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"Faça a delação premiada", diz advogada que teve relacionamento com acusado de assassinar juíza

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

29/01/2013 13h52

A advogada Ana Cláudia Abreu Lourenço, testemunha no processo sobre a morte da juíza Patrícia Acioli, afirmou que um dos três réus julgados nesta terça-feira (29), na 3ª Câmara Criminal de Niterói, deveria aceitar a oferta de delação premiada --ele havia confessado o crime e revelado detalhes sobre o mesmo, em Juízo, mas voltou atrás durante o curso do processo.

Na visão da depoente, o PM Jéfferson de Araújo Miranda --com quem a advogada teve relacionamento amoroso por um ano-- só voltou atrás em relação à delação premiada por supostas ameaças do coronel apontado como mandante do crime, Cláudio Oliveira, ex-comandante do batalhão de São Gonçalo (7º BPM).

"Eu falaei para o Jéfferson: faça a delação premiada, pois impunes vocês não vão sair disso. Você vai perder o seu posto de policial, e absolvido não vai ser. (...) Você corre o risco de sair daqui com uma pena maior do que o Sérgio, que atirou nela [referindo-se a Sérgio Costa Júnior, condenado a 21 anos de prisão]", disse.

"É inacreditável que um ser humano com a idade dele volte atrás, porque ele me disse [que teria participado do crime]. Voltar atrás por causa de um comandante. Há boato de que o Cláudio ameaçou ele e toda a família de morte", disse.

Lourenço afirmou ainda ter temor em relação a possíveis represálias. "Para ele [coronel Oliveira] me fazer peneira ou me fazer uma nova Patrícia Amieiro pouco custa. Eu não estou lidando com um réu qualquer. Estou lidando com o comandante do batalhão", disse ela.

Entenda o caso

De acordo com a investigação da Divisão de Homicídios, dois PMs foram responsáveis pelos 21 disparos que mataram Patrícia Acioli: o cabo Sérgio Costa Júnior e o tenente Daniel Santos Benitez Lopez, que seria o mentor intelectual do crime, a mando do tenente-coronel Cláudio Oliveira.

Outros oito policiais militares teriam realizado funções operacionais no planejamento do assassinato e responderão por formação de quadrilha e homicídio. Apenas Handerson Lents Henriques da Silva, que seria o suposto informante do grupo, não foi denunciado por formação de quadrilha.

O assassinato de Patrícia Acioli se deu por volta de 23h55 do dia 11 de agosto de 2011, quando ela se preparava para estacionar o carro na garagem de casa, situada na rua dos Corais, em Piratininga, na região oceânica de Niterói. Benitez e Costa Júnior utilizaram uma motocicleta para seguir o veículo da vítima.

Algumas horas antes de morrer, a magistrada havia expedido três mandados de prisão contra os dois PMs, réus em um processo sobre a morte de um morador do Morro do Salgueiro, em São Gonçalo.

A juíza era conhecida no município por adotar uma postura combativa contra maus policiais. Segundo a denúncia do MP, o grupo seria responsável por um esquema de corrupção no qual ele e os agentes do GAT recebiam dinheiro de traficantes de drogas das favelas de São Gonçalo.