Metrô de SP está saturado, e solução só virá no longo prazo, dizem engenheiros
O Metrô de São Paulo já alcançou o nível de saturação, e a solução para reduzir efetivamente as superlotações só poderá vir no longo prazo. Essa é a avaliação de engenheiros na área de transportes urbanos entrevistados pelo UOL Notícias nesta quarta-feira (22), um dia depois do caos generalizado que tomou conta da Linha 3-Vermelha.
Segundo a assessoria de imprensa do Metrô, o crescimento no número de passageiros foi acelerado a partir de 2006, em razão de uma conjunção de fatores, como o crescimento do consumo, emprego e da renda das classes mais baixas; a gratuidade na integração com os trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e a adoção do bilhete único, que reduziu o custo da passagem para quem utiliza ônibus e Metrô numa mesma viagem.
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Atualmente, são transportados 2,7 milhões de passageiros, contra 1,8 milhão em 2005 e 1,2 milhão em 1990. Nos horários de pico, a média de passageiros por trem supera a capacidade nas linhas azul e vermelha: na Linha 1-Azul, são transportadas cerca de 2.000 pessoas por trem, embora a capacidade seja de 1.500. Na Linha 3-Vermelha, a média, nos horários de pico, é de 1.800 pessoas, valor também maior do que a capacidade (1.600).
De acordo com o Metrô, a Linha 3-Vermelha aparenta ser mais lotada porque há uma concentração de passageiros viajando para um mesmo sentido (em direção a Barra Funda, pela manhã, e para Corinthians-Itaquera, no final da tarde). Na Linha 1-Azul, os passageiros dividem-se de modo mais homogêneo nos dois sentidos (Jabaquara e Tucuruvi).
“A demanda de usuários já atingiu um limite há algum tempo. Eu não vejo no médio prazo alguma solução para resolver a superlotação do Metrô. A rede precisaria ser muito maior do que é e manter uma expansão constante por vários anos”, afirma Gabriel Feriancic, engenheiro de transportes formado pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo).
O plano de expansão do Metrô prevê que, até 2014, cinco linhas sejam inauguradas e três das que já existem sejam ampliadas. O governo afirma também que irá deixar os trens da CPTM com o mesmo padrão do Metrô. Todas essas ações devem fazer com que a rede metroviária e ferroviária na região metropolitana de São Paulo chegue a 420 km no ano da Copa do Mundo no Brasil. Hoje, são 69 km de linhas de Metrô e 263 km da CPTM.
Contudo, para o engenheiro urbano e de transportes Luiz Célio Bottura, o efeito da expansão do Metrô agravará a superlotação e não ajudará a melhorar o transporte na capital paulista. “São Paulo será um arco-íris congestionado e colorido. A expansão vai fazer as pessoas morarem mais longe ainda da região central”, diz.
Para Bottura, a solução para resolver a questão da mobilidade urbana é colocar em prática um plano de diretor para distribuir a população nas regiões centrais e próximas às linhas do Metrô que existem hoje, locais em que a maioria da população trabalha. “Quanto menos a população é obrigada a circular, melhor é. Transporte é deficiência urbana. É preciso pegar as quadras centrais e trazer a população e redesenhar o viário na cidade. Isso demora, mas a cidade não tem prazo.”
Já para Feriancic a expansão pode até despejar mais passageiros em linhas já lotadas, mas a tendência é dividir a demanda entre as várias linhas. “Quando uma estação nova é aberta, cria-se uma nova demanda e mais gente passa a usar o Metrô. Mas quando novas linhas forem entregues, elas deverão absorver os usuários das que já existem.”
Na avaliação de Bottura, a opção de fazer as principais linhas que já existem (1, 2 e 3) radiais ou transversais, ou seja, linhas extensas que cortam boa parte da cidade, é um “erro urbanístico em transporte”. “Todas as viagens foram concentradas em poucas linhas. Elas foram feitas para serem sobrecarregadas”, afirma.
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