Obras de Niemeyer em São Paulo mostram possibilidade de espaço urbano mais democrático
A obra de Oscar Niemeyer (1908-2012) na capital paulista é uma mostra de como a arquitetura moderna pode tornar o espaço urbano mais democrático. A avaliação é do pesquisador Rodrigo Queiroz, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP). “Ao deixar o térreo livre, Niemeyer demonstra que, mesmo dentro do tecido urbano de uma cidade desprovida do projeto moderno, como São Paulo ou qualquer outra no Brasil, que não seja Brasília, é possível fazer uma cidade mais acessível a todos na medida em que você tem liberdade de ir e vir, transitando pelo térreo desses edifícios”, destacou.
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A maior cidade do Brasil, conhecida por seus arranha-céus e pelo ritmo acelerado de seus mais de 10 milhões de habitantes, tem no conjunto de edifícios da década de 1950, projetado por Niemeyer, o contraponto de uma sociabilidade favorecida pelo legado do arquiteto. Prédios no centro da capital, como o Copan, a Galeria Califórnia e o Edifício Eiffel têm o térreo livre, o que “faz com que a cidade passe por debaixo dos edifícios”, explica o pesquisador. Queiroz acredita que essa perspectiva muda a relação entre o público e o privado, contrapondo-se à lógica inerente ao espaço urbano.
O professor da FAU destaca que os edifícios projetados por Niemeyer no centro da capital fogem do imaginário das pessoas sobre a obra do arquiteto. “[O projeto do Niemeyer] é sempre uma obra plasmada na cidade. O museu de Niterói, os edifícios de Brasília são imagens”, avalia. Além do Copan, que é, dentre as obras dele, o edifício mais celebrado e conhecido em São Paulo, o pesquisador cita ainda os edifícios Montreal, Triângulo e Seguradora.
O Copan, que completou quatro décadas em 2006, foi encomendado pela Companhia Pan-Americana de Hotéis e Turismo, com objetivo de ser um grande centro urbanístico, de acordo com informações do site da prefeitura de São Paulo. O prédio tem a maior estrutura de concreto armado do país, com 115 metros de altura, 32 andares e 120 mil metros quadrados de área construída. Estima-se que 5 mil pessoas morem no edifício. Em forma de “S”, a arquitetura do prédio, localizado na Avenida Ipiranga, está sempre evidente no horizonte das principais vias do centro.
Ainda na década de 1950, Niemeyer assinou o projeto arquitetônico do Parque Ibirapuera, que foi um marco para a comemoração dos 400 anos da cidade. Com área de 1,6 milhão de metros quadrados, o arquiteto foi responsável por projetar a infraestrutura do parque. Dentre as obras características, está a Oca, uma estrutura circular, similar a uma construção indígena, projetada para receber grandes exposições.
A contribuição do arquiteto para o desenho da cidade de São Paulo também se deu em outros importantes projetos mais recentes, como o Memorial da América Latina e o Sambódromo. O memorial, inaugurado em 1989, traz um conjunto de oito edifícios destinados a exposições e mostras com objetivo de difundir as manifestações culturais latino-americanas.
A obra mais recente de Niemeyer construída em São Paulo data de 2005, o Auditório do Ibirapuera. Apesar de ter sido idealizado ainda na década de 1950, o projeto foi finalizado em 2005. Construído em concreto branco armado, o edifício caracteriza-se pela simplicidade volumétrica do bloco único que em planta é um trapézio, de acordo com as informações do site do auditório. Da porta de entrada do auditório sai uma espécie de língua de fogo, escultura do próprio arquiteto, chamada de Labareda.
Rodrigo Queiroz avalia que o maior legado de Niemeyer é sua obra construída, tendo em vista que ele tornou real o sonho das vanguardas modernas. “Nenhum outro arquiteto teve a quantidade de trabalhos construídos e a oportunidade de fazer a maior obra que o projeto moderno já fez, que é Brasília. O grande sonho da modernidade sempre foi a cidade moderna. O sonho da pintura, da escultura, da arquitetura era a construção de uma espacialidade total. Brasília é isso”, declarou.
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