IBGE não manipulou dados para reduzir taxa de desemprego no Brasil

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) não manipulou dados e omitiu números do Bolsa Família para reduzir a taxa de desemprego no Brasil, como alegam posts enganosos compartilhados nas redes sociais.

A metodologia utilizada pelo IBGE para calcular a porcentagem de desempregados no país obedece às recomendações da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e não está relacionada a qualquer programa social do governo.

O que diz o post

A publicação reproduz o título de uma suposta reportagem: "IBGE 'maquiou' números e escondeu 44 milhões de pessoas para reduzir o número de desempregados". O post acusa o instituto de excluir de forma proposital 37 milhões de pessoas, beneficiárias do Bolsa Família, do total de 7 milhões de desempregados apontado pelo órgão no 3º trimestre de 2024.

Abaixo, há o seguinte texto: "IBGE do PT garantindo desemprego baixo no Brasil". Ao fundo, há um vídeo mostrando uma pessoa sendo maquiada como um palhaço.

Por que é falso

IBGE usa metodologia definida pela OIT. O instituto utiliza a mesma fórmula para calcular a taxa de desemprego no Brasil desde 2012, quando iniciou a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua). Trata-se de uma metodologia definida e recomendada pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) (aqui).

Cálculo da taxa de desemprego não leva em conta inscrição no Bolsa Família. "O desemprego, de forma simplificada, se refere às pessoas com idade para trabalhar (acima de 14 anos) que não estão trabalhando, mas estão disponíveis e tentam encontrar trabalho. Assim, para alguém ser considerado desempregado, não basta não possuir um emprego", explica o IBGE (aqui). O órgão ainda ressalta que "o recebimento de algum benefício de programas sociais, como por exemplo: bolsa família, benefício de prestação continuada (BPC), seguro desemprego etc, não tem correlação direta com a ocupação ou desocupação".

IBGE leva em consideração critério de desocupação. O instituto explica que entram na conta da taxa de desemprego "aqueles indivíduos que tentaram e não conseguiram encontrar trabalho no período de referência, mas estavam disponíveis para começar um trabalho. Os que não estão ocupados, mas não buscaram vaga ou não estavam disponíveis para começar a trabalhar, são considerados fora da força de trabalho e não entram no cálculo". O IBGE reforça que segue os padrões definidos pela OIT: "De acordo com as recomendações internacionais, o trabalhador que não exerça atividade produtiva, para ser considerado como desocupado, precisa ter realizado busca efetiva e estar disponível para o trabalho. Caso uma dessas condições não seja observada, ele não será considerado desocupado, mas classificado fora da força de trabalho"

Secom fala em "preconceito de classe". Em nota oficial (aqui), a Secom (Secretaria de Comunicação Social) do governo federal afirma que os posts desinformativos reforçam uma visão deturpada sobre quem recebe benefícios sociais: "Num equívoco flagrante, conteúdos que opõem o número de inscritos no programa de transferência de renda com o número de empregados de alguma unidade da federação brasileira estão deixando de fora da conta as pessoas empregadas que também são beneficiárias do Bolsa Família. (...) Vale apontar nessa tese desinformativa o preconceito de classe implícito que vincula o Bolsa Família com uma postura de comodidade pelos atendidos que não procurariam emprego contando com o benefício".

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Mais da metade das famílias que recebem Bolsa Família tem um membro trabalhando. As publicações enganosas tentam vincular 37 milhões de pessoas beneficiadas com o programa ao desemprego. De acordo com dados de novembro de 2024 do Observatório do Cadastro Único, o Bolsa Família beneficia 20,8 milhões de famílias, o que equivale a 54,3 milhões de pessoas atendidas. Em 12 milhões destas famílias, pelo menos um membro delas está trabalhando (aqui). Segundo o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, 13,4 milhões dos beneficiários do Bolsa Família estão empregados. Como explicado pelo IBGE, há casos de beneficiários que podem fazer parte do mercado informal ou não tenham tomado providências para buscar um emprego - portanto, pelos critérios do instituto, estas pessoas não são consideradas desempregadas.

Estudo aponta contratação de beneficiários do Bolsa Família. Levantamento realizado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) indica que, das mais de 3,4 milhões de contratações realizadas entre janeiro de 2023 e setembro de 2024, 71,11% (cerca de 2,4 milhões de pessoas) foram de beneficiários do Bolsa Família (aqui).

Taxa de desemprego no Brasil atingiu menor nível histórico. Segundo dados da Pnad Contínua, o índice de desemprego no país foi de 6,1% no trimestre móvel encerrado em novembro, o menor desde janeiro de 2012 (aqui).

Viralização. Um dos posts desinformativos tinha mais de 2,5 mil curtidas até a tarde desta terça (7).

Este conteúdo também foi checado por Aos Fatos e Estadão.

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