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"Fomos vítimas, não vilões", diz empresário que importou lixo hospitalar dos EUA

Aliny Gama<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Maceió

18/10/2011 07h02

Acusado de importar restos e lixo hospitalares dos EUA para Pernambuco, o empresário têxtil Altair Teixeira de Moura quebrou o silêncio e alegou ser vítima de um golpe da empresa norte-americana que, até o mês passado, "forneceria apenas retalhos de tecidos limpos" à sua empresa, a Na Intimidade Ltda. Em entrevista exclusiva ao UOL Notícias, o proprietário afirmou que pretende processar o fornecedor por enviar lixo hospitalar ao Brasil.

“Conheci pela internet a empresa em 2009 quando entrei no ramo. Desde lá nunca me mandaram nada de anormal, apenas retalhos de tecidos limpos. Tenho laudos da Receita Federal que comprovam que minhas importações de mercadoria eram dentro da lei”, disse o empresário. Apesar de acusar o fornecedor, Moura não quis dizer o nome da empresa norte-americana que fornecia os produtos.

O empresário disse estar bastante abalado com a repercussão do caso e o “pré-julgamento sobre a idoneidade de minha empresa”. “Eu e minha esposa estamos sob efeitos de medicação, mas mesmo assim precisamos esclarecer logo essa situação. Fomos vítimas, não vilões. Jamais iríamos colocar em risco a vida dos nossos funcionários e da população com a importação daquele tipo de material. Hoje em dia, com o mundo globalizado, tudo é muito fácil de negociar e encontrar preços menores em outros países. Nunca iríamos imaginar que a empresa faria uma coisa dessas. Não podemos ser penalizados por um golpe que fomos vítimas ou pelo erro dessa empresa”, defendeu-se.

Questionado sobre a apreensão de tecidos com logomarcas de hospitais norte-americanos em três galpões de sua propriedade, nas cidades de Santa Cruz do Capibaribe, Toritama e Caruaru, o empresário disse que sabia que os tecidos eram descartados por hospitais, mas que “eram limpos e tudo estava dentro da lei.” “Temos laudos de análises das mercadorias que importamos emitidos pela Receita Federal. Esses laudos foram dados depois de análises laboratoriais em amostras de lotes das mercadorias importadas”, disse.

Moura também negou a denúncia de funcionários de que ele sabia que eram tecidos de restos de hospitais dos EUA. “Desde que iniciamos as atividades, nenhum funcionário adoeceu devido ao manuseio de tecidos importados, pois eram todos limpos. Em dois anos de empresa apenas dois funcionários entregaram atestado de doença. Um de problema dentário e outro devido a uma luxação no joelho.” O empresário disse ainda que, apesar de lidar com tecidos limpos, todos os funcionários trabalhavam usando EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), como luvas e máscaras.

Também questionado sobre o preço e quantidade de contêineres importados dos EUA desde 2009 pela Na Intimidade Ltda, Moura disse não ter conhecimento dos números. “Precisaria ver com o meu contador, não tenho esses dados aqui.”

Vigilância Sanitária contesta

As alegações do empresário foram consideradas infundadas pela Apevisa (Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária). Segundo o órgão, a importação de tecidos de hospitais feita pela Império do Forro de Bolso –nome fantasia da empresa de Moura– é ilegal.

O gerente regional da Apevisa em Caruaru, Antônio Figueiredo Vasconcelos Júnior, afirmou que esta não foi a primeira vez que a empresa importou restos hospitalares. “O contrato fechado entre o Império do Forro de Bolso foi feito direto com uma empresa de reciclagem de lixo dos Estados Unidos”, disse.

“Nas apreensões que fizemos, encontramos fardos embalados do jeito que foram importados e neles tinham jalecos, roupas hospitalares e lençóis com manchas, que aparentam ser sangue. Se essa empresa tivesse sido vítima de golpe desta vez, não iríamos encontrar tecidos, roupas hospitalares e forros de bolsos nas mercadorias que estavam à venda”, afirmou Vasconcelos Júnior.

Segundo o gerente, na apreensão dos tecidos em Caruaru foram encontrados vários lençóis com fungos que estavam dobrados nas mercadorias no salão das lojas. “Mesmo que ele alegue que importava tecidos de hospitais que não eram sujos, ele já infringe a lei, pois eram descartes de lixo que as unidades hospitalares mandavam para a empresa dar o destino final, não era uma empresa têxtil”, reforçou Vasconcelos Júnior.