Miliciano da "Liga da Justiça" classificado como psicopata consegue fugir de prisão no Rio
O miliciano Carlos Ary Ribeiro, o Carlão, 34, que estava preso desde o ano passado, conseguiu fugir durante a madrugada desta sexta-feira (2) do Batalhão Especial Prisional (BEP), em Benfica, na zona norte do Rio de Janeiro. O ex-policial militar, cujo temperamento é descrito pela polícia como "psicótico", era um dos principais pistoleiros da "Liga da Justiça" (milícia que atua em grande parte da zona oeste da capital fluminense).
Segundo a Corregedoria da Polícia Militar, as circunstâncias da fuga do criminoso ainda estão sendo investigadas. A notícia de que um dos milicianos mais perigosos do Rio escapou da penitenciária surge no dia seguinte à megaoperação articulada pela Secretaria Estadual de Segurança Pública para reprimir as atividades do grupo paramilitar e prender seus integrantes remanescentes.
Na Operação Pandora, da qual participaram várias delegacias especializadas, foram cumpridos dez das 18 ordens de prisão expedidas pela Justiça (quatro milicianos já estavam detidos por outros crimes). Um dos mandados diz respeito a Carlão, que já responde criminalmente por seis homicídios e é acusado de outros dez --ele foi condenado a sete anos de reclusão por porte ilegal de arma e receptação.
Em julho de 2010, o ex-PM foi preso quando diria um carro roubado e portava uma pistola calibre 45 --exames balísticos comprovaram que tal arma foi utilizada no assassinato de pelo menos três pessoas. Na casa do miliciano, os agentes da Corregedoria encontraram uma verdadeira fortuna construída com o dinheiro das atividades ilícitas da Liga da Justiça: sete automóveis, duas motocicletas, nove celulares e até uma lancha avaliada em cerca de R$ 90 mil.
De acordo com informações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), vinculado ao Ministério Público, Carlão e outros integrantes do grupo paramilitar não encontravam dificuldades para gerenciar as movimentações da Liga da Justiça mesmo detidos no BEP.
A investigação da promotoria apontou que Ribeiro e um ex-PM identificado como Ivo Mattos da Costa Junior, o Tomate, utilizaram celulares dentro do batalhão prisional.
Matador de aliados
A fama de psicopata atribuída a Carlão não se restringe ao círculo dos policiais militares. Até mesmo aliados foram assassinados de forma impiedosa pelo pistoleiro, que já foi o braço direito dos principais líderes da Liga da Justiça: o ex-PM Ricardo Teixeira da Cruz, o Batman, e os irmãos e ex-parlamentares Natalino Guimarães (ex-deputado estadual) e Jerominho (ex-vereador).
Segundo investigações do Gaeco, Carlão matou pelo menos quatro companheiros de milícia que foram supostamente acusados de traição à Liga da Justiça. Um deles era Jadir Jeronymo Júnior, o Gorilão, que era responsável pela segurança do atual chefe operacional da quadrilha, o ex-policial militar Toni Ângelo de Souza Aguiar, o Tony. Outros milicianos identificados como Uilder Eduardo Espírito Santo, Leandro Soares Matias (Léo) e Denilson Santos (Bochechudo) também fora mortos por Carlão, de acordo com o Gaeco.
Após os assassinatos, os corpos das vítimas foram carbonizados e despachados dentro de um carro, abandonado na zona norte do Rio.
Operação Pandora
Os resultados da Operação Pandora, deflagrada na manhã quarta-feira (1º), mostram que a corrupção nas polícias Civil e Militar tem garantido a sobrevivência da Liga da Justiça, que pagava até R$ 40 mil por mês por informações privilegiadas vazadas por um policial ligado à Secretaria de Segurança Pública.
De acordo com a denúncia, o policial aposentado Anisio de Souza Bastos, lotado na Corregedoria Interna da Polícia Civil --e que teve a prisão preventiva decretada--, funcionava como “agente duplo", trabalhando na Corregedoria e fornecendo aos criminosos informações sigilosas sobre as rotinas e operações policiais.
Há também a suspeita de que o suspeito tivesse o objetivo de articular um novo grupo paramilitar para substituir a Liga da Justiça.
Além das prisões, os policiais apreenderam cerca de R$ 45 mil, uma pistola calibre 380 e três carregadores, uma luneta de longo alcance, joias, notebooks, um veículo Eco Sport, uma máquina de contagem de dinheiro e relatórios feitos pelos milicianos sobre a organização do grupo. Os suspeitos detidos e o material recolhido foram levados para a Delegacia de Roubos e Furtos de Autos.
Domínio da zona oeste
A Liga da Justiça é o maior e mais conhecido grupo de milicianos do Rio de Janeiro. A facção paramilitar surgiu em 2007, em Cosmos, na zona oeste, e tem como símbolo o morcego do Batman, uma alusão ao apelido de um dos líderes da milícia, o ex-policial Ricardo Teixeira Cruz.Atualmente, ele está preso na Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Campo Grande (MS).
O criminoso foi preso há quatro anos em seu Ford Focus preto, na Via Lagos, poucas horas depois de ter tentado matar o sargento da PM Francisco César Silva Oliveira, o Chico Bala, em Cabo Frio, na Região dos Lagos. No carro também estavam o ex-PM José Carlos da Silva, expulso da polícia em 1999, o cabo Wellington Vaz de Oliveira e o policial civil André Luiz da Silva Malva, do Instituto Félix Pacheco.
Segundo a polícia, a Liga da Justiça fatura mensalmente cerca de R$ 2 milhões com a cobrança de serviços clandestinos, entre os quais uma suposta segurança, a submissão de gás, a distribuição do sinal de TV por assinatura, entre outros.
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