Topo

Engenheiros especulam que reforma no interior de um dos edifícios provocou desabamento no centro do Rio

Carolina Gonçalves e Alana Gandra

Da Agência Brasil, no Rio de Janeiro

26/01/2012 16h24

Além da perícia que será feita pela Defesa Civil, especialistas do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, vão divulgar, em cinco dias, o resultado de estudos sobre as possíveis causas do desabamento de três prédios no centro da capital fluminense ocorrido nesta quarta-feira (25).

O presidente do clube, Manoel Lapa, acredita que há 90% de chance de o desastre ter sido provocado por danos na estrutura do prédio maior, de 20 andares, em decorrência de reformas que estavam sendo feitas.

“É muito cedo para dizer qual foi a causa, mas temos experiência que nos permite apontar a obra que estava sendo feita no prédio como responsável”, opinou Lapa.

Há quase sete ano, outro prédio no centro do Rio, na rua Primeiro de Março, desabou totalmente, depois que operários atingiram um pilar durante obras em um restaurante que ficava no térreo.

Eu tive sorte, parecia o 11 de Setembro. Parecia que estavam jogando entulho de cima do telhado. Eu vi uma laje caindo e saí correndo. Se ficasse, ia cair em mim

Vicente Cruz, entregador de água, que estava em um dos prédios que desabou

“Algumas vezes os operários saem quebrando e danificam um pilar, o que é muito grave. Você pode provocar a ruptura de todo um prédio se atingir um pilar. Qualquer obra tem que ter autorização da prefeitura e tem que ter um profissional responsável, o engenheiro que faz o registro no Crea [Conselho Regional de Engenharia e Agronomia]”, explicou Lapa.

Com relação à idade do prédio, o engenheiro disse que não há relação com o acidente. “Isso não é uma avaliação técnica válida. O prédio pode ser antigo e perfeitamente seguro, como acontece em Paris, onde os edifícios são muito antigos. A preocupação, neste momento, é desfazer os mitos que levam pânico à população e não são verdadeiros”.

A professora da Escola Politécnica da UFRJ e especialista em estruturas Maria Cascão também alertou para os riscos de obras internas. “É extremamente importante que qualquer tipo de reforma ou obra que se faça tenha uma autorização porque, às vezes, a pessoa deixa a responsabilidade a cargo de algum empreiteiro, que não é um engenheiro responsável, e que pode atuar em alguma peça estrutural”.

O professor de engenharia geotécnica da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da UFRJ Maurício Ehrlich compartilha da opinião de que uma obra mal-feita no interior de um dos edifícios possa ter provocado a tragédia.

“Se eu tivesse que apostar, de todas as hipóteses possíveis, acho que essa é a mais provável”.

Como os prédios tinham mais de 40 anos de funcionamento e não foram observados sinais anteriores de deterioração, “só pode ter tido um colapso se alguém mexeu em alguma coisa que não podia ter mexido. Eu acho que essa é a primeira hipótese”.

Ele explicou que se houvesse problemas de projeto ou de execução, teriam aparecido sinais muito antes de o desabamento ocorrer. “Não teria esperado 40 anos para apresentar [problemas] agora”.

Os órgãos reguladores e a prefeitura vão acompanhar o trabalho de remoção do entulho. “É quase uma peritagem. É uma verdadeira autópsia”, disse o engenheiro Maurício Ehrlich.

Ele revelou que, a pedido do governo fluminense, a Coppe deverá emitir parecer sobre o acidente.

O engenheiro Orlando Sodré, consultor de riscos do Sindicato de Habitação do Rio de Janeiro (Secovi), acompanha o trabalho dos bombeiros em busca de sobreviventes e corpos nos escombros.

Segundo ele, o horário da tragédia, pouco depois das 20h30, evitou uma tragédia ainda maior. Para ele, a maior parte das vítimas estava concentrada em dois andares. “Graças a Deus que aconteceu à noite. A maior possibilidade de vitimas é nestes andares, onde tinha pessoal em serviço. Ainda bem que foi neste horário”.

Mais de 50 salas comerciais funcionavam nos dois prédios que desabaram primeiro. O Edifício Liberdade, na rua Treze de Maio, e o Edifício Colombo, na rua Manoel de Carvalho, por onde entravam os músicos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sediavam escritórios de advocacia, contabilidade e assessoria empresarial, além de seguradoras, agências de turismo, imobiliárias, consultorias em informática, uma agência bancária e uma padaria.

Os proprietários já começam a contar os danos e projetar soluções. Marcos José Marques, presidente da organização não governamental (ONG) Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE), que funcionava no Edifício Colombo, passou a manhã reunido com a equipe.

O que a gente está fazendo, com muito esforço, é tentar um planejamento, o mais completo possível, para que se tenha um mínimo de perda. Temos uma série de projetos em curso, então, estamos tentando, na casa de cada funcionário e diretor, recuperar o nosso banco de dados. É tentar minimizar o que a gente sabe que está perdendo”, lamentou.

Veja o local onde desabaram os prédios no centro do Rio