Após 36 assassinatos em 2010, sem-teto ganham "segurança social" em Maceió (AL)
Depois de 36 assassinatos registrados em 2010, os moradores de rua de Maceió passaram a contar, desde segunda-feira (20), com a "segurança social" de um grupo especializado da Guarda Municipal. Todas as noites, os guardas circulam pelas principais ruas da capital onde se encontram os sem-teto.
Segundo portaria da prefeitura, o Grupo de Atenção à População em Situação de Rua tem profissionais com dedicação exclusiva e o seu objetivo é “executar de forma complementar ações e atividades orientadoras e preventivas de segurança social”.
“Mais do que dar sensação de segurança para essa população, o grupo realiza um trabalho de orientação, de integração com os outros órgãos. É um trabalho impactante e que vai acontecer, a partir de agora, de segunda a segunda”, afirmou o secretário municipal de Cidadania, Direitos Humanos e Segurança Comunitária, Pedro Montenegro.
Segundo ele, por conta da urgência em colocar o grupo nas ruas, a capacitação dos guardas foi rápida. Montenegro explica que contou com o apoio de grupos quem já realizavam ações para os moradores de rua. “Nós não inventamos a roda. Nos aproximamos da Igreja [Católica], que já mantinha contato com muitos moradores de rua e aproveitamos isso para nos aproximar desses sem-teto –o que nem sempre é simples”, disse.
Na noite da última quarta-feira (22), o UOL Notícias acompanhou o trabalho dos guardas municipais em três pontos da cidade, nos bairros da Pajuçara e no centro. Ao todo são duas equipes (Alfa e Bravo), que passam cerca de 40 minutos em cada local da cidade onde há morador de rua. Eles circulam durante toda a noite.
“A gente não só avalia a questão da segurança, mas fazemos uma ficha completa desses moradores. Nós procuramos saber por que ele está na rua, descobrimos as suas necessidades e tentamos agilizar soluções. Funcionamos como uma ponte entre eles e as secretarias do município e do Estado”, disse a inspetora Simone Lima, coordenadora do grupo.
Apesar de dezembro não registrar nenhum homicídio, o medo de ser assassinado ainda é presente entre todos os moradores de rua entrevistados pela reportagem. Grávida de três meses e reconhecidamente alcoólatra, Elisângela Maria de Oliveira, 19, conta que anda assustada nas ruas da orla da capital, principalmente à noite. “Ontem [terça] mesmo tive que ir pegar um leite ali na casa de uma pessoa e voltei morrendo de medo.”
Ao lado do marido, Elisângela vive de esmolas. “Ninguém aqui dorme tranquilo porque não sabe se vai morrer queimado ou com pedradas. Queria muito mudar de vida”, disse.
Muitos dos moradores de rua pedem para não ser fotografados e se recusam a dar nomes. Aos 32 anos, um dos moradores de rua entrevistados não esconde o vício do crack que, segundo ele, “toma conta das ruas do centro". “No começo, há cinco anos, usava e dava para 'segurar a onda'. Mas há seis meses ela [droga] me endoidou completamente”, afirmou.
Segundo o sem-teto, que vive na praça dos Martírios, a droga pode ser comprada facilmente pelos moradores de rua da capital. “Cada pedra custa R$ 5. Ninguém vende fiado.” Para ele, boa parte das mortes está relacionada ao consumo e venda de drogas. “Só morreu quem tinha 'bronca'. Quem não tem, não mexem”, complementou outro morador de rua.
Apesar do receio, o trabalho dos guardas municipais parece ter agradado aos moradores. Em meio a histórias de miséria absoluta, todas reclamam da falta de oportunidades de emprego.
“Eu cheguei de Recife aqui há pouco mais de um mês. Não deu certo o emprego que ia arrumar, e acabei ficando aqui tomando conta de carros no centro durante a tarde”, explicou Ivanilson Alves da Silva, 31, que garantiu aos guarda querer voltar para casa. “Perdi meus documentos, não consegui arrumar dinheiro para a passagem (em torno de R$ 50), por isso estou aqui. Pelo menos em Pernambuco tinha a casa do meu pai, e lá eu ajudava ele.”
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