Acusação elenca "19 mentiras" e diz que provas técnicas colocam Mizael na cena do crime
O promotor criminal Rodrigo Merli Antunes defendeu nesta quinta-feira (14) aos jurados do caso Mércia Nakashima que todas as provas técnicas colocam o réu Mizael Bispo da Silva na cena do crime. A declaração foi feita no quarto e último dia de julgamento de Mizael, acusado pelo assassinato de Mércia, sua ex-namorada, em 23 de maio de 2010.
O julgamento acontece no Fórum de Guarulhos (região metropolitana de São Paulo) e entrou hoje na fase de debates entre acusação e defesa, etapa que deve levar até seis horas. Na sequência, se reúne o Conselho de Sentença --formado pelos jurados, o juiz, os advogados de defesa e a acusação --para definir se o réu é inocente ou culpado. A partir disso, o magistrado estabelece a pena, em caso de cndenação.
"Não existe excesso de coincidências", afirmou o promotor, sobre as evidências técnicas que atribuem a Mizael a culpa pela morte da advogada.
Aos jurados, o promotor resumiu todas as provas. Disse que Mizael usou um celular 'frio' para falar com o vigia Evandro Bezerra da Silva por 19 vezes no dia do crime. Afirmou que, ao contrário do que diz a defesa, o rastreador do carro do réu está funcionando. Silva será julgado pelo crime em julho deste ano também em júri popular.
"O rastreador dele estava perfeito. A partir do dia 23 de agosto é que o rastreador dele trava, para a defesa. Ele precisava provar que o rastreador falha", disse o promotor.
O promotor derrubou a tese de que o policial reformado estaria em um veículo com uma prostituta na hora do crime, já que usou uma antena de celular não alcançável no local onde o automóvel estava estacionado.
Além disso, Antunes lembrou que quatro elementos da cena do crime -- sangue, ossos, metal da munição e, principalmente, alga -- estavam no sapato de Mizael.
"Prostituta existe, rastreador deu problema, ERB está maluca, alga não é alga, sangue não é sangue, osso não é osso, Evandro foi torturado. Se uma dessas coisas der errado, ele é culpado", disse o promotor.
Mizael afirma que a alga foi "plantada" como prova em seu sapato pela polícia. "Ninguém plantou, desculpem o termo, porcaria nenhuma", desabafou o promotor.
Assistente de acusação mostra fotos de Mércia
Após a argumentação do promotor Rodrigo Merli Antunes, foi a vez de o assistente de acusação Alexandre de Sá Domingues elencar, para os jurados, 19 mentiras contadas por Mizael Bispo de Souza durante o processo, em alusão ao número de vezes que o réu ligou para o vigia Evandro Bezerra da Silva no dia da morte de Mércia Nakashima.
"Senhor Mizael ganhará um prêmio ao final deste julgamento: o de mentiroso do ano", disse o advogado. Durante todo o tempo em que Domingues falou, aos berros, as supostas mentiras do réu, um datashow mostrou, projetadas na parede, imagens de Mércia Nakashima e dos momentos de sofrimento da família após o crime.
A mãe da vítima, Janete, chorou muito, mas não evitou o olhar atento às fotos mostradas. O irmão de Mércia, Márcio Nakashima, não quis ver as imagens. "Que difícil. Virei a cabeça na hora das fotos", disse, durante o intervalo para o almoço.
Antes de falar sobre as supostas mentiras, Domingues mostrou um e-mail agressivo de Mizael para Mércia, escrito em 17 de abril de 2010. Para o advogado, toda a mágoa mostrada pelo réu no texto enviado, prova que o policial reformado mentiu ao afirmar que tinha um ótimo relacionamento com a vítima.
O advogado afirmou que Mizael era possessivo e não aceitava a rejeição de Mércia. "Na cabeça doentia dele, ela estava enganando ele. Mizael faz de tudo para se encaixar na verdade que a mente dele criou", afirmou.
No final, Domingues fez um apelo ao corpo de jurados. “Tenho certeza de que nenhum dos senhores jurados tem uma dúvida sequer de que Mizael assassinou Mércia”, disse.
Antes da argumentação da defesa, o juiz Leandro Cano deu duas horas de intervalo para o almoço. A sessão deve ser retomada às 13h30
Relembre o caso Mércia
"Só Mizael tinha interesse em matar Mércia"
Mais cedo, em sua explanação, o promotor afirmou que ninguém, além de Mizael, teria interesse em matar Mércia Nakashima.
"É fato que Mércia Nakashima foi assassinada. Quem então teria interesse de eliminar a vida dela?", questionou Antunes. "Mércia nunca teve inimigos. Algum relacionamento conflituoso? Isso sim, com Mizael Bispo de Souza", completou.
Se dirigindo diretamente aos jurados, Antunes afirmou que a defesa tentou manchar a honra da vítima, ao relacioná-la com traficantes.
"Disseram que ela tinha envolvimento com um tal Vampirinho. Esse traficante morreu uma semana antes que ela", contou.
Para o promotor, que não quis fazer perguntas para Mizael na quarta durante interrogatório do réu, o policial reformado é "mentiroso".
"Não é possível tanta mentira. Posso até ter cara de idiota. Posso ter cara de moleque, e tenho. Mas de idiota e moleque, eu não tenho nada", disse o promotor.
Antunes disse que Mizael, ao contrário do que foi dito pelo réu, consegue sim atirar e o desafiou a demonstrar as habilidades em depoimento dado em 2010. Além disso, o promotor acusou o policial reformado de ter tentado forjar um álibi com uma mulher que se relacionou com ele.
"Queria nos enganar com uma suposta garota de programa que nunca, eu garanto, existiu. Ela estaria aqui. A justificativa é que ela tem um relacionamento e não pode se expor. Nunca vi garota de programa comprometida. E se fosse deixaria um inocente pegar não sei quantos anos de prisão? Lorota!", disparou.
A acusação terá duas horas para argumentar para os jurados. Em seguida, a defesa também contará com duas horas. Após o intervalo para almoço, quem acusa poderá contar com uma réplica de uma hora e os defensores com uma tréplica de também uma hora.
Último dia de júri
Nesta quinta-feira (14), os sete jurados --dois homens e cinco mulheres-- decidirão se Mizael é culpado ou inocente da acusação de ter matado Mércia.
Após debates entre a acusação e a defesa --que podem durar seis horas no total --, o Conselho de Sentença formado pelos jurados, o magistrado, acusação e defesa se reunirá na sala secreta para decidir o futuro do réu.
Na quarta (12), em um interrogatório que durou duas horas e contou com perguntas feitas pela defesa e pelos jurados, já que acusação abriu mão dos questionamentos, Mizael voltou a se dizer inocente.
"Estou sofrendo tanto com isso. Melhor a morte do que ficar preso. Quem deve, tem que pagar pelo que fez. Quem não deve, tem que rebelar. Eu me rebelei", explicou. "O direito de tirar a vida é de quem nos deu."
O réu acusou a polícia de ter plantado provas que podem incriminá-lo. "Tenho certeza que levaram meu sapato na água. Fizeram meu pé. Eu nunca estive na represa de Nazaré Paulista. Juro pela vida da minha filha de 11 anos", afirmou.
Seus advogados de defesa confiam em uma absolvição e contaram que o réu está tranquilo, já que, segundo eles, seria incapaz de matar uma pessoa que amou. "Ele diz que pode cumprir o que for, mas é inocente. Mizael só aceita a negativa de autoria", disse o advogado Ivon Ribeiro.
O defensor contou que não conta com nenhuma "carta na manga" para a fase de debates com a acusação, que começa na manhã de hoje. "Só não virei de regata porque é indecoroso. Não tenho nada na manga", ironizou.
Já a acusação não tem dúvidas quanto a culpa de Mizael. Segundo o promotor Rodrigo Merli Antunes, o réu pede perdão e clemência, mas não agiu desta forma com a vítima. Ele ironizou a maneira como o ex-PM tem se apresentado no julgamento. "O cidadão julgado não é o Mizael desta semana", afirmou.
Segundo Antunes, a fase de debates será usada para expor as contradições de Mizael apresentadas no interrogatório de quarta. "Não quero adiantar o que vamos dizer por uma questão estratégica", desculpou-se.
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