Único acesso à área ocupada por guaranis-kaiowás é pelo rio Iguatemi
A pauta: ir até a área de disputa dos índios guaranis-kaiowás na fazenda Cambará, em Iguatemi, em Mato Grosso do Sul. Para isso, a reportagem do UOL saiu de São Paulo na quarta-feira (31) à noite em direção a Dourados, segunda maior cidade do Estado. Na quinta, partiu junto com o fotógrafo para a área que fica a 255 km de distância. O trajeto sob chuva levou quatro horas.
Chegando à cidade, encontramos dois jornalistas locais que estavam acompanhados de Ivan, índio guarani-kaiowá da aldeia Sassoró, que fica às margens do rio Iguatemi. Do outro lado do rio é a área ocupada.
Nos juntamos a eles, e, inicialmente, tentamos chegar ao acampamento pela fazenda Cambará. Depois de mais de uma hora em estrada de terra enlameada, onde até uma caminhonete de tração nas quatro rodas rodou, chegamos a uma fazenda. As porteiras estavam fechadas, e não havia ninguém à vista.
Onde fica
Iguatemi está a 470 km de Campo Grande
Entramos na fazenda (Ivan, com medo, permaneceu do lado de fora) em busca de alguém. Encontramos o segurança, mas não era a fazenda Cambará, era uma vizinha. Ele nos contou que todas as propriedades da região estavam reforçando a segurança com receio de que os índios “invadissem” mais terras.
Voltamos para buscar a entrada da fazenda Cambará e passamos mais meia hora no carro até estarmos na frente da porteira. Lá conversamos com o administrador da fazenda, Wanderley, que mora com a mulher e dois filhos (uma menina de dez anos e um bebê).
Wanderley não poderia nos deixar entrar na fazenda sem autorização do proprietário, Osmar Bonamigo, que estava em Brasília. Após várias tentativas de contato telefônico, sua mulher, Rejane, atendeu e negou a permissão de entrada na fazenda para “qualquer pessoa”. Quando questionada pela reportagem se ela ou Osmar falariam com a imprensa ela disse ‘não’ e desligou o telefone.
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Arco e flecha em mãos
A única entrada do acampamento era o acesso usado pelos índios: o rio. Depois de mais de 50 minutos em estradas de terra, estávamos na aldeia Sassoró. Ivan nos levou até a beira do rio, fronteira com a nova área acampada.
Do outro lado, Marilene disse ser a representante e nos perguntou o que queríamos ali. Explicamos que éramos jornalistas e que queríamos visitar o acampamento. Ela e mais três ou quatro mulheres e várias crianças nos olhavam do outro lado do rio, com um arco e flecha em mãos.
Ela questionou como poderia saber que éramos mesmo jornalistas e não fazendeiros ou pistoleiros. Além disso, pediu uma autorização da Funai, que não tínhamos, para entrarmos lá. O receio era latente em sua voz.
Em cerca de meia hora de conversa, a convencemos de que não oferecíamos perigo. Mas como atravessar o rio? Os índios, crianças e idosos, inclusive, usam um fio amarrado em cada extremidade para atravessá-lo --a correnteza é forte. Eles nos ofereceram um bote, que estava furado. Nele, fui eu e outro repórter. Os fotógrafos foram nadando como os índios.
Local precário
Fomos recebidos com rezas e danças de boas vindas. O local é precário, com poucas cabanas, pequenas, em uma área de pouco mais de 10 mil metros quadrados. Ali, dizem, vivem mais de 170 pessoas, mas no momento da visita, apenas dez adultos e dez crianças estavam no local. Após uma conversa com os moradores, voltamos para o outro lado do rio antes que escurecesse.
Deixamos a comunidade e vimos que sua esperança quanto à solução se renova a cada novo visitante (que, nestes últimos dias, chegam todos os dias).
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