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Cerimônia coletiva celebra união estável de 47 casais gays em São Paulo

Nunes e Rodrigues acordaram cedo e cada um foi se arrumar em um salão de beleza diferente. Se encontraram já prontos e seguiram juntos para a cerimônia coletiva no bairro do Limão, zona norte de SP - Leandro Moraes/UOL
Nunes e Rodrigues acordaram cedo e cada um foi se arrumar em um salão de beleza diferente. Se encontraram já prontos e seguiram juntos para a cerimônia coletiva no bairro do Limão, zona norte de SP Imagem: Leandro Moraes/UOL

Thiago Varella

Do UOL, em São Paulo

28/09/2012 22h52

Após 24 anos vivendo juntos, Americo Nunes Neto, 51, e Jorge Eduardo Reyes Rodrigues, 62, finalmente se casaram. Quer dizer, agora, o casal homossexual oficializou a união estável em uma cerimônia coletiva, ocorrida na noite desta sexta-feira (28), no CTN (Centro de Tradições Nordestinas), no bairro do Limão, zona norte de São Paulo.

Outros 46 casais também oficializaram a união estável na cerimônia comunitária gratuita organizada pela Secretaria Estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania, do governo do Estado, por meio do programa Centro de Integração da Cidadania (CIC) e da Coordenação da Diversidade Sexual. O encontro também contou com o apoio da Defensoria Pública do Estado de São Paulo e o 29º Tabelionato de Notas.

Apesar de ter sido uma cerimônia de união estável, na prática, o que ocorreu foi uma grande festa coletiva de casamento. Os 47 casais, 32 de mulheres e 15 de homens, assinaram um terno e receberam escrituras, mas também trocaram beijos, alianças, juras de amor e oficializaram os relacionamentos na frente dos padrinhos, amigos e parentes.

Nunes e Rodrigues estavam eufóricos. Acordaram cedo e cada um foi se arrumar em um salão de beleza diferente. Se encontraram já prontos e seguiram juntos para a cerimônia. "A emoção que estamos sentindo é indescritível. Estamos renovando nossos votos de amor", afirmou Nunes, ao lado do parceiro.

Quando se conheceram, em 1988, não imaginavam que, um dia, assinariam um documento oficializando o relacionamento, como um casal heterossexual. De lá para cá, viram muitos amigos perderem direitos e bens quando o parceiro morreu. Antes da decisão do STF, em maio de 2011, de reconhecer a união estável homoafetiva, os casais gays não tinham direito algum.

E ainda hoje não têm os mesmos direitos que os casais heterossexuais. Em São Paulo, a Justiça dá a possibilidade de, uma vez com a união estável consolidada, o casal se casar de fato. E é isso que Nunes e Reyes irão fazer em setembro do ano que vem. Não que isso mude algo na prática, mas eles querem mostrar que, de fato, têm os mesmos direitos que qualquer outro casal.

"No Rio de Janeiro, a Justiça não aceita o casamento gay. O casal pode assinar um contrato de união estável, mas não pode se casar", afirmou o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) presente na cerimônia e autor de uma proposta de emenda constitucional (PEC) que mudaria o artigo 226º da Constituição para que o casamento homoafetivo seja assegurado pela lei.

"Hoje os casais dependem da boa vontade da Justiça. Sei que a diferença entre união estável e casamento é mínima, mas não podemos nos contentar com uma sorte de gueto", disse o deputado.

Nunes e Reyes pretendem comemorar a conquista com uma viagem de lua-de-mel para o litoral. Quando voltarem, continuarão juntos na militância e no trabalho que desenvolvem no Instituto Vida Nova, uma ONG que auxilia pessoas infectadas com o vírus HIV.