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Ex-seminarista Gil Rugai vai a julgamento em SP nove anos após assassinato de pai e madrasta

Gil Rugai responde o processo em liberdade; júri popular em São Paulo pode durar cinco dias - Rivaldo Gomes/Folhapress
Gil Rugai responde o processo em liberdade; júri popular em São Paulo pode durar cinco dias Imagem: Rivaldo Gomes/Folhapress

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

17/02/2013 06h00

O ex-seminarista Gil Greco Rugai, 29, senta no banco dos réus nesta segunda-feira (18) no julgamento em que é acusado dos assassinatos do pai e da madrasta, ocorridos há quase nove anos em São Paulo, em 28 de março de 2004.

A Justiça já havia agendado a realização do júri em datas anteriores, em dezembro de 2011 e 2012, mas o adiou a pedido do Ministério Público e da defesa do réu. No último dia 8, sexta-feira de Carnaval, os advogados de Rugai protocolaram no fórum 1.800 páginas com novos documentos e dez vídeos, mas o Ministério Público descartou pedir novo adiamento apesar de não ter conseguido produzir a contraprova ao material.

Para o MP, que vai pedir a pena máxima --30 anos-- para cada uma das mortes, Rugai é o único possível autor do duplo homicídio, ocorrido na residência do casal em Perdizes, zona oeste da capital paulista.

Segundo a acusação, Rugai teria tramado e executado os dois assassinatos depois de seu pai, Luiz Carlos Rugai, então com 40 anos, ter descoberto desvio de dinheiro na empresa da qual era dono e onde o jovem trabalhava no setor financeiro. O empresário e a mulher, Alessandra de Fátima Troitino, 33, foram mortos a tiros no dia 28 de março de 2004, um domingo, com nove tiros de pistola --ele, com quatro, e ela, com cinco.

O julgamento será realizado no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de SP) e pode se estender até a próxima sexta-feira (22).

O promotor do caso, Rogério Zagallo, afirmou, em entrevista ao UOL, que a expectativa da acusação é para que a pena “seja severa”. “O corpo de jurados vai dizer se o réu é inocente ou culpado, mas é o juiz, em caso de condenação, quem fará a dosimetria da pena. O MP vai defender que Rugai tenha a pena máxima para cada um dos assassinatos, mas, se isso não ocorrer, pode postular ao Tribuna de Justiça de São Paulo o aumento da pena estipulada pelo magistrado”, adiantou.

O júri está marcado para as 10h. Após o sorteio dos jurados, o MP fará a exposição das provas produzidas. Em seguida, o juiz ouve as testemunhas --cinco de acusação e dez de defesa. O réu será interrogado na sequência, mas, se quiser, poderá ficar em silêncio. Os debates de acusação e defesa encerram os trabalhos, antes de os jurados darem o parecer.

Provas levantadas

De acordo com o promotor, um “conjunto de provas” será a base da acusação para pedir a condenação de Rugai a pena máxima. Elas vão desde um grupo de testemunhas ouvidas no inquérito policial --cerca de 70 pessoas depuseram-- a provas periciais sobre a arma do crime e elementos colhidos no local dos assassinatos.

Entre as provas periciais, o promotor destacou a pistola calibre 380 apreendida na caixa de retenção de um prédio onde funcionava uma agência de publicidade de Rugai e outro sócio. A arma só foi descoberta cerca de um ano e meio depois dos crimes, mas o exame de balística confirmou que as nove cápsulas encontradas junto aos corpos do empresário e da mulher partiram da pistola.

Em depoimento, o sócio disse que Rugai mantinha uma arma idêntica, em uma gaveta da agência de publicidade, e que não a teria visto mais lá no dia seguinte aos assassinatos.

Outro depoimento que o promotor destaca é o de um vigia que teria visto Rugai deixar a casa do pai minutos após os crimes. Ele foi inserido no programa de proteção a testemunhas e é um dos arrolados pela acusação ao júri.

Outra prova técnica que subsidia a promotoria é laudo do Instituto de Criminalística atestando que marcas de pé na porta da sala onde o empresário foi morto eram do filho.

“Não havia outra pessoa interessada na morte do Luiz Carlos que não o Gil. Por exclusão, a autoria é dele --e pelos depoimentos, está claro que ele tinha medo do próprio filho: ele tirou do colo do Gil a galinha dos ovos de ouro”, comparou o promotor, referindo-se à briga entre pai e filho, uma semana antes dos crimes, e na qual o empresário teria expulsado o filho de casa com a suposta confissão dele sobre os desfalques na empresa.

Réu está em liberdade

Rugai chegou a ficar pouco mais de dois anos preso, mas acabou liberado por excesso de prazo detido, já que ainda não era condenado. Depois disso, obteve a garantia de liberdade graças a uma série de recursos e pedidos de habeas corpus impetrados ao STF (Supremo Tribunal Federal) por sua defesa.

Os advogados Thiago Gomes Anastácio e Marcelo Feller, que defendem Rugai, sustentam que o jovem estava em seu escritório, a 4,5 quilômetros do local da residência de seu pai, no momento do crime. A tese consta de comprovantes telefônicos entregues pela defesa na documentação da véspera de Carnaval.

A reportagem tentou falar com os advogados de Rugai sobre as declarações de Zagallo, mas eles não foram localizados.