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Em 50 anos, número de cidades na América Latina aumenta mais de seis vezes, diz ONU

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio de Janeiro

21/08/2012 12h00Atualizada em 21/08/2012 14h39

O número de cidades da América Latina aumentou seis vezes em 50 anos, informa a ONU no relatório “Estado das Cidades da América Latina e Caribe”, divulgado nesta terça-feira (21) no Rio de Janeiro. Hoje, a região tem 16 mil cidades; há 50 anos, em 1960, havia 2.666 municípios.

Segundo o relatório inédito produzido pelo ONU-Habitat (Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos), metade da população urbana nos países latino-americanos reside atualmente em cidades com menos de 500 mil habitantes, consideradas médias.

De uma população total de 588 milhões de pessoas, quase 80% dos latino-americanos vivem em cidades. Destas, as cidades médias são lar para metade da população (222 milhões de pessoas), enquanto outras 65 milhões (14%) vivem nas chamadas megacidades. O parâmetro de megacidade é relativo a cada região, mas, de acordo com a ONU, pode-se considerar uma megacidade aquela que tem mais de 10 milhões de habitantes --e ela pode reunir vários centros conurbados.

O estudo da ONU indica que uma das causas pela maior atratividade das cidades intermediárias se deve à melhora no acesso à água, saneamento e serviços.

Êxodo do campo perdeu peso

O êxodo migratório do campo para as cidades, a chamada “explosão urbana”, característica da segunda metade do século 20, perdeu peso na maioria dos países da região. As migrações agora são “mais complexas”, de acordo com o estudo, e ocorrem principalmente entre cidades.

“Hoje, a transição urbana da região está praticamente consolidada, e a população urbana cresce a um ritmo muito menor, mas estão havendo novos fenômenos, como o aumento das migrações entre cidades, a emergência de cidades secundárias e a conformação de megarregiões e corredores urbano”, aponta o estudo.

Cidades crescem menos compactas

Em termos econômicos, o peso relativo das megacidades está diminuindo em benefício de cidades menores, aponta a ONU, uma vez que a emergência de novos pólos econômicos e configurações urbanas que ocorrem pela interligação entre cidades ampliam as oportunidades de desenvolvimento econômico.

No entanto, estas transformações trazem consigo o risco de “criar novas e maiores disparidades sociais e territoriais”. "Estamos reproduzindo nas cidades modelos que sabemos que não funcionam mais. Temos que acelerar o ritmo das reformas urbanas. Os governos precisam investir mais esforços para o monitoramento das cidades”, afirmou Erik Vittrup, oficial principal de Assentamentos Humanos da ONU-Habitat.

Apesar da desaceleração demográfica na região, se observa a expansão da mancha urbana. Este é um dado preocupante, segundo o estudo, pois demonstra que as cidades crescem cada vez menos compactas e se expandem fisicamente a uma taxa que supera o aumento de sua população. “Um padrão que não é sustentável”, destaca o informe.

Para as Nações Unidas, poucos governos locais estão preparados para lidar com as mudanças das cidades. “Sem o apoio técnico e político, as cidades estão expostas a repetir cenários de crescimento desordenado e de assentamentos precários, com as conhecidas consequências econômicas, sociais e ambientais”, alerta o documento.

Exemplos de crescimento

São Paulo e Rio de Janeiro são as duas maiores do Brasil em termos populacionais. O relatório menciona que São Paulo forma uma megarregião, por estar muito próximo às cidades de Campinas e Santos, separadas por distâncias inferiores a 100 km, criando assim uma área privilegiada de intercâmbios comerciais e um pólo econômico.

Em seu relatório, a ONU destaca ainda o caso do crescimento de Macaé, no litoral norte fluminense. A cidade deixou de ser uma pequena cidade agrícola para tornar-se uma base de operações petrolíferas, comum incremento no seu PIB (Produto Interno Bruto) per capita de quase US$ 27 mil (R$ 54,5 mil), o que acarretou numa “complexa transformação sócio-espacial”, destaca o documento.

Entre 1980 e 2010, a população de Macaé cresceu 17%, passando de 75.863 habitantes a 206.728, e com isso, cresceu também a demanda por infraestrutura e serviços públicos. Por mais que a oferta de trabalho tenha tido um boom de novos postos, a exigência por mão de obra qualificada eliminou as chances de empregos locais no setor de petróleo.

Menos filhos e maior longevidade

De acordo com o relatório da ONU, a drástica redução da taxa de fecundidade – que passou de 5,8 filhos por mulher na década de 50 para dois filhos em 2010 – é responsável pela evolução demográfica da região.

Outro elemento chave para o baixo crescimento populacional da região é o envelhecimento dos latino-americanos. Em 50 anos, a expectativa de vida passou de 51 para 74 anos de vida.