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Após desocupação, governo da Bahia e PMs em greve retomam negociação

Do UOL, em Salvador

09/02/2012 14h17Atualizada em 09/02/2012 14h29

Depois de policiais militares desocuparem nesta quinta-feira (9) o prédio da Assembleia Legislativa da Bahia, representantes de governo e da categoria voltaram a negociar. As conversas haviam sido suspensas na terça-feira (7) por falta de acordo. Quatro entidades representantes dos policiais estão reunidas com os negociadores da Secretaria de Segurança Pública neste momento, no Comando da Polícia Militar, para tentar um acordo sobre o pagamento de gratificações.

O governo ofereceu o pagamento escalonado das gratificações de Atividade Policial (GAPs) 4 e 5, a partir de novembro deste ano. A proposta apresentada na terça-feira, que não foi aceita pelos grevistas, previa o pagamento da GAP 4 até o final de 2013 e da GAP 5 até o fim de 2015.


Os grevistas continuam recusando a proposta. Querem o pagamento da GAP 4 em março deste ano e da GAP 5 em março do ano que vem. A pressão agora é maior das associações que incluem os oficiais. Elas farão uma assembleia hoje, às 18h, para decidir fazem greve. Também haverá uma nova reunião dos policiais que desocuparam o prédio da Assembleia, as 16h, no Largo dos Aflitos, no centro da cidade, para discutir se a greve da categoria continua.

O líder do movimento na Assembleia Legislativa, o ex-policial Marco Prisco, foi preso na manhã de hoje após deixar o prédio. Outro líder grevista, Antônio Paulo Angelini também foi preso. Os dois já tinham prisão decretada. Além deles, dois PMs já haviam sido detidos. Ao todo foram expedidos 12 mandados de prisão, dos quais quatro ainda não foram cumpridos. As prisões foram decretadas pela juíza Janete Fadul. Todos são acusados de formação de quadrilha e roubo de patrimônio público (carros da corporação). Além dos crimes, os policiais devem passar por um processo administrativo.

A greve na Bahia foi deflagrada na terça-feira, dia 31 de janeiro, por parte da categoria, liderada pela Associação de Policiais e Bombeiros da Bahia (Aspra). Dias depois, ela já foi considerada ilegal.

Para encerrar a paralisação, os grevistas pedem, além das gratificações, a revogação dos pedidos de prisão e a concessão da anistia irrestrita para os envolvidos. A reivindicação ficou ainda mais difícil depois da divulgação de escutas que mostraram o líder do movimento incentivando atos de vandalismo. A presidente Dilma se disse hoje contrária à anistia.

O governador Jaques Wagner (PT) já afirmou que os policiais envolvidos em "casos de vandalismo" serão punidos. "Os policiais que participaram legalmente, dentro das regras do processo reivindicatório, não têm com o que se preocupar. Mas todos aqueles condenados pela sociedade baiana que depredaram, quebraram e intimidaram a população devem ser investigados. Não há como falar em perdão quando se fala em atos de vandalismo."

A paralisação gerou um aumento da violência no Estado: houve registro de arrastões e aulas e shows foram cancelados. Os Estados Unidos chegaram a recomendar aos norte-americanos que adiem viagens "não essenciais" ao Estado. Em uma semana, o número de homicídios mais do que dobrou na região metropolitana de Salvador, segundo estatísticas oficiais do governo.

A desocupação

Cerca de 500 homens do Exército e da Polícia Federal entraram por volta de 7h20 desta quinta-feira (9) na Assembleia Legislativa da Bahia, em Salvador, para realizar uma varredura no prédio que, até esta manhã, era ocupado por 245 policiais militares em greve há dez dias.

Segundo o Exército Brasileiro, a ordem pela não invasão foi seguida até o último momento da operação. Os grevistas começaram a rendição por volta das 6h30.

A desocupação ocorre poucas horas depois de o "Jornal Nacional", da TV Globo, divulgar gravações telefônicas que indicam que Prisco incentivou atos de vandalismo no Estado.

De acordo com o chefe de Comunicações do Exército, tenente-coronel Márcio Cunha, a condição colocada por Prisco --principal líder do movimento-- para a rendição era que ele e a outra liderança saíssem pelos fundos. A varredura começada logo após a desocupação ainda não terminou. É ela que vai apontar se há armas ou danos à estrutura da Assembleia.

Ainda que a Assembleia tenha sido cercada na última segunda-feira (6), foi ontem que o cerco começou efetivamente a se fechar contra os grevistas. Liberado na véspera, o ingresso de alimentos e água aos PMs por parte de familiares e do próprio Exército acabou barrado ontem depois que as negociações empacaram na terça.

De acordo com o porta-voz do Exército, agora começa a fase de transição do policiamento na cidade pelas forças de segurança, uma vez que a greve, embora enfraquecida com a desocupação e as prisões de hoje, ainda não teve seu fim decretado.

“O Exército vai permanecer dando segurança até o momento em que a SSP (Secretaria de Segurança Pública) julgar necessário. Se for preciso ficar até o Carnaval, por exemplo, estaremos prontos”, disse.

10º dia de greve

A greve da Polícia Militar da Bahia chega ao seu 10º dia hoje. A partir do início do protesto, a população passou a viver uma rotina de crimes, prejuízos e transtornos. Desde a noite do último dia 31 de janeiro, os baianos mudaram sua rotina e passaram a ficar em casa, com comércio e ruas vazias, aulas e eventos culturais suspensos e Justiça com serviços parados.

A paralisação levou o governo federal a decretar no fim de semana a GLO (Garantia de Lei e Ordem), tirando o comando da segurança do Estado e o repassando para o Ministério da Defesa. Sem PMs nas ruas, o serviço de segurança está sendo feito por 4.000 homens da Polícia Federal, Exército e Força Nacional.

Segundo a SSP da Bahia, entre os dias 1º e 8 de fevereiro, 135 pessoas foram assassinadas na região metropolitana de Salvador. Desses crimes, pelo menos 38 tiveram característica de extermínio, segundo informou a Polícia Civil, que investiga os casos com prioridade. Os assaltos a ônibus coletivos também assustam, foram nove casos somente nesta terça-feira (7). Em um deles, na Praia Grande, os ladrões levaram apenas R$ 8.

Desde o dia 1º, 300 veículos foram furtados ou roubados. Saques também foram registrados em lojas no começo da paralisação, mas cessaram após reforço federal nas áreas de concentração comercial.
 
Pelas redes sociais, os baianos relatam o clima com a paralisação. “As pessoas de Salvador estão assustadas com essa greve, o pessoal está com medo de sair de casa”, disse Jenny Ferreira. “Com um medo danado! Essa greve da PM está tirando o sono de todo mundo! Aulas só quando a greve terminar! Compensar em dezembro”, afirmou Beatriz Oliveira. “Uma semana de greve da PM e Salvador não aguenta mais ficar refém da violência e do medo, vamos nos unir em oração para acabar logo com isso”, publicou Rose Melo.

Os prejuízos dos empresários não param de crescer com a paralisação. O sentimento de angústia dos empresários baianos com a greve pode ser percebido pelo teor de uma nota oficial divulgada nesta quarta-feira (8) pela seccional da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). “Mais do que preocupante, a situação já passa a ser desesperadora, pois as empresas, independentemente de suas vendas, terão que pagar pelos custos fixos como aluguéis, salários, impostos que independem do faturamento como o IPTU, dentre diversas outras despesas planejadas, bem como as despesas não planejadas diretamente causadas pela greve”, disse.

Segundo a associação, “em nove dias de greve, a Abrasel constata que a perda de faturamento dos estabelecimentos da capital baiana atinge a marca de 50% a 90% por dia de greve.”

(Com Agência Brasil)