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No Facebook, chefe de investigação no RS chama incêndio de "absurdo" e promete "fazer justiça"

Janaina Garcia*

Do UOL, em São Paulo

31/01/2013 19h00Atualizada em 31/01/2013 19h30

Para o delegado que chefia as investigações do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (301 km de Porto Alegre), Marcelo Arigony, a tragédia é fato a ser classificado como “absurdo e infeliz”, de modo que cabe à Polícia Civil “fazer justiça”. 

As declarações do delegado-chefe regional estão em duas postagens de sua página pessoal no Facebook, esta semana, em uma das quais há uma foto em que supostamente membros da boate estariam manuseando artefatos pirotécnicos no interior do estabelecimento. Com a imagem, Arigony sugere: “Recebi pelo msn do face. Tirem suas próprias conclusões!”

Chefe da investigação no RS posta foto de suposto local da tragédia

A postagem, feita na madrugada desta quinta-feira (31), dividiu os internautas nos comentários: para alguns, o policial extrapolou a função de investigação e cometeu “um engano”; para outros, Arigony apenas foi "transparente" ao mostrar, ainda que em uma rede social, o que está sendo apurado.

“Não nos damos conta de que qualquer coisa que colocamos na internet ou opinião que emitimos --principalmente vinda de um delegado, o qual tem argumento de autoridade --geram grandes repercussões e condenam pessoas que, até então, não sabemos realmente se tiveram culpa ou não”, escreveu uma internauta que se disse "estudante de direito".

“Não vejo mal na publicação do delegado. Até porque todo o material coletado até agora pela polícia, imprensa e peritos nos leva para um único lado: a irresponsabilidade dos principais envolvidos na administração e fiscalização da Kiss”, alegou outro internauta. Um terceiro comentário alerta para o risco de a foto ser “uma montagem”.

Além de delegado, Arigony também é professor do curso de direito em uma universidade de Santa Maria.

Em outra postagem, delegado diz que incêndio é "absurdo"

Primeira postagem

Em uma primeira postagem, na última terça-feira (29), o delegado destacou que os policiais estão trabalhando “para informar à sociedade que o fato será esclarecido em todas as suas circunstâncias”, de modo que “absolutamente todos os envolvidos terão sua responsabilidade apontada no caderno investigatório, independente da instância a que pertençam”.

“Eu particularmente muito triste (sic) pela perda de uma prima muito querida, alunos e conhecidos”, concluiu o delegado. A esta postagem, Arigony recebeu apenas palavras de incentivo e congratulações pelo trabalho desenvolvido.

Em entrevista coletiva sobre as investigações, hoje à tarde, o delegado disse ter visto a foto da suposta pirotecnia na rede, classificou a própria atitude como “normal” e alegou que representantes de uma empresa cujo logotipo parece na foto em questão deverão ser chamados a depor. A empresa, segundo Arigony, organiza festas em boates. Na entrevista, porém, o policial admitiu que “aparentemente” a foto foi tirada dentro da Kiss.

Advogado critica delegado e pede "isenção"

A reportagem tentou contato com o advogado Jader Marques, que defende Elissandro Callegari Spohr, sócio da boate, mas ele não atendeu os telefonemas.

Já o advogado Mário Cipriani, que representa o sócio Mauro Hoffmann --que, assim como Spohr e dois músicos, também está preso temporariamente--,  criticou as manifestações do delegado.

“Não se pode tolerar esse tipo de postura de quem tem a responsabilidade por um inquérito desses e precisa de isenção na investigação. Isso insufla a população, e a verdadeira apuração, para ser ética, tem que ser isenta --não cabe à polícia ‘fazer justiça’, e sim, ao Poder Judiciário”, declarou o advogado.

*Colaborou Thiago Varella, em Santa Maria (RS)