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Saída de diretor para disputar eleição deixa Abin em transição tumultuada
A saída do diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o delegado da Polícia Federal Alexandre Ramagem, para disputar uma eleição - uma situação inédita na história do órgão, criado em 1999 - deixou para trás uma transição administrativa turbulenta, cujo desfecho é incerto.
A direção foi assumida interinamente pelo número dois do órgão, outro delegado da PF apoiado por Ramagem, o diretor-adjunto Carlos Afonso Gomes Coelho, mas o governo anunciou internamente que na verdade o novo diretor será outro, o oficial de inteligência da Abin e ex-capitão do Exército Victor Felismino Carneiro, que atua na superintendência da agência no Rio e é igualmente apoiado por Ramagem. Porém, o novo diretor precisa passar por uma sabatina no Senado, sem prazo para ocorrer.
A Abin trabalha hoje sob o comando de um interino supostamente passageiro e à sombra de um diretor escolhido mas ainda não empossado. Uma saída em estudo, por sinal esdrúxula, seria deslocar o atual adjunto, Gomes Coelho, para outro cargo comissionado dentro do órgão e nomear Carneiro como diretor-adjunto. Como adjuntos não passam por sabatina, a audiência no Senado seria evitada. A manobra poderia até dar certo, mas representaria um verdadeiro drible no papel legal do Congresso Nacional.
A indefinição sucessória jogou a Abin num ambiente de muitas dúvidas. Os servidores haviam sinalizado concordar com outro nome na direção, o oficial de inteligência de carreira Edgar Ribeiro Dias, ex-superintendente da Abin em São Paulo. Era um nome que, segundo a coluna apurou, também era aceito pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional). Mas de repente apareceu o nome de Carneiro, que teria também o apoio da família Bolsonaro, por ser do Rio e com passado militar.
Ramagem deixou a direção da Abin no último dia 31. Dias antes, quando ainda estava no cargo, ele se filiou ao PL (Partido Liberal) e posou para vídeos e fotografias ao lado do presidente Jair Bolsonaro e do presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, um dos principais políticos envolvidos no escândalo do mensalão, em 2005.
Na Abin esperava-se que a saída de Ramagem seria seguida pela devolução à Polícia Federal dos diversos policiais federais que Ramagem levou com ele para a agência, mas esse movimento não está acontecendo, o que é fonte de outro descontentamento interno. Pelo contrário, a permanência de Coelho e a possível nomeação de Carneiro mostram que a influência de Ramagem, mesmo fora do órgão, continua relevante sobre os rumos da agência de inteligência.
Após deixar o cargo na Abin na última quinta-feira (31), Ramagem publicou em uma rede social, em 2 de abril, o anúncio de sua pré-candidatura a deputado federal pelo Rio de Janeiro "com apoio do nosso presidente Jair Bolsonaro".
Ramagem também compartilhou uma nota conjunta da Aofi (Associação Nacional dos Oficiais de Inteligência) e da Asbin (Associação dos Servidores da Abin) pela qual desejaram ao ex-diretor "sucesso em sua nova fase e nos futuros desafios". A nota diz que Ramagem "empenhou-se em garantir assessoramento oportuno por parte da agência às altas autoridades da República" e que na sua gestão na Abin "houve significativa atualização dos meios técnicos da agência", além de "portas abertas para o diálogo" com os servidores.
A nota, porém, "reitera que a ocupação do cargo de diretor-geral da Abin deve ser privativo [a] de oficial de inteligência, à semelhança do que ocorre em outros órgãos de Estado, civis e militares - inclusive no órgão do qual Ramagem é originário", a Polícia Federal, que desde os anos 90 é dirigida por um delegado da PF.
"Essa necessidade, reconhecida no Projeto de Lei nº 648/2022 que tramita na Câmara dos Deputados, representa a melhor forma de expressão do princípio do profissionalismo, além de favorecer a observância das necessidades técnicas da área e a defesa permanente dos interesses do Estado brasileiro", diz a nota. Ao compartilhar a mensagem, Ramagem não comentou a nota.
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