Topo

"Todo mundo da cidade conhece pelo menos uma vítima", diz jovem que enterrou dois amigos em Santa Maria

Thiago Varella

Do UOL, em Santa Maria (RS)

28/01/2013 12h49Atualizada em 28/01/2013 13h09

Um dia depois do incêndio que deixou mais de 230 mortos e mais de cem feridos na boate Kiss, no centro da Santa Maria, a despedida às vítimas acontece em massa na cidade gaúcha. "Todo mundo da cidade conhece pelo menos uma vítima", disse Daniel Portella, 29, que compareceu ao enterro de dois amigos na manhã desta segunda-feira (28) no Cemitério Municipal de Santa Maria.

SAIBA MAIS

  • Veja lista com 231 nomes de mortos na boate

  • "Meu filho morreu, meu filho morreu!", diz mãe
    ao ver nome em lista; veja mais depoimentos

  • Incêndio em boate de Santa Maria é o terceiro mais fatal da história; relembre outros casos

  • Veja a repercussão internacional da tragédia

Daniel foi primeiro ao enterro do amigo de colégio Silvio Peuren, 31, durante a manhã. Silvio era um tradicionalista gaúcho, e todos seus amigos do grupo Junta Casco, do CTG (Centro de Tradições Gaúchas), foram à cavalo e vestidos a caráter para homenagear o amigo. Com a bandeira do Rio Grande do Sul em punho e um estandarte com o nome de Silvio, os colegas levaram ainda o cavalo que ele costumava montar, mas sem ninguém na garupa.

"O mais bonito da cerimônia foi quando recitaram um poema e disseram que Silvio vai cavalgar no céu com todos os heróis gaúchos", contou Daniel, que ainda lembrou que dizem que o corpo do amigo foi encontrado no banheiro da casa noturna, para onde tinha ido minutos antes do incêndio começar.

Por volta das 12h30 começou o enterro de Larissa Hosbach que, assim como Daniel era formada em turismo. Ela trabalhava no caixa da Kiss e não conseguiu sair da boate.

"É a primeira vez que enterro dois amigos no mesmo dia, e é muito dolorido. Espero que nunca mais passe por isso na vida", desabafou o turismólogo, que diz provavelmente conhecer mais vítimas. "Por mais que você não conheça as pessoas pelo nome, você reconhece ao ver os rostos divulgados pela imprensa e isso torna a tragédia mais dolorida".

Trabalho de um mês em um dia

"Normalmente fazemos vinte enterros por semana. Estamos fazendo o trabalho de um mês em apenas um dia", disse Tubias Calil, coordenador do cemitério e do mutirão da Prefeitura para os sepultamentos. Segundo ele, no mínimo 90 vítimas devem ser enterradas entre hoje e amanhã (29) no cemitério municipal, que tem dez hectares de área.

Além disso, no mínimo outros 65 enterros devem acontecer na cidade. O municipal é o que mais vai receber enterros, seguido do cemitério Santa Rita com 30, do cemitério da Saudade (Caturita) com doze, do cemitério São José, com doze, e do cemitério Pau a Pique, com dez enterros. Destes, apenas o Santa Rita é particular.

O Cemitério Municipal de Santa Maria recebeu por volta das 10h30 o primeiro enterro, dos irmãos Marcelo de Freitas Salla Filho, 20, e Pedro de Oliveira Salla, 17. Os cemitérios de Santa Maria se preparam para dez vezes mais enterros do que em dias normais por conta da tragédia.

Foi organizado um "mutirão" para sepultar as pessoas. O número de trabalhadores foi ampliado de forma emergencial com ajuda de voluntários. Famílias pobres que terão auxílio da prefeitura.