Obras no interior de edifício do Rio eram ilegais, diz Crea
O presidente da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Engenharia (Crea), Luiz Antonio Cosenza, declarou na manhã desta quinta-feira (26) que obras estavam sendo realizadas no terceiro e no nono andar do edifício Liberdade, na avenida Treze de Maio, que desabou ontem à noite junto outros dois prédios.
Eu tive sorte, parecia o 11 de Setembro. Parecia que estavam jogando entulho de cima do telhado. Eu vi uma laje caindo e saí correndo. Se ficasse, ia cair em mim
Vicente Cruz, entregador de água, que estava em um dos prédios que desabouJá o engenheiro civil Antônio Eulálio Pedrosa Araújo, consultor do Crea, afirmou ainda que as obras eram ilegais, pois não tinham autorização do conselho.
Ontem, por volta das 20h30, três prédios vieram abaixo: um maior, na rua Treze de Maio (chamado Liberdade), que tinha 20 andares; um menor, no número 16 da rua Manoel de Carvalho, com 10 andares (chamado Colombo); e ainda um imóvel pequeno, localizado entre os dois edifícios maiores, com quatro ou cinco andares.
Araújo descartou a explosão de gás como causa do desabamento e apontou três possíveis motivos para a tragédia: "O primeiro e mais provável é que a obra tenha provocado uma alteração estrutural com a retirada, por exemplo, de uma viga. A segunda hipótese seria a corrosão ou infiltração da laje da cobertura. A terceira seria o excesso de peso do material de construção utilizado na obra", afirmou.
O presidente do Crea, no entanto, preferiu ser mais cauteloso, em entrevista ao UOL: “Eu não descarto nenhuma possibilidade nesse momento, por mais que a amostra de material não seja típica de uma explosão. Os fiscais do Crea conversaram ontem com o pessoal que trabalha no prédio e disseram que tinha um forte cheiro de gás no subsolo. A gente não pode afirmar o que foi nem o que não foi. Todas as possibilidades estão todas abertas, até um problema estrutural numa das obras. Ainda é muito cedo para afirmar o que houve”, ressaltou.
A informação hipótese de vazamento de gás também foi descartada pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB). Segundo ele, no momento, a investigação aponta para um problema estrutural no edifício maior.
“O prédio [maior] é relativamente sólido, antigo, da década de 60. Os prédios antigos do centro tem uma boa estrutura, foi uma surpresa para a gente. Vamos procurar saber quem é o proprietário e se as obras tem um engenheiro responsável, que vamos convocar para depor e saber que tipo de obra ele estava fazendo. Os síndicos devem comunicar ao Crea e saber se as obras eram legalizadas. A obra era feita de noite, ninguém sabe que tipo de obra era", afirmou Cosenza.
Paes confirmou que pelo menos 19 pessoas estão desaparecidas. Ao UOL Notícias, um parente de desaparecido afirmou que teve acesso a uma lista com 30 nomes.
O secretário da Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Simões, disse no início da madrugada desta quinta-feira (26) que as chances de encontrar sobreviventes entre os escombros são "muito pequenas".
Não estou no prejuízo porque consegui sair do prédio vivo. Estava no 9º andar e não sei como desci do prédio, só sei que estou vivo
Gilberto Figueiredo, que estava no localEquipes da prefeitura, do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar (PM) estão no local. Até agora, cinco pessoas já foram retiradas dos escombros.
Funcionários da Secretaria Municipal de Assistência Social montaram uma base na Câmara de Vereadores, na praça da Cinelândia para orientar os parentes das vítimas.
Segundo a Secretaria de Saúde, os feridos foram encaminhados ao hospital Souza Aguiar. Há dois homens de 37 anos --um deles, que estava no prédio, apresenta um ferimento na perna e o outro, que estava passando pelo local na hora, sofreu escoriações leves; uma mulher de 28 anos, que sofreu um corte na cabeça e foi encaminhada para o centro cirúrgico; um homem de 50 anos, que sofreu apenas escoriações leves; e outro, de 31 anos, que está em estado de choque.
Um homem que estava dentro de um dos elevadores do edifício Liberdade conseguiu ser resgatado após entrar em contato com um amigo pelo celular.
Área isolada
Simões confirmou que os prédios ao lado dos que desabaram não ficaram comprometidos, como já havia adiantado o prefeito Eduardo Paes, mas a área de isolamento foi ampliada por conta de uma suspeita de vazamento de gás. A rede de gás da região foi desligada e bueiros próximos foram interditados.
Paes pediu a todas as pessoas que trabalham em prédios da rua Treze de Maio que fiquem em casa e evitem a região nesta quinta, já que a entrada nos edifícios não será permitida.
Veja onde ficavam os prédios que desabaram
Os prédios que desabaram aparecem marcados em vermelho e azul
O local fica bem próximo ao Theatro Municipal, que não foi afetado, segundo a presidente da entidade, Carla Camurati. Dois fiscais do Crea-RJ (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) estão na rua Treze de Maio, acompanhando os trabalhos da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros. O objetivo é buscar as primeiras informações para detectar as causas do desabamento.
Para que as equipes possam trabalhar ao longo de toda a quinta-feira (26) na região do desabamento de três prédios no centro do Rio, a CET-Rio preparou um esquema especial para a área (confira aqui).
As avenidas Treze de Maio e a Almirante Barroso (trecho entre a rua Senador Dantas e a avenida Rio Branco) ficarão totalmente interditadas para o tráfego de veículos. Já a rua Senador Dantas sofrerá interdição de mão. Os veículos procedentes da avenida República do Chile deverão entrar na via, acessando na sequência a rua Evaristo da Veiga.
Por volta das 4h45 da madrugada desta quinta-feira (26), o Centro de Operações da Prefeitura do Rio informou que o tráfego na avenida Rio Branco e na rua Evaristo da Veiga, nas proximidades dos desabamentos, foi liberado.
A concessionária Metrô Rio informou que as estações Presidente Vargas, Uruguaiana, Carioca e Cinelândia, que estão muito próximas ao local do acidente e chegaram a ser fechadas, abrirão normalmente na manhã desta quinta-feira. De acordo com o presidente do Metrô, nenhuma das estações localizadas naquele trecho da cidade sofreu qualquer tipo de abalo estrutural.
* Com informações de Fabíola Ortiz, Rodrigo Teixeira, Hanrrikson de Andrade, Agência Estado e Agência Brasil.
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