupo de homens empunhando armas de fogo e um helicóptero que estaria dando suporte à invasão. Um dos vídeos registra um homem carregando uma arma de fogo longa e gritando contra indígenas de uma aldeia. O MPF pediu providências aos órgãos do governo federal por temer um conflito violento dentro do território.
Na carta, os mundurukus relataram que já fizeram duas fiscalizações próprias neste ano, com três acampamentos em 15 dias de expedição na selva. Eles estiveram na região do igarapé Baunilha. "Este igarapé está na rota da destruição pela invasão garimpeira. Nossa fiscalização é construída pela aliança entre caciques, mulheres, lideranças e as nossas organizações de resistência. Sabemos que estamos indo no caminho certo, porque estamos cumprindo nosso papel e obrigação de proteger o território porque assim a gente vai aprendendo e as futuras gerações também aprendem."
De acordo com os mundurukus, contudo, só uma ação do Estado pode impedir o prosseguimento da destruição do território.
"Não precisamos esperar pelo governo, temos nossa capacidade ainda para proteger o território. Já pedimos, solicitamos presença dos órgãos responsáveis em fiscalizar nosso território e não tivemos resposta. Porém continuamos EXIGIR do MPF, Funai, Ibama, PF que apoiem nossas fiscalizações e expulsem os invasores de nossas terras. Não podemos ficar parados vendo o aumento das invasões em nosso território. Ainda existem os grandes projetos do governo que tem interesse próprio para destruir nosso território, por isso temos que resistir", diz a carta dos indígenas.
A carta prossegue:
"Nossos caciques da resistência estão muito revoltados, já não conseguem mais dormir direito como dormiam antes, preocupados do que será de sua aldeia, das suas crianças e do futuro de todos nós. Mesmo com a pandemia, temos que sair para essa vigilância no território para não permitir a invasão entrar. Esse é o papel do cacique, todo nosso território está na memória, sabemos muito bem por onde ir, somos nós que conhecemos o território.
"Vamos continuar independentes na proteção de nosso território. Mesmo se não tivermos resposta, vamos continuar guerreiras, guerreiros, caciques e pajés. Seguimos nossa luta com ajuda dos nossos espíritos que nos guiam e dos nossos pajés, nossas organizações do povo Munduruku que estão juntas na defesa do território.
"Defendemos nosso território porque os nossos espíritos são relacionados com a terra, rio, floresta, animais e peixes, além disso existe um grande hospital aberto para os tratamentos de diversas doenças. Terra protegida também é o Grande professor para aprender tudo que têm nela.
"Estamos lutando como nossos antepassados lutavam, igual eles ficavam andando, eles não cansavam e nós também não estamos cansados dessa luta, eles demarcaram a nossa terra. Esse igarapé é nosso. Esse território é nosso. Os pariwat [não indígenas] falam que os Munduruku não têm mais espíritos só tem negociadores, temos sim os espíritos dos nossos antepassados conosco e estamos resistindo porque nossos antepassados também resistiram e assim vamos manter as futuras gerações."
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