Incêndio em casa de colecionador no Rio destrói quadros de Di Cavalcanti e Guignard
O marchand e colecionador romeno Jean Boghici, 84, informou na tarde da terça-feira (14) que os quadros "Samba", de Di Cavalcanti, e "A Floresta", de Guignard, foram destruídos no incêndio que atingiu seu apartamento em Copacabana, no Rio, da noite de ontem. Muitas obras foram preservadas, entre elas "O Sono" e "Sol Poente", de Tarsila do Amaral, e "Bichos", de Lygia Clark.
"O sentimento é de raiva e vingança. Vou me vingar fazendo uma bela exposição no Museu de Arte do Rio. Estou muito chateado, com vontade de chorar. Não é pelos quadros, mas pela minha gata que morreu", disse Boghici, na porta do prédio, na rua Barata Ribeiro, em entrevista emocionada, ao lado da mulher, Geneviève, que chorava.
O curador Leonel Kaz confirmou a realização da mostra "O colecionador", com as obras de Boghici, no Museu de Arte do Rio, que ainda será inaugurado. "Quando se perde um patrimônio que, apesar de pessoal, é nacional também, nenhuma notícia é tão boa. São patrimônios do Jean e do país. No entanto, muita coisa se preservou. Tanto é que essa exposição ia mostrar pela primeira vez esse conjunto extraordinário que Jean reuniu durante 50 anos, e isso vai ser mostrado. As peças que se foram serão homenageadas."
O acervo de Jean, ex-dono da Galeria Relevo, fica no 12º andar de um dúplex. De acordo com testemunhas e com a própria mulher do marchand, as chamas teriam começado no ar-condicionado e se espalhado pelo apartamento. Suspeita-se que tenha havido um curto-circuito.
Jean e a mulher conseguiram escapar sem ferimentos, mas os bombeiros demoraram cerca de duas horas para controlar o incêndio. O acesso ao apartamento foi bloqueado e moradores do nono andar em diante tiveram que permanecer fora de casa durante o combate às chamas.
O caso foi registrado no 1º DP (Copacabana), e está sendo investigado, informou a Polícia Civil. Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) realizaram perícia na noite de segunda-feira no imóvel e a filha dos donos do apartamento prestou depoimento. Ela disse acreditar que, de fato, o incêndio tenha sido causado por um curto-circuito em um aparelho de ar-condicionado. O delegado titular Márcio Mendonça aguarda o resultado do laudo pericial para saber se o incêndio foi criminoso ou acidental. O documento deve sair em 15 dias.
Jean nasceu na Romênia e em 1949 desembarcou no Rio de Janeiro, onde virou referência no mercado de arte da cidade, como galerista e colecionador.
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