Quadro de Di Cavalcanti está guardado desde 2009, sem manutenção, em estação de trem em Limeira (SP)
O quadro “Os Gatos”, do brasileiro Di Cavalcanti, pintado em 1955, está guardado desde 2009, sem manutenção, em um galpão da Estação Ferroviária de Limeira. A prefeitura da cidade, que administra o espaço, não sabe dizer como a obra, cujo valor pode variar entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão, segundo especialistas ouvidos pelo UOL, está acondicionada de acordo com as normas técnicas e confirmou que não há vigilância no local.
Segundo Thiago de Mello e Silva Ramasco, leiloeiro do Espaço Cultural Casa Clara, embora o valor de uma obra desse tipo possa variar de leilão para leilão, o valor de R$ 600 mil pode ser apontado como padrão. “Di Cavalcanti pintou muitos quadros com esses motivos, e há um mercado bem receptivo pelas obras”, informou. Segundo ele, que a conservação da obra é fator fundamental para determinar o preço.
Apesar de confirmar que o local não dispõe, hoje, da proteção de guardas municipais –a porta é trancada com chave normal e corrente de aço comum-- o diretor da Emcea (Escola Municipal de Cultura e Artes), Luiz Carlos Machado da Silva, que assumiu o cargo há cinco dias, afirmou que o local dispõe de alarme. “Sabemos que a condição não é ideal, e estamos trabalhando para oferecer mais segurança para o acervo”, disse.
Segundo Silva, medidas de segurança, como a remoção de peças mais valiosas, começaram a ser providenciadas nesta quarta-feira (30) pela administração. “Só não posso divulgar onde estamos colocando o material para evitar ações mal intencionadas”, informou.
Espólio
O galpão, que fazia parte do espólio da RFFSA (Rede Ferroviária Federal SA), foi doado para a Prefeitura de Limeira pelo governo federal em 2009 . Nesse mesmo ano, o acervo completo do Museu Histórico e Pedagógico "Major José Levy Sobrinho”, do qual o quadro de Di Cavalcanti faz parte, foi enviado para o local.
O museu foi fechado em 2006, mas as obras permaneceram no local até 2009, quando começou uma restauração do espaço. Ela foram retiradas e enviadas ao galpão da Estação Ferroviária. A reforma, que teve problemas, não foi concluída.
Acervo
Silva também afirmou que um levantamento exato do acervo é feito pela administração, mas que ainda não é possível afirmar o total de obras que estão no local. Estimativas, no entanto, afirmam que o total de peças deve ficar na casa das 2.000. Entre as mais valiosas, estão o quadro de Di Cavalcanti, de 1955, e a cama de D. Pedro 2º, datada do fim do século 17.
Sobre o quadro, a museóloga Ariadne Francisca Carrera Miguel, que era responsável pelo museu na administração anterior, disse que a obra foi restaurada entre 2005 e 2006. “Por ignorância, um ex-coordenador de Cultura da cidade dobrou o quadro e ele ficou com uma marca. Por isso, consegui um especialista para restaurar a obra”, disse.
Ela disse também que, depois de restaurado, o especialista determinou que a obra fosse guardada com alguns cuidados especiais. "Quando fui exonerada do museu, em abril de 2009, guardei essa obra dentro de um TNT (tipo de tecido específico para proteger quadros) preto, a pedido do especialista. Ele disse que a obra não poderia tomar ar por um ano. Como fui exonerada, não sei o que aconteceu depois", disse ela, que afirmou temer pelo estado da obra de arte.
Ela disse acreditar que existe uma chance real de que a obra tenha sido danificada desde então. “É um patrimônio que não se sabe se está sendo cuidado. A perda pode ser irreparável”, afirmou.
Preservação
Para Juliana Binotti, integrante do Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico de Limeira, não é possível saber como as peças estão preservadas, mas a situação gera um perigo para a preservação de um bem que, mais do que Limeira, é da cultura brasileira. “Que esse acervo corre risco, é um fato. Acredito que ele possa estar se deteriorando”, afirmou.
Segundo ela, uma vistoria foi feita por um dos membros do Conselho, feita no fim do ano passado, constatou danos a documentos em papel e quadros que estavam no local. Apesar disso, ela não especificou se o quadro de Di Cavalcanti estava entre os avariados “Temos muito medo que isso acabe se perdendo”, comentou.
Reforma
O Museu Histórico e Pedagógico "Major José Levy Sobrinho" foi fechado ao público em 2007, mas as atividades foram encerradas em março de 2009, quando as obras foram retiradas para que a reforma tivesse início.
Avaliada inicialmente em R$ 1,3 milhão, as obras deveriam ser entregues em 20 de março de 2010, mas, após uma série de adiamentos no contrato, que elevaram a reforma ao preço de R$ 1,6 milhão, o último prazo estabelecido foi 1º de abril de 2012. Como ele não foi cumprido pela empresa S. Engenharia e Construções, a prefeitura cancelou o contrato. Desde então, não foram tomadas medidas para realizar uma nova licitação ou retomar os trabalhos de reforma.
Sumiços
O caso não é a primeira polêmica a envolver o acervo do museu. Em abril de 2005, desapareceram 14 obras do acervo, sendo que apenas uma foi encontrada posteriormente. A prefeitura chegou a abrir duas sindicâncias para apurar o sumiço dos quadros, mas elas acabaram arquivadas.
De acordo com os procedimentos instaurados pela administração municipal, os quadros foram retirados do acervo e levados à sede da prefeitura. A informação é que eles seriam utilizados para decoração. Desde então, 13 deles não foram mais localizados.
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