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Cinco mulheres e dois homens decidem hoje se Mizael é culpado ou inocente pela morte de Mércia

Thiago Varella

Do UOL, em Guarulhos (SP)

14/03/2013 06h00Atualizada em 14/03/2013 07h53

Nesta quinta-feira (14), sete jurados --dois homens e cinco mulheres-- decidirão, no quarto dia de julgamento no Tribunal do Júri de Guarulhos (SP), se o PM reformado Mizael Bispo de Souza é culpado ou inocente da acusação de ter matado sua ex-namorada Mércia Nakashima, em Nazaré Paulista, na Grande São Paulo, em 2010.

O juiz Leandro Cano determinou a retomada dos trabalhos para às 9h de hoje, quando serão realizados os debates entre a acusação e a defesa --que podem durar seis horas no total. Posteriormente, o Conselho de Sentença se reunirá na sala secreta para decidir o futuro do réu.

Na quarta (12), em um interrogatório que durou duas horas e contou com perguntas feitas pela defesa e pelos jurados, já que acusação abriu mão dos questionamentos, Mizael voltou a se dizer inocente.

"Estou sofrendo tanto com isso. Melhor a morte do que ficar preso. Quem deve, tem que pagar pelo que fez. Quem não deve, tem que rebelar. Eu me rebelei", explicou. "O direito de tirar a vida é de quem nos deu."

O réu acusou a polícia de ter plantado provas que podem incriminá-lo. "Tenho certeza que levaram meu sapato na água. Fizeram meu pé. Eu nunca estive na represa de Nazaré Paulista. Juro pela vida da minha filha de 11 anos", afirmou.

Seus advogados de defesa confiam em uma absolvição e contaram que o réu está tranquilo, já que, segundo eles, seria incapaz de matar uma pessoa que amou. "Ele diz que pode cumprir o que for, mas é inocente. Mizael só aceita a negativa de autoria", disse o advogado Ivon Ribeiro.

O defensor contou que não conta com nenhuma "carta na manga" para a fase de debates com a acusação, que começa na manhã de hoje. "Só não virei de regata porque é indecoroso. Não tenho nada na manga", ironizou.

Já a acusação não tem dúvidas quanto a culpa de Mizael. Segundo o promotor Rodrigo Merli Antunes, o réu pede perdão e clemência, mas não agiu desta forma com a vítima. Ele ironizou a maneira como o ex-PM tem se apresentado no julgamento. "O cidadão julgado não é o Mizael desta semana", afirmou.

Segundo Antunes, a fase de debates será usada para expor as contradições de Mizael apresentadas no interrogatório de quarta. "Não quero adiantar o que vamos dizer por uma questão estratégica", desculpou-se.

Testemunhas do 3º dia

O perito-chefe da investigação do caso Mércia Nakashima, Renato Domingos Pattoli, afirmou, durante o terceiro dia de julgamento que a terra encontrada no sapato do réu não é compatível com a da represa de Nazaré Paulista, onde o carro e o corpo da vítima foram localizados.

Questionado pelo advogado de defesa Samir Haddad Junior, Pattoli contou que, no calçado de Mizael, foi encontrada uma alga compatível com a que existe na represa, mas a terra que estava grudada no sapato não existe no mesmo local. Com o depoimento de Pattoli, a defesa do réu tentou desqualificar a perícia feita pelo Instituto de Criminalística à época do crime

No entanto, na inquirição da testemunha, o promotor Rodrigo Merli Antunes mostrou um vídeo da fase de instrução, em 2010, em que Pattoli afirmava que não era possível dizer se a terra do sapato de Mizael era a mesma da represa. Confrontado, o perito voltou atrás no que fora dito há quase três anos e reforçou que as terras são diferentes.

Outras duas testemunhas arroladas pela defesa foram dispensadas.

O perito Hélio Rodrigues Ramacciotti, última testemunha ouvida no julgamento de Mizael Bispo --arrolada pelo juízo--, afirmou, por meio de cálculos, que o réu estaria na área coberta pela antena de celular, que fica entre a represa de Nazaré Paulista e o Hospital Geral de Guarulhos, apontada pela operadora no momento em que recebeu uma ligação às 21h21 no dia da morte de Mércia Nakashima.

Pela posição da antena, para a acusação, Mizael estaria retornando da represa de Nazaré Paulista, onde o corpo de Mércia Nakashima foi encontrado. Ramacciotti refez o suposto caminho usado pelo réu da represa até o Hospital Geral de Guarulhos, onde o GPS do carro de Mizael ficou estacionado por quatro horas, no momento do crime.

Também nesta quarta, a defesa do policial militar reformado pediu a nulidade desta perícia de percurso feita por Ramacciotti. Caberá hoje aos jurados a decisão, que acontecerá durante os debates de acusação e defesa.