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Mãe de Eloá diz que "polícia errou" e tem 50% de culpa na morte da filha

Ana Cristina, mãe de Eloá, com o neto hoje (27) - Nelson Antoine/Fotoarena/AE
Ana Cristina, mãe de Eloá, com o neto hoje (27) Imagem: Nelson Antoine/Fotoarena/AE

Débora Melo

Do UOL, em São Paulo

27/02/2012 16h29

Em entrevista coletiva nesta segunda-feira (27) em São Paulo, Ana Cristina Pimentel, mãe de Eloá, disse que a polícia errou durante a operação de resgate da filha e da amiga dela, Nayara, enquanto as adolescentes eram mantidas reféns por Lindemberg Alves no apartamento da família de Eloá, em 2008, em Santo André (ABC Paulista). O cárcere privado, que durou quase cem horas, terminou com a morte de Eloá e com Nayara baleada.

“O Lindemberg é o culpado (...) Mas a polícia errou. A polícia me deu esperanças a todo momento. Apesar de Lindemberg dizer ‘sua filha não vai sair viva, se ela não for minha não será de mais ninguém’, eu, como mãe, senti que minha filha não ia sair viva. Mas a polícia me deu esperança de que ele [Lindemberg] ia negociar e minha filha ia sair viva. Então a polícia teve chance para fazer alguma coisa, e não fez. Ficou bem claro nas imagens que a polícia teve várias chances para ter tirado a Eloá viva, e não tirou.”

Para Ana Cristina, a polícia teve “50% de culpa” na morte de Eloá.

O advogado de Ana Cristina, Ademar Gomes, confirmou que a mãe de Eloá move uma ação contra o Estado, pedindo indenização por danos morais e materiais. “O Estado foi negligente, a Polícia Militar foi negligente. No seu depoimento [durante o julgamento de Lindemberg], o comandante disse que usava copos para escutar o que se passava no apartamento. O governador que me perdoe, mas o comando da PM não tem equipamentos adequados. E nós não podemos conceber cem horas de cárcere privado sem qualquer reação da polícia".

O governo do Estado foi procurado pela reportagem do UOL, mas até o momento não comentou as declarações.

"Não tenho medo"

Ana Cristina disse também que não teme Lindemberg, mas espera nunca ter que encontrá-lo. “Medo dele eu não tenho. Só espero nunca encontrar com ele no dia em que ele sair [da prisão]”, afirmou. A mãe de Eloá afirmou que o caso “é uma página virada” em sua vida, independentemente do que acontecer com o resultado do julgamento --a advogada de Lindemberg, Ana Lúcia Assad, entrou com requerimento pedindo a anulação do júri que condenou seu cliente e também a redução do tempo de condenação.

Para Ana Cristina, a advogada “prejudicou demais Lindemberg no julgamento”. “Ela ficou muito nervosa, muito estressada." Ana Cristina disse ainda ter ficado “chocada” com o depoimento do Lindemberg. “Ele mentiu em tudo. Só não mentiu quando disse que atirou na Eloá.”

O julgamento

Lindemberg Alves, 25, foi condenado a 98 anos e dez meses de prisão pela morte de Eloá, 15, após quatro dias de julgamento no fórum de Santo André (ABC paulista). A jovem foi feita refém por cerca de cem horas em outubro de 2008 em seu apartamento, localizado em um conjunto habitacional na periferia do município paulista. O crime considerado é o de homicídio doloso duplamente qualificado.

O réu também foi condenado por duas tentativas de homicídio (contra a amiga de Eloá, Nayara Rodrigues, e contra o sargento Atos Valeriano, que participou das negociações), cinco cárceres privados (de Eloá, e três amigos:  Iago Oliveira e Victor Campos, e duas vezes por Nayara, que foi liberada e retornou ao cativeiro) e disparos de arma de fogo (foram feitos quatro).

A pena proferida pela juíza Milena Dias será cumprida incialmente em regime fechado --ele não poderá recorrer em liberdade. O réu, entretanto, não pode ficar preso por mais de 30 anos, de acordo com a lei brasileira.

Entenda o caso

A ação começou no dia 13 de outubro de 2008. Com Eloá, foram feitos reféns os amigos dela que estavam reunidos para fazer um trabalho de escola: Iago Oliveira e Victor Campos foram liberados no primeiro dia de cárcere; Nayara Rodrigues foi liberada no segundo dia, mas retornou ao cativeiro dois dias depois.

O cárcere privado terminou no quinto dia, quando policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), que negociavam a liberação das reféns, invadiram o apartamento, afirmando ter ouvido um estampido do local. Em seguida, foram ouvidos mais tiros: dois deles atingiram Eloá, um na cabeça e outro na virilha, e outro atingiu o nariz de Nayara. Eloá morreu horas depois; Nayara foi levada para o hospital e sobreviveu. Lindemberg, sem ferimentos, está preso desde então.