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Brasil tem uma morte de homossexual a cada 26 horas, diz estudo

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

10/01/2013 17h41

O Grupo Gay da Bahia, a mais antiga associação de defesa dos direitos humanos dos homossexuais no Brasil, divulgou nesta quinta-feira (10), o Relatório de Assassinato de LGBT de 2012. No ano passado, 338 homossexuais foram assassinados no país, o que significa uma morte a cada 26 horas. Os números mostram um aumento de 21% em relação a 2011, ano em que houve 266 mortes, e um crescimento de 177% nos últimos sete anos.

Os homens homossexuais lideram o número de mortes, com 188 (56%), seguidos de 128 travestis (37%), 19 lésbicas (5%) e dois bissexuais (1%).

De acordo com o estudo, o Brasil está em primeiro lugar no ranking  mundial de assassinatos homofóbicos, concentrando 44% do total de mortes de todo o planeta, cerca de 770. Nos Estados Unidos, país que tem cerca de 100 milhões a mais de habitantes que o Brasil, foram registrados 15 assassinatos de travestis em 2011, enquanto no Brasil, foram executadas 128.

No país

Segundo o grupo, São Paulo é o Estado onde mais homossexuais foram assassinados em números absolutos, 45 vítimas, e Alagoas é o Estado mais perigoso para homossexuais em termos relativos, com um índice de 5,6 assassinatos por cada milhão de habitantes. Para toda a população brasileira, o índice é 1,7 vítima LGBT por milhão de brasileiros.

O Acre se destacou com nenhuma morte nos últimos dois anos, seguido de Minas Gerais, cujas 13 ocorrências representam 0,6 morte para cada milhão de habitantes.

Segundo o coordenador do estudo e antropólogo da UFBA (Universidade Federal da Bahia) Luiz Mott, não se observou correlação entre desenvolvimento econômico regional, escolaridade, religião, raça, partido político do governador e maior índice de homofobia letal.

“Esses números representam apenas a ponta de um iceberg de violência e sangue, já que nosso banco de dados é construído a partir de notícias de jornal, internet e informações enviadas pelas organizações LGBT, e a realidade deve certamente ultrapassar em muito essas estimativas", explica.

"Dos 338 casos, somente em 89 foram identificados os assassinos, sendo que em 73% não há informação sobre a captura dos criminosos, prova do alto índice de impunidade nesses crimes de ódio e gravíssima homofobia institucional/policial que não investiga em profundidade esses homicídios", afirma Mott.

Plano Nacional

De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o Governo Federal tem um Plano Nacional de defesa dos direitos dos homossexuais, com 51 diretrizes e 180 ações que foram implementadas pelo poder público, para garantir a igualdade de direitos e exercício pleno da cidadania LGBT da população brasileira.

Seu último relatório referente a violações dos direitos humanos de homossexuais é relativo a 2011, e o de 2012 está sendo finalizado. De janeiro a dezembro de 2011, foram 6.809 denúncias, envolvendo 1.713 vítimas e 2.275 suspeitos. Segundo a secretaria, a diferença de 32,8%, mostra que as violências são cometidas por mais de um agressor ao mesmo tempo: grupos de pessoas que se reúnem para espancar homossexuais são um exemplo comum deste tipo de crime.

A secretaria ainda destaca que “as estatísticas analisadas referem-se às violações reportadas, não correspondendo à totalidade das violências ocorridas cotidianamente contra LGBTs, infelizmente muito mais numerosas do que aquelas que chegam ao conhecimento do poder público. Apesar da subnotificação, os números apontam para um aterrador quadro de violências homofóbicas no Brasil: no ano de 2011, foram reportadas 18,65 violações de direitos humanos de caráter homofóbico por dia. A cada dia, durante o ano de 2011, 4,69 pessoas foram vítimas de violência homofóbica reportada no país”.