Topo

Enchentes aprofundam pobreza e minam desenvolvimento em Alagoas e Pernambuco

Enchente do Rio Mundaú causa estragos em Rio Largo (AL); <strong>veja mais imagens</strong> - Antônio Cruz/Abr
Enchente do Rio Mundaú causa estragos em Rio Largo (AL); <strong>veja mais imagens</strong> Imagem: Antônio Cruz/Abr

Carlos Madeiro

Especial para o UOL Notícias <BR> Em Maceió

27/06/2010 07h00Atualizada em 27/06/2010 13h18

As chuvas que atingiram 87 municípios de Alagoas e Pernambuco castigaram uma região marcada pela pobreza acima da média do Nordeste e que, por conta da destruição, passa a se caracterizar por um quadro de completa miséria. Ao todo, 51 pessoas morreram dos dois Estados e mais de 150 mil tiveram que deixar suas casas.

 Segundo o economista e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Cícero Péricles, os municípios atingidos pelas chuvas e enchentes possuem alguns dos menores IDHs (Índices de Desenvolvimento Humano) e rendas per capita do país.

“Essa região atingida é caracterizada por sua pobreza econômica e concentração de terras. A própria localização das casas, em áreas não indicadas para construção, reflete isso. O prejuízo maior chega pela redução de seus estoques de residências, pela diminuição de sua rede comercial e destruição de seus equipamentos públicos”, afirmou.

Para ele, a destruição vai além e freia, nessas cidades, uma retomada de crescimento econômico que acontece o Nordeste graças às políticas federais e de transferência de renda, como o Bolsa Família e aumento real do salário mínimo nos últimos anos.

“Aquele morador que ampliou a casa, ou que aumentou o ponto comercial, ou que investiu em um negócio, perdeu tudo. Essas pessoas deixam a situação de classe média baixa ou pobreza e passam a ingressar a miséria”, disse o economista. 

Pobreza extrema
Mesmo localizados em Estados pobres, as cidades atingidas pelas cheias possuem por índices sociais e econômicos ainda mais baixos que o restante dos Estados. Em Pernambuco, que tem IDH de 0,705, os municípios de Cortês (0,582), São Benedito do Sul (0,549) e Barra de Guabiraba (0,554), que decretaram calamidade pública, são exemplos de pobreza extrenma e possuem índices bem menores que a média estadual.

Em Alagoas, a situação é ainda pior. Com o segundo pior IDH do país (0,649), os dois municípios que perderam praticamente toda sua área urbana possuem IDH bem abaixo da média estadual e no final da lista nacional: Branquinha (0,513) e Quebrangulo (0,574).

Para Péricles, enquanto os demais municípios desses Estados vão seguir na recuperação dos índices, as cidades atingidas vão recomeçar praticamente do zero. “Essa tragédia deixa a região ainda mais pobre e dependente de recursos públicos. Todos os esforços nos próximos meses e anos serão dedicados não ao desenvolvimento de sua economia e superação de seus indicadores sociais, mas a reconstrução desse patrimônio perdido”, afirmou Péricles.

Com os comércios destruídos na maioria dos casos, as cidades perderam praticamente toda a renda que circulava no município, o que agrava ainda mais a pobreza. “A renda per capita dessas localidades reflete essa pobreza extrema: enquanto o Nordeste, a região mais pobre do país, apresentava, em 2007, uma renda per capita [anual] de R$ 6.748,81, Barra de Guabiraba tinha apenas R$ 2.997, São Benedito do Sul R$ 3.221; Quebrangulo com R$ 3.039 e Branquinha apenas R$ 2.844. Esses índices tendem a diminuir ainda mais”, disse.

O economista lembra que as regiões sul de Pernambuco e norte de Alagoas já possuíam infra-estrutura deficiente. “Neste sentido, o impacto das enchentes é muito grande, decorrente da destruição de trechos de estradas e pontes, queda de linhas de transmissão de energia elétrica e de torres de telefonia, assim como de partes da ferrovia, que liga Recife a Maceió, em processo recente de recuperação, já que está paralisada desde 2000”, afirmou o economista.

Péricles cita ainda que, apesar da grande destruição das áreas urbanas, o setor rural não foi atingido pelas enchentes, o que é um fato importante. “A produção agrícola, principal atividade econômica local, é beneficiada pelas chuvas dos meses de inverno. As unidades industriais da área são da cana-de-açúcar --usinas e destilarias-- que, à exceção de algumas localizadas no vale do Paraíba e Mundaú, não sofreram prejuízos e estavam com as atividades paralisadas devido à entressafra”, disse.

Ao menos 28 municípios foram atingidos, dos quais 15 decretaram estado de calamidade pública e quatro estão em situação de emergência. Permanecem sem abastecimento de água as cidades de Branquinha, Murici, Paulo Jacinto, Capela e Jacuípe. 

Gabinete de Crise em Maceió
O Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI-PR), General Jorge Armando Felix, Coordenador do Gabinete de Gerenciamento de Crise nacional para os Estados de Alagoas e Pernambuco, anunciou ontem a instalação em Maceió de uma base de apoio para gerenciar as atividades das diversas áreas ministeriais que estão sendo desenvolvidas no Estado, segundo a Defesa Civil Estadual.

Em razão da grande dificuldade de comunicação com os municípios atingidos pela enxurrada, os bombeiros implantam a partir de hoje um sistema de rádio amador entre a capital e as cidades atingidas, de acordo com a Defesa Civil. Até o momento, Maceió possui um canal de comunicação com o município de Santana do Mundaú.

Cidades que decretaram calamidade pública