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Rio+20: muro em UPP é derrubado para prefeito de Nova York ver a Baía de Guanabara

No dia anterior à visita de Bloomberg, uma retroescavadeira estava posicionada para derrubar o muro de uma localidade conhecida como Rodinha, em uma das ladeiras do morro da Babilônia, em Copacabana - Júlio César Guimarães/UOL
No dia anterior à visita de Bloomberg, uma retroescavadeira estava posicionada para derrubar o muro de uma localidade conhecida como Rodinha, em uma das ladeiras do morro da Babilônia, em Copacabana Imagem: Júlio César Guimarães/UOL

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

19/06/2012 11h59

A visita do prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, à Unidade de Polícia Pacificadora do Chapéu-Mangueira/Babilônia, nesta terça-feira (19), fez com que a Prefeitura do Rio de Janeiro providenciasse, ontem, a derrubada de um muro em uma localidade conhecida como Rodinha, em um dos acessos às favelas da zona sul da cidade. O motivo? A autoridade americana irá ao local para ter uma visão panorâmica da Baía de Guanabara.

O improviso do Executivo carioca se deve ao fato de que os morros da Babilônia e do Chapéu-Mangueira foram transformados em verdadeiros canteiros de obras desde maio de 2011, quando se iniciou um projeto de reestruturação urbana nessas comunidades --cada qual projetada para ganhar um selo atribuído pela Caixa Econômica Federal a iniciativas sustentáveis.

Operários continuavam nesta manhã a realizar os últimos reparos antes da chegada da comitiva americana --prevista para 13h de hoje. Em menos de 24 horas, a parte superior da ladeira Ari Barroso foi praticamente toda asfaltada, e os muros que exibiam pichações alusivas ao tráfico de drogas foram pintados.

Acima do portão de uma casa, a reportagem do UOL flagrou funcionários da Secretaria Municipal de Habitação correndo para retirar uma placa metálica que continha a inscrição "Ozama" -- uma referência ao nome do ex-líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden.

Diariamente, das 8h às 18h, por exemplo, carros não podem subir a ladeira Ari Barroso --acesso que une as duas favelas-- em função do fluxo de caminhões, retroescavadeiras e outros equipamentos.

"Ele [Michael Bloomberg] vai ver tudo maquiado. Até porque ele não vai subir o suficiente para ver os problemas da favela". A frase é de um grafiteiro, identificado apenas como Tigo, que criava ilustrações, na manhã desta segunda-feira (18), nas paredes das casas situadas no pé da favela, local pelo qual a comitiva do prefeito de Nova York subirá o Chapéu-Mangueira e o Babilônia.

"Se eles tivessem a mesma pressa que mostraram nos últimos dias, essas obras já tinham terminado há muito tempo", opinou a agente ambiental Kely Cristina de Oliveira. Segundo o engenheiro da Secretaria Municipal de Habitação Maurício Tostes Vieira, responsável por coordenar mais de 300 operários, "nem tudo ficará pronto, mas o suficiente para mostrar o trabalho" para a comitiva do prefeito de Nova York.

"Sempre há uma pressão para terminar o mais rápido possível. Quanto mais rápido você conclui, menores são os transtornos", afirmou Vieira ao ser questionado se a Prefeitura do Rio fizera algum tipo de pressão para que os trabalhos fossem acelerados em face da visita de Bloomberg.

Na companhia do prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes, e protegido por um forte esquema de segurança, o prefeito de Nova York subirá ruas, becos e vielas até o ponto em que estão sendo construídas 117 casas ecológicas para o projeto "Morar Carioca Verde". As obras devem ser encerradas até o fim do ano --16 serão entregues já em outubro.

Lâmpadas de LED (Light Emitting Diode) nos postes, asfalto de borracha, madeiras de borracha, pavimentação granulada e outras iniciativas foram tomadas para dar às favelas uma aparência de sustentabilidade. As obras foram financiadas pela Caixa Econômica Federal, que investiu cerca de R$ 43 milhões.

"Não vamos dar essa moral"

Questionado sobre a possibilidade de o grupo de grafiteiros da comunidade do Chapéu-Mangueira desenhar algum símbolo americano em homenagem a Bloomberg, a exemplo da Estátua da Liberdade, o principal monumento de Nova York, o jornalista e coordenador da organização não governamental Núcleo ICA, Álvaro Maciel Júnior, afirmou: "Não vamos dar essa moral para ele".

De acordo com os grafiteiros, a decoração não foi pensada apenas para a visita de um dos nomes mais badalados da Cúpula dos Prefeitos, encontro que faz parte da agenda do Humanidade2012 --evento paralelo à Rio+20. As duas comunidades estão envolvidas em um projeto chamado "Leme+20", que pretende mostrar as belezas ecológicas do bairro e potencializar o fluxo turístico na região.