Mais de 47 mil pessoas são atingidas pela cheia do rio Juruá, no Amazonas
A Defesa Civil do Amazonas informou nesta quinta-feira (14) que aumentou para cinco o número de municípios atingidos pela cheia do rio Juruá. No total, são 47.795 pessoas afetadas (9.559 famílias). No dia 1º deste mês, os municípios atingidos eram Guajará, Ipixuna e Eirunepé, todas distantes mais de mil quilômetros de Manaus. Hoje, Envira e Itamarati também foram afetadas. As cinco cidades decretaram estado de emergência.
Uma criança de quatro anos morreu afogada em Ipixuna, segundo a Delegacia Regional do município. O menino Kelion Kentino da Silva saiu de casa com a família numa canoa, no último dia 7, para comprar mantimentos. A embarcação afundou e somente a criança não conseguiu escapar. O corpo de Kelion foi encontrado ontem, na margem do rio. Investigações da Delegacia Regional dão conta que a cheia do Juruá contribuiu para a dificuldade no salvamento da criança.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o aumento no nível do rio foi causado pelo fenômeno natural conhecido como La Niña, que corresponde ao resfriamento das águas superficiais do oceano Pacífico Equatorial Central e Oriental formando uma "piscina de águas frias". No Amazonas, o fenômeno aumenta o índice das chuvas em até 30%, segundo estudos da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
A última atualização do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) aponta que o rio Juruá subiu 35 centímetros nas últimas quatro semanas. Hoje, ele atingiu a marca de 12,80 metros. A maior enchente do mesmo rio ocorreu em 2005, quando ele chegou à marca de 13,58 metros.
O Juruá é um rio que nasce no Peru, atravessa o Estado do Acre (no município de Cruzeiro do Sul) e deságua no rio Solimões, no Amazonas. É de grande importância para a região por servir como hidrovia para as cidades que estão nos dois Estados. Além dos cinco municípios afetados no Amazonas, ele também percorre mais duas cidades no Estado, como Carauari (a 788 quilômetros de Manaus) e Juruá.
‘Ilhados’
Nos municípios atingidos, o rio tomou as calçadas de algumas comunidades, deixando moradores totalmente ‘ilhados’. De acordo com a Defesa Civil, não há desabrigados porque uma parte das famílias foi transportada para a casa de parentes e outra preferiu adequar as moradias às condições da cheia, aumentando a base de sustentação de suas casas.
Essas famílias vivem em palafitas, com assoalhos de madeiras. Com a chuva, o chão alaga totalmente. Para evitar o alagamento, os moradores fincam pernamancas (tipos de madeira) nas colunas internas das casas e constroem uma espécie de outro andar da casa. Algumas casas chegam ficar com até três assoalhos, dependendo do nível de alagamento. Esse tipo de construção também é conhecido como "maromba".
O número de atingidos equivale a mais da metade dos habitantes das cinco cidades, que é de 91.307 pessoas, segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com dados das prefeituras, além do risco de afogamento, as cheias dos rios também trazem risco de doenças como a dengue e a leptospirose.
A Defesa Civil informou que, para combater a incidência de doenças, está entregando às famílias kits de medicamentos, kits de higiene e filtros de água. O órgão informou também que as famílias estão recebendo cestas básicas, uma vez que o transporte até os comércios fica inviável com o nível alto do rio.
Riscos
O líder comunitário na cidade de Ipixuna, Josemir Maciel, 45, disse que o maior risco da cheia do Juruá está ligado à transmissão de doenças, como a leptospirose, transmitida pela urina de ratos. “Existem muitos ratos que aparecem com o aumento do nível do rio. Como não podem se esconder na vegetação que foi tomada pela água, buscam abrigo nas casas”, afirmou.
Joane Silveira, 51, comerciante do município de Envira, diz que teme o aumento do registro de dengue. “Como muitos moradores preferem permanecer em casa mesmo com a cheia, alguns compartimentos ficam com água parada, atraindo os mosquitos”, afirmou ela, que preferiu deixar a moradia onde vivia para ficar com os filhos na área urbana da cidade.
A professora Mirlene Soares, 38, da cidade de Guajará, disse que no município o maior medo dos moradores é com as crianças que aproveitam a cheia para brincar no rio e correm risco de afogamento. “Nosso cuidado com os filhos de até sete anos aumentou muito. Porque muitos nessa idade ainda não sabem nadar”, concluiu, dizendo que decidiu mandar uma filha de seis anos para a casa da mãe, onde a cheia não chegou. “Não quis arriscar”, finalizou.
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