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ONG internacional lança campanha para denunciar massacre de índios Awá, na Amazônia

Domenico Pugliese/Survival/Divulgação
Imagem: Domenico Pugliese/Survival/Divulgação

Fabiana Nanô

Do UOL, em São Paulo

23/04/2012 16h19

A ONG Survival International lançará nesta quarta (25) uma nova campanha para atrair a atenção mundial às ameaças que a tribo indígena amazônica Awá, que tem pouco contato com outras culturas, vem sofrendo nos últimos tempos por conta de pistoleiros, madeireiros e fazendeiros. O ator britânico Colin Firth, ganhador do Oscar pelo filme “O Discurso do Rei”, será a estrela da iniciativa e pedirá ao governo brasileiro para proteger a tribo, em um vídeo que será publicado no dia de lançamento da campanha.

“Um homem pode parar isto – o ministro da Justiça do Brasil. Ele pode mandar policiais para deter os madeireiros, mas agora essa simplesmente não é a prioridade dele”, declara o ator no vídeo, segundo adiantou o jornal “The Guardian”. “Devemos mudar isso antes que seja tarde. Precisamos de pessoas para noticiá-lo... Você, eu, nossos amigos e familiares. Esta é a nossa chance, agora, de fazer algo. Se as pessoas mostrarem que se importam, vai funcionar”, continua Colin Firth em seu discurso.

Focada na defesa de tribos indígenas, a Survival International acredita que os Awá são hoje a tribo mais ameaçada em âmbito global. “Decidimos lançar esta campanha, porque a situação dos Awá é crítica e, se nenhuma medida for tomada, eles não vão sobreviver”, afirmou Sarah Shenker, organizadora da iniciativa no Brasil, em entrevista ao UOL.

Segundo ela, a ONG acompanha a tribo há mais de 40 anos. Hoje, os Awá contam 360 índios em contato com outras culturas e entre 60 e 100 índios sem contato algum com outras culturas. “A pequena população faz com que estejam particularmente ameaçados, e alguns especialistas brasileiros falam em genocídio. Foram os próprios Awá que pediram para a Survival ajudar a divulgar sua situação e pressionar as autoridades a agir de forma rápida.”

Em um relato à organização, Pire’i Ma’a, integrante da tribo, afirmou que os fazendeiros “estão derrubando madeira e vão destruir tudo. Macacos, antas, os animais estão todos fugindo e não sei como vamos comer”. Os Awá são nômades e vivem da caça de animais. “Esta terra é minha, é nossa. Eles podem voltar para a cidade, mas nós vivemos na floresta. Eles vão matar tudo e nós vamos ficar com fome, assim como nossas crianças”, contou.

Shenker afirmou que as primeiras denúncias de massacre dos Awá surgiram na década de 1970, após a descoberta de minas de ferro na região da tribo, o que levou muitos madeireiros a desmatar a floresta e atacar os índios.

Em 1975, pistoleiros atacaram um grupo de Awá que não mantinha contato com outras culturas. Eles mataram vários índios e capturaram um garoto. O pai dele, Karapiru, conseguiu escapar e passou 12 anos sozinho na selva até chegar a um vilarejo. Ele então conseguiu encontrar o único sobrevivente do massacre além dele –seu próprio filho.

Hoje, Karapiru vive no vilarejo Awá de Tiracambu com a nova mulher e uma filha. À Survival, ele contou que foi um milagre conseguir escapar. “Eles mataram minha mãe, meus irmãos e irmãs e minha mulher. Eu fui baleado, mas não consegui ver a ferida e tratá-la. Foi incrível eu escapar. Fiquei um bom tempo na floresta, com fome e fugindo de pistoleiros. Espero que quando a minha filha cresça, ela não enfrente os mesmo problemas. Espero que tudo seja melhor para ela.”

Em janeiro deste ano, o Ministério Público Federal decidiu investigar a denúncia de que uma criança indígena Awá foi queimada viva por um madeireiro no interior do Maranhão. A Fundação Nacional do Índio declarou à época que se tratava de um “boato”.

Procurados pelo UOL, a Funai e o Ministério da Justiça não se manifestaram a respeito do lançamento da campanha.