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De enchentes a tsunami, boatos ganham força em redes sociais e levam pânico a moradores de cidades nordestinas

Aliny Gama e Carlos Madeiro<br>Especial para o UOL Notícias<br>Em Maceió

18/05/2011 13h03

 

Usadas para expressar ideias e informações, as redes sociais se tornaram, consequentemente, um meio de comunicação para proliferação de boatos. Nos últimos 15 dias, três deles levaram pânico à população de três Estados do Nordeste. Seja por medo de enchente ou mesmo de tsunami, alagoanos, pernambucanos e potiguares descobriram como a "versão 2.0" de falsos alertas conseguem mudar rotinas e causar medo.

O último boato ocorreu em Natal (RN), neste domingo (15), após um terremoto de magnitude 6 na escala Richter ser registrado a 1.276 km do litoral da capital do Rio Grande do Norte. Logo após a notícia, centenas de pessoas usaram o microblog Twitter para postar mensagens com receio de possíveis ondas gigantes no litoral local.

O alarde tirou pessoas da praia e levou o laboratório de Sismologia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) a emitir nota negando qualquer chance de tsunamis atingirem a faixa litorânea potiguar. Já a Defesa Civil também se apressou em desmentir e pediu que as pessoas não entrassem em pânico.

No último dia 5, foi a vez dos alagoanos sofrerem com um boato de enchente dos rios Paraíba e Mundaú, que ganhou força nas redes sociais. E foi pelo Twitter que a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos tranquilizou a população. "Estava previsto um aumento [do rio Mundaú] para Murici, mas União dos Palmares começou a baixar e quando amanhecer vocês sentirão o nível baixar também", disse.

Em nota, a secretaria alertou que "é preciso estar atento para os falsos alertas que tem causado pânico à população". "Na quarta (5) e quinta-feira (6), seis municípios foram vítimas de avisos equivocados: Santana do Mundaú, União dos Palmares, Murici, Rio Largo, Paulo Jacinto e Quebrangulo iniciaram um processo de evacuação das áreas próximas aos rios com uma a notícia de inundação que se espalhava. Entretanto, a situação não exigia que os moradores deixassem suas casas", disse.

Recife

Já em Recife, no dia 15, foram registrados os maiores transtornos. Um boato de que a barragem de Tapacurá, no município de São Lourenço da Mata, teria transbordado e poderia atingir a capital pernambucana gerou pânico à população. O nome “Tapacurá” foi um dos dez assuntos mais comentados do Twitter durante a tarde e o início da noite. Lojas, escolas e até um shopping fecharam as portas mais cedo, com medo de uma enchente, e o trânsito recifense registrou grandes congestionamentos.

“Ninguém conseguia trafegar pela avenida Agamenon Magalhães [uma das principais vias de Recife]. Filas de ônibus, carros e motos se formaram, com pessoas que fugiam para suas casas. Um percurso que faria em 15 minutos, passei três horas devido ao congestionamento. Recife parou”, conta o empresário Fábio Cavalcanti, que tentou fazer entregas de mercadorias em lojas de shoppings de Recife, mas em vão.

O professor Domício Augusto Barbosa estava em um dos ônibus que enfrentou o engarramento da Agamenon Magalhães. “Todos procuravam abrigo seguro ou tentando retornar às suas casas. O temor de uma enchente em Recife era maior e a adesão ao tumulto ocorria a cada grupo que se arriscava em atravessar as ruas alagadas. Teve gente que desceu do ônibus e tentou ir a pé”, afirmou.

O boato levou a Coordenadoria de Defesa Civil do Recife e o governador Eduardo Campos (PSB) a se apressarem a desmentir a informação. “Não há porque as pessoas imaginarem que a água do canal que transbordou perto de um shopping ou em outro local seja enchente. Isso não é enchente. É uma situação de maré alta com muita chuva, que acontece nesta época todos os anos. Entre o boato que está nas ruas e o que o governo está dizendo, fiquem com o que os técnicos do governo estão dizendo. Não tem nada de enchente, não tem nenhum problema com barragem”, disse o governador, em entrevista coletiva instantes após o boato.

Finalidade errada

Especialista em análise de comportamento de mensagens redes sociais, a jornalista e diretora de comunicação e monitoramento da empresa Algo Mais, Luana Nunes, afirma que o maior problema é a falta de confiabilidade das mensagens que são jogadas na internet - que acabam sendo absorvidas como verídicas.

“A ferramenta está sendo usada de forma correta, porém com a finalidade errada. O Twitter surgiu para tornar a informação ainda mais rápida, mais ágil, entre os internautas. Mas, de acordo com o perfil monitorado, cera de 60% dos nossos cliques são feitos por jovens, sem fonte concreta”, afirmou.

Nunes afirma que notícias assim são classificadas de "terrorismo virtual", mas é possível rastrear falsos alertas e identificar sua veracidade. “Isso é possível pelo comportamento online dos usuários, pelo teor da notícia. Apesar de o impacto de uma notícia dessa ser muito forte e veloz, o grande problema não é rastrear esses dados, mas o que e como fazer com essa informação. Infelizmente, as pessoas acham que 'retuitando' o que uma pessoa escreveu aquela informação já virou um fato. E isso gera desespero e pânico”, disse.