Instalação das UPPs segue roteiro de eventos da Copa, diz pesquisador da Uerj
A zona sul do Rio de Janeiro, região turística e com maior oferta de serviços em toda a cidade, já tem quase todas suas comunidades pacificadas pelo projeto das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora), lançado em 2008. Começou com o Santa Marta, em Botafogo, e culminou com a Rocinha, na Gávea e São Conrado. Na zona norte, as áreas que cercam o estádio do Maracanã, como o Morro dos Macacos e da Mangueira, além daquelas que acompanham o caminho para o Aeroporto Internacional do Galeão (Tom Jobim) também já foram dominadas pelo programa.
De acordo com o estudo “Os Donos do Morro”, preparado pelo LAV (Laboratório de Estudos da Violência) da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) em 2012, parece evidente que a seleção dos locais para instalação do projeto foi fortemente influenciada pela celebração dos grandes eventos na cidade, marcadamente a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.
As áreas de maior violência letal do Estado, segundo o estudo, que se concentram nos municípios da Baixada Fluminense, não haviam sido incluídas no projeto, que parece restrito ao município do Rio. E, mesmo na cidade, a área com a maior taxa de mortalidade da cidade - a zona oeste, que engloba bairros como Santa Cruz e Campo Grande - não foi contemplada, aponta Doriam Borges, pesquisador do LAV, que participou do estudo.
Na última semana, durante solenidade na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), o governador Sérgio Cabral anunciou a instalação de UPPs em Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Baixada Fluminense.
“A metodologia para a escolha da localização das UPPs deveria se construir a partir do critério das taxas de letalidade, já que um dos principais resultados que ela alcança é a redução dessas taxas. Infelizmente, não sei exatamente qual o critério”, afirma Borges.
De acordo com a CPP (Coordenadoria de Polícia Pacificadora), o modelo das UPPs não necessariamente é o adequado para todas as localidades onde há criminalidade. “Como a marca UPP ganhou visibilidade muito grande, todo mundo acha que é remédio para tudo, mas não é”, afirma o comandante Paulo Henrique de Moraes.
O programa, segundo Moraes, foi criado pensando inicialmente nas áreas que estão totalmente dominadas pela criminalidade e que o Estado não consegue chegar porque não ter segurança. A ordem para a instalação das unidades, portanto, segue o critério de identificação de regiões em pior estado, que são as prioritárias.
“Tem problemas em Niterói, são Gonçalo, Caxias, Bangu. Mas quando você tem determinado nível de recursos, tem que priorizar. Niterói não tem nenhuma comunidade que chegue perto de umas 50 que posso listar aqui, como Vigário Geral, Maré e Vila Kennedy”, exemplifica.
Dentre as UPPs já instaladas, o comandante aponta que as mais críticas ou “menos evoluídas no processo de pacificação” são as da Fallet/Fogueteiro, instalada em fevereiro de 2011, e o Complexo do Alemão e da Penha, que datam de 2012.
“Algumas tem uma menor participação ou adesão da população. A Fallet/Fogueteiro já tem dois anos, e o processo está muito lento. No Alemão, por outro lado, não é possível dizer que não tem tráfico, mas já conseguimos acabar com o controle armado. A resposta depende muito mais da comunidade do que de nós”, afirma.
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