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"Eles não têm nenhuma evidência científica contra mim", diz Carla Cepollina

Em 2006, a advogada Carla Cepollina (à esq.), deixa a sede do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), em São Paulo, após conversar informalmente com policiais - Diego Padgurschi/Folhapress
Em 2006, a advogada Carla Cepollina (à esq.), deixa a sede do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), em São Paulo, após conversar informalmente com policiais Imagem: Diego Padgurschi/Folhapress

Débora Melo

Do UOL, em São Paulo

06/11/2012 00h41Atualizada em 06/11/2012 00h47

Acusada de matar o coronel da reserva da Polícia Militar Ubiratan Guimarães, em 2006, a advogada Carla Cepollina, 46,  disse nesta segunda-feira (5), após o primeiro dia de seu julgamento, que a acusação não tem provas contra ela e que os jurados perceberam isso.

"Eles não têm nenhuma evidência científica, absolutamente nada contra mim. Eu confio na Justiça", disse aos jornalistas na saída do plenário.

O primeiro dia do julgamento terminou após sete horas e meia de depoimentos de testemunhas e será retomado nesta terça-feira (6), quando é aguardado o interrogatório de Carla Cepollina.
 
Cepollina foi expulsa nesta segunda-feira da sala do tribunal do júri, no Fórum da Barra Funda, em São Paulo. A ordem para que ela deixasse o local partiu do juiz do caso, Bruno Ronchetti de Castro. Na sequência, a advogada e mãe da ré, Liliana Prinzivalli, foi proibida de fazer perguntas à testemunha que depunha naquele momento, o delegado Marco Antonio Olivato --Liliana depois se desculpou e pediu uma nova oportunidade, que foi concedida pelo juiz.
 
A confusão que resultou na expulsão de Cepollina começou quando a advogada Liliana perguntou a Olivato se ele confirmava que havia coagido a ré a confessar o crime. Liliana afirma que, duas semanas após o assassinato do coronel, Olivato apreendeu uma arma encontrada na casa dela e teria dito a Cepollina que, caso ela não confessasse o crime, a mãe seria presa por porte ilegal de arma --Liliana de fato chegou a ser presa.
 
"O senhor falou: 'Ou você [Carla] confessa [o crime] ou sua mãe vai presa'. Não falou?", perguntou Liliana ao delegado Olivato, que negou. A resposta do delegado, então, provocou a ré, que retrucou: "Falou, sim".
Na sequência, o juiz lembrou que a ré não poderia se manifestar e, por isso, determinou que ela deixasse o tribunal. Cepollina, então, levantou-se para sair, mas voltou a dizer que o delegado teria proposto a troca da prisão de sua mãe por uma suposta confissão enquanto deixava a sala.
 
A advogada insistiu na história da arma e também em manifestar suas próprias opiniões. O juiz, então, determinou que Liliana não faria mais perguntas na sessão desta segunda-feira, apenas por meio do outro advogado da equipe de defesa, Eugenio Malavasi.

Antes de tomar essa decisão o juiz já havia alertado a advogada, lembrando que ela tinha sido advertida ao menos outras seis vezes. "Uma pessoa não pode servir como testemunha e advogada do caso", disse o juiz, lembrando que a própria Liliana insistiu para ser advogada da filha no julgamento.
 
Após as perguntas do advogado de defesa Malavasi, Liliana pediu desculpas por seu comportamento. "Peço desculpas e peço uma oportunidade porque, além das perguntas do nobre colega, eu tenho algumas perguntas e acho que a defesa pode ser prejudicada. Eu me excedi", disse. O juiz, então, voltou a lembrar das várias advertências feitas durante o dia e aceitou o pedido, com condições. "Retorno a palavra à senhora desde que não faça afirmações e não cometa os mesmos abusos e os mesmos excessos", disse.

Possessiva

Olivato, que estava à frente do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) quando o crime ocorreu e conduziu as investigações, disse que os filhos e os assessores do coronel, que era deputado estadual e estava em campanha pela reeleição, disseram ainda que Ubiratan já havia rompido o relacionamento com Cepollina e já estava namorando a delegada da PF (Polícia Federal) Renata Madi.

“Os filhos alegavam que eles não tinham mais um relacionamento afetivo, que ele já estava nesse relacionamento com a delegada. Traçaram o perfil da Carla Cepollina como uma pessoa possessiva, ciumenta, que de certa forma sufocava o pai. Ela queria um relacionamento mais oficial, e o pai não queria isso”, disse Olivato durante seu depoimento no Fórum Criminal da Barra Funda --o depoimento dele  começou às 18h10 e ainda não terminou.

O coronel Ubiratan ficou conhecido por ser o comandante da operação de invasão do Carandiru em 1992, que resultou na morte de 111 presos e ficou conhecida como “Massacre do Carandiru”. Em 2001, o coronel chegou a ser condenado a 632 anos de prisão, mas um novo julgamento, em fevereiro de 2006, acabou o absolvendo.

Testemunhas

Nenhuma das cinco testemunhas convocadas pela defesa de Carla Cepollina compareceu ao Fórum Criminal da Barra Funda, nesta segunda-feira (5), primeiro dia de julgamento. Mesmo assim, a advogada e mãe da ré, Liliana Prinzivalli, não pediu o adiamento do júri.

"Desisto da oitiva das testemunhas ausentes, pois fazemos questão da realização do julgamento nesta data", disse Liliana ao juiz antes do início dos trabalhos.

A promotoria chegou a pedir o adiamento do julgamento por causa da ausência das testemunhas Renata Madi, delegada da PF (Polícia Federal) e suposta amante do coronel à época, e Fabricio Rejtman Guimarães, filho do coronel. O pedido de adiamento, porém, foi negado.

Bate-boca

A primeira testemunha convocada pela acusação, Odete Adoglio de Campos, 85, já foi ouvida.

O depoimento dela gerou um bate boca entre a advogada da ré --Liliana Prinzivalli, que é mãe de Carla-- e o promotor de acusação, João Carlos Calsavara.

Ao fazer perguntas à testemunha, a advogada da ré afirmou que a morte teria ocorrido na manhã do dia 10.

A declaração causou reação do promotor. Para ele, a advogada estaria mentindo. "Não estou mentindo, quem mente é o senhor", disse Prinzevalli, que já havia adiantado que uma das estratégias da defesa seria provar que a morte ocorreu dia 10, data em que a acusada Carla Cepollina não estava com Ubiratan.

O juiz interveio. "Segundo consta no processo, a morte ocorreu no dia 9 de setembro. Se a senhora discorda, aguarde o momento oportuno", afirmou. De acordo com o juiz, o processo indica que a morte de Ubiratan ocorreu dia 9, das 19h05 às 20h27.

Durante as perguntas feitas pela promotoria à testemunha, a advogada interferiu e disse que Calsavara "colocava palavras na boca da testemunha", ao relatar que, em 2007, durante uma simulação da perícia sobre o ruído de tiros, a mulher disse que o barulho que escutou era igual o que havia ouvido no dia do crime.