Advogado de empresa afirmou que exigência de laudo para obra em prédio que desabou seria "capricho" do síndico
O advogado da empresa TO - Tecnologia Organizacional, Jorge Willians, afirmou durante entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira (27), que a exigência de um laudo técnico para as obras --iniciadas oito dias antes da tragédia-- que ocorriam no nono andar do edifício Liberdade seria um "capricho do síndico", pois, segundo ele, as reformas realizadas não necessitavam de tal autorização. Três prédios desabaram no centro do Rio de Janeiro na última quarta-feira (25) e deixaram mais de 10 mortos.
O sócio-diretor da empresa, Sérgio Alves, disse que "jamais existiu omissão por parte da TO". Ele ainda relatou que há 11 funcionários envolvidos na tragédia, entre mortos e desaparecidos.
O síndico do edifício Liberdade, de 20 andares, exigia um laudo técnico assinado por um engenheiro mais a planta com as modificações propostas pela reforma ou um engenheiro que ficasse responsável pela obra.
Segundo Willians, a TO optou por entregar um laudo mais a planta com as mudanças, porém, o documento não havia ficado pronto porque a mãe do engenheiro que assinaria --Paulo Brasil-- teria ficado doente.
Além disso, segundo o advogado, a planta com as modificações propostas pela obra foi feita por uma funcionária da TO, que não é engenheira.
A perícia e as investigações já iniciadas pela polícia devem apontar de fato se as obras da empresa de tecnologia da informação foram ou não causadoras da tragédia.
Responsabilidade
O delegado Alcides Alves Pereira, da 5ª Delegacia de Polícia Civil (Mem de Sá), que investiga as causas do desabamento de três prédios no centro do Rio, afirmou nesta sexta-feira (27) que os responsáveis pelo acidente podem pegar de um a quatro anos de detenção só pelo desmoronamento.
“Quem quer que seja responsabilizado poderá ser indiciado por desmoronamento e desabamento qualificado”, disse, referindo-se ao artigo 256 do Código Penal. A punição seria referente apenas ao desmoronamento e não às mortes registradas.
Pereira, entretanto, evitou falar em possíveis causas do acidente. “Estamos aguardando a perícia e, enquanto isso, realizando acompanhamento permanente dos trabalhos de resgate. A investigação está sendo feita de forma geral, e ainda não podemos falar sobre possíveis causas. Todas as evidências que possam ajudar na investigação serão apuradas e checadas”, afirmou.
De acordo com ele, a Polícia Civil investigará apenas a responsabilidade penal, que é resultante de crimes contra a pessoa. As questões que envolvem danos materiais não serão apuradas pela Polícia Civil.
O síndico do prédio Liberdade --edifício de 20 andares que desabou e levou dois prédios vizinhos--, Paulo Renha, chegou à delegacia para depor por volta de 16h40, acompanhado de vários advogados.
Outros depoimentos
Onze pessoas já prestaram depoimento. Um dos depoentes foi o operário Alexandre da Silva Fonseca, 31, que trabalhava em uma reforma no 9º andar de um dos edifícios e que foi resgatado com vida dentro de um elevador.
Alexandro disse mais cedo que a reforma que ocorre há duas semanas e meia serviu apenas para remover algumas paredes de alvenaria com a finalidade de trocar dois banheiros de lugar. O operário não soube, no entanto, dizer se havia um engenheiro responsável pela reforma no prédio de 20 andares. “Acho que a obra não provocou o desmoronamento do prédio, porque nós não mexemos em nenhuma contenção [estrutura]”, afirmou.
O operário contou que eles trabalhavam sempre à noite e a pessoa com quem ele conversava era uma mulher chamada Cristiane, mas Alexandro não soube dizer se ela era engenheira ou não. "O pessoal grandão não ia falar comigo sobre quem era o engenheiro, a menina que falava com a gente era a Cristiane e me pedia apenas para eu auxiliar no trabalho", contou. Ele também afirmou que eles utilizavam uma planta para a reforma, mas não soube dar detalhes.
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As reformas que aconteciam no edifício, no 9º e 3º andares, são apontadas como possível causa do desabamento, mas não há confirmação.
A polícia ainda não informou quem são as outras pessoas que já prestaram depoimento. “Todas as testemunhas se colocaram à disposição para fornecer informações", afirmou hoje a chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Martha Rocha. Segundo Rocha, todos os delegados da unidade foram deslocados para a rua Treze de Maio logo após o acidente. A equipe envolvida nas investigações é a mesma que apurou outra tragédia: a explosão no restaurante Filé Carioca em outubro de 2011.
As equipes de socorro, comandadas pelo Grupamento de Busca e Salvamento (GBS) do Corpo de Bombeiros com o apoio da Defesa Civil e da Polícia Militar, intensificaram hoje o trabalho de busca por mais vítimas, já que ainda há cerca de 15 desaparecidos. Cães farejadores ajudam nos resgates. As dificuldades, segundo os bombeiros, são geradas principalmente pela nuvem de poeira que ainda é intensa no local.
Os acessos a cinco prédios da rua Treze de Maio estão totalmente bloquados --a situação só será normalizada na segunda-feira (30). A prefeitura afirma que não há "qualquer tipo de risco estrutural" para esses imóveis, mas as interdições foram determinadas por questão de prevenção. (Com Hanrrikson de Andrade)
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