Internação compulsória aproxima "pobres e ricos", diz secretária
A secretária da Justiça e da Defesa da Cidadania, Eloisa de Sousa Arruda, afirmou nesta segunda-feira (21) durante lançamento do programa para viciados em drogas, do Governo do Estado de São Paulo, que a internação compulsória (sem autorização da família) ou involuntária (com autorização da família) "aproxima pobres e ricos, já que favorece quem não tem dinheiro para pagar advogado e internar um parente que está em situação de drogadição".
A internação, uma parceria entre o governo do Estado, Tribunal de Justiça, Ministério Público Estadual, OAB-SP e Defensoria Pública, começa hoje no Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas do Estado), na região central de São Paulo.
Segundo a secretária, grupos de agentes de saúde farão abordagens de usuários de drogas nas ruas, visando àqueles com saúde debilitada, às grávidas e às crianças. Em seguida, o resgate será acionado, e os indivíduos serão encaminhados para pronto-socorros. Lá, uma equipe médica vai avaliar a necessidade da internação. Caso o paciente se recuse, ele será encaminhado para o Cratod, onde um plantão com defensores públicos, advogados, membros do Ministério Público e agentes de saúde vai avaliar o caso. Um juiz de plantão no local deve autorizar ou não pedidos de internação compulsória.
Arruda disse que desconhece o tamanho real da demanda por tratamento e a capacidade do Estado de atender a todos os casos, mas ressaltou que a internação será feita em hospitais e comunidades terapêuticas que seguem os padrões definidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
O uso da força policial nas internações ou abordagens aos usuários foi descartado pela secretária. Há um ano, a ação da Polícia Militar na ocupação da cracolândia, na região da Luz, foi alvo de duras críticas, por conta de violência e do despreparo dos agentes.
Fiscalização
O promotor de Justiça Eduardo Valério, do Ministério Público Estadual, afirmou que vai fiscalizar a aplicação da legislação durante todo o processo de internação no Cratod e cobrar do Estado uma "porta de saída" para os dependentes químicos após o tratamento. "O governo vai apresentar relatórios mensais de todos aqueles que forem internados involuntariamente ou compulsoriamente. Eles serão tratados por seus nomes, e não como números."
O defensor público Carlos Weiss, coordenador do núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública, disse que caberá a eles fazer a defesa judicial de quem não quiser ser internado. "Podemos até mesmo solicitar ao juiz um outro tratamento em meio aberto, que não requeira internação."
Famílias procuram internação compulsória em meio a protesto
Críticas
Maria Nazareth Cupertino, do Fórum da Assistência Social da Cidade de São Paulo (FAS), criticou o modelo adotado e ressaltou que "o problema do uso de drogas não pode nem ser encarado como problema de polícia nem como problema de justiça".
"A secretária diz que este tratamento aproxima pobres e ricos, mas a família rica sabe muito bem onde o seu parente será internado. Que garantias as famílias pobres têm de que o local onde seu parente está internado será informado? E mais, quem garante que essas comunidades terapêuticas terão médico e psiquiatras de qualidade?"
O padre Julio Lancellotti, da Pastoral de Rua da Arquidiocese de São Paulo, acompanhou o lançamento do programa e também protestou. Segundo ele, o tratamento ambulatorial oferecido pelo governo é insuficiente.
"É uma medida drástica, feita no final do processo. Por que não colocar um Caps [Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas] em cada bairro ou psiquiatras e equipes médicas em todas as periferias? Não seria mais fácil tratar dependentes químicos desta maneira?", afirmou. "O leito é para dormir. O que o dependente precisa é de atenção psicossocial."
Lancellotti também ressaltou que não existe nenhum tratamento infalível, uma vez que, segundo ele, o problema não é a droga, mas a vida muitas vezes miserável que leva as pessoas a consumirem o crack.
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