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Tales Faria

OPINIÃO

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Faltou educação e sobrou má educação aos ministros da Educação de Bolsonaro

Bolsonaro (à esquerda) e Milton Ribeiro em evento no Planalto - Clauber Cleber Caetano/Presidente da República
Bolsonaro (à esquerda) e Milton Ribeiro em evento no Planalto Imagem: Clauber Cleber Caetano/Presidente da República

Colunista do UOL

23/03/2022 08h38

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Já foram quatro os ministros da Educação escolhidos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), mas que não deram certo. Não se pode dizer que as substituições tenham ocorrido por desacordo entre os indicados e o presidente da República.

O atual ministro, Milton Ribeiro, por exemplo, está ameaçado de deixar o cargo não por atacar Bolsonaro, mas, sim, por respeitar as ordens do chefe.

Segundo reportagem publicada pela Folha de S.Paulo, o Ministério da Educação prioriza a liberação de recursos a prefeituras indicadas por dois pastores que não têm cargos oficiais no governo —Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura Correia. Em gravação obtida pelo jornal, Ribeiro disse que fazia isso atendendo a uma solicitação do presidente.

No mínimo, digamos assim, faltou educação jurídica e de administração pública ao ministro. É malversação de recursos entregar verbas públicas à gestão de não funcionários. Também pode ser classificado como crime de improbidade administrativa.

Ribeiro sucedeu um ministro que não chegou a tomar posse devido, digamos, à falta de educação acadêmica. Para não dizer falta de ética.

Carlos Alberto Decotelli teve sua nomeação para o cargo de ministro da Educação publicada pelo presidente da República no Diário Oficial em 25 de junho de 2020. Mas descobriu-se que havia divulgado várias informações falsas em seu currículo.

Acabou afastado cinco dias depois, em meio a um crescente mal-estar causado por descobertas sucessivas de deturpações sobre os cursos que dizia ter completado.

Mas o recordista em falta de educação do Ministério foi o antecessor de Decotelli. Trata-se de Abraham Weintraub. Era o queridinho de Bolsonaro no comando da pasta.

Weintraub xingou professores e estudantes universitários de maconheiros e distribuiu impropérios contra adversários do governo em geral. Até que xingou de vagabundos ministros do Supremo Tribunal Federal, durante uma reunião ministerial em que foi filmado.

Criou tanto mal-estar com sua falta de educação que obrigou o presidente Jair Bolsonaro a demiti-lo. E vamos combinar que Bolsonaro não é um primor de falas educadas. Afastou Weintraub a contragosto.

Antes deste, o primeiro ministro da Educação de Jair Bolsonaro, foi Ricardo Vélez Rodríguez. Havia sido indicado para o cargo por Olavo de Carvalho, o autointitulado filósofo que, antes de sua morte, chegou a ser reverenciado como guru do governo. Olavo defendia que se respondesse com palavrões e impropérios às críticas de quem ele considerasse comunista.

Vélez incorreu na mesma prática de currículo fake de Milton Ribeiro. Havia pelo menos 22, digamos, equívocos em seu currículo Lattes na época em que ainda comandava a pasta, em março de 2019.

Os erros diziam respeito à produção bibliográfica, livros atribuídos à sua autoria, mas que não eram seus, obras listadas fora do formato padrão, e artigos publicados em periódicos que não são científicos.

O ministro declarou, em entrevista à revista Veja, simplesmente o seguinte: "O brasileiro, viajando, é um canibal. Rouba coisa dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião. Ele acha que pode sair de casa e carregar tudo."

Enfim, a pasta da Educação se tornou abrigo para atos não muito educados, ou muito mal-educados dos seus gestores.