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Consulado dos EUA alerta sobre riscos a turistas no Brasil; "dano é brutal", diz especialista

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

02/04/2013 06h00

O perigo de crimes, como o que ocorreu com um casal de turistas estrangeiros, um deles americano, em uma van no Rio de Janeiro, no último sábado (30), é um dos alertas que o governo dos Estados Unidos faz, em seu site, para quem visita o Brasil. Na página da internet, além da descrição do país, os turistas encontram informações e recomendações sobre a segurança nas cidades brasileiras.

Em um dos tópicos, o governo norte-americano atenta especialmente para casos de roubos e estupros. “Criminosos sequestram vítimas por um curto período de tempo, a fim de receber um retorno rápido da família. (...) Algumas vítimas foram espancadas e/ou violentadas. Você também deve tomar precauções para evitar ser sequestrado, especialmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e outras cidades”.

Polícia busca terceiro acusado de roubar e estuprar turista

O casal de turistas ia para a Lapa, zona turística no centro do Rio, mas foi obrigado a seguir com os criminosos em uma van para São Gonçalo. Eles foram forçados a fazer saques em caixas eletrônicos e compras em postos de gasolina em Niterói e São Gonçalo onde, mais tarde, os homens foram presos. A mulher foi violentada por três homens, segundo depoimento prestado na delegacia. Ela deixou a cidade no domingo (31).

Segundo o pesquisador Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), turistas são alvos fáceis, pois desconhecem o lugar onde estão. “Há um cálculo oportunista de quem pratica esses crimes, pois os turistas sempre carregam dinheiro, bens de valor e não sabem direito onde estão. É como assaltar crianças ou idosos. Há quadrilhas especializadas, que agem na praia ou em locais de concentração de turistas”, explica.

A página do governo americano também atenta para esta questão: a incidência de crimes contra turistas em áreas que cercam as praias, hotéis, discotecas, bares, discotecas e outros destinos turísticos. “É especialmente prevalecente antes e durante o Carnaval, mas também ocorre durante todo o ano. Várias cidades brasileiras têm estabelecido unidades policiais especializadas de turismo para áreas de patrulha frequentados por turistas”, diz o site.

“Enquanto o risco é maior durante a tarde e à noite, a criminalidade de rua também ocorre durante o dia, e áreas mais seguras das cidades não estão imunes. Incidentes de roubo em ônibus da cidade são frequentes”, informa o site, que recomenda que os turistas mantenham uma cópia do passaporte com ele enquanto estiver em público e deixem o passaporte em um hotel ou outro local seguro.

Como identificar vans irregulares

Carros em condições precárias, como pneus carecas, peças remendadas, podem significar que esse veículo não foi vistoriado. Vans com portas abertas, excesso de passageiro, também significam irregularidades. É fundamental também que o usuário perceba ou exija que o motorista ou seu auxiliar apresente seu cartão de identificação.

As greves de policiais brasileiros também fazem parte da lista de precauções que os turistas americanos devem ter ao chegar ao Brasil. “As greves de policiais e outros prestadores de serviços de emergência não são incomuns. As greves em Fortaleza, no Ceará, em dezembro de 2011, e em Salvador, na Bahia, em janeiro de 2012, minaram a segurança pública e causaram um aumento preocupante da criminalidade e da ilegalidade”, diz o governo americano.

O governo americano proíbe ainda que funcionários do governo dos EUA viajem para bairros de periferia ou favelas em Recife, São Paulo e Rio de Janeiro. Além disto, também é restrita a viagem entre as 18h e as 6h em Brasília e nas cidades-satélite de Ceilândia, Santa Maria, São Sebastião e Paranoá, áreas consideradas perigosas pelo governo americano. “Tenha cuidado ao viajar através de áreas rurais e cidades satélites, devido a incidentes de assaltos na estrada”, informa o site.

Procurado pelo UOL, o consulado americano informou apenas que que auxilia as vítimas que têm problemas no país, dá proteção a elas e faz contato com as famílias. Além disso, também atua fazendo a interface entre os cidadãos e o poder público brasileiro.

"Dano brutal"

O sequestro deve complicar a imagem do país no exterior, analisa o professor de relações internacionais da UnB (Universidade de Brasília) e especialista em ciência política Eiiti Sato. Segundo ele, há muita leviandade no tratamento das questões de segurança pública no país.

“Ainda que não fossem estrangeiros, a questão é gravíssima. Como são, há uma implicação externa maior, pois a repercussão é internacional. Esses casos causam um dano brutal à imagem do país”, afirma Sato, que não acredita que deva haver algum tipo de retaliação ao Brasil por parte dos Estados Unidos. “Pode haver uma queda no turismo no país, ainda mais neste período de competições, porque as pessoas ficam assustadas.”

 “O governo gasta bilhões fazendo estádios e não se investe na segurança pública, nas escolas. Essa mulher sofreu um dano irreparável. É inaceitável que isso aconteça”, afirma Sato.

Procurada, a Secretaria Municipal de Turismo informou que trabalha apenas com a promoção do turismo na cidade, e não com questões relacionadas à criminalidade, que fica a cargo da Deat (Delegacia Especial de Atendimento ao Turista).

O caso

A turista estrangeira violentada em uma van na madrugada do último sábado (30) em um trajeto entre Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, e São Gonçalo, na região metropolitana, foi agredida por um dos homens que a atacou. Segundo a polícia, ela sofreu duas fraturas no nariz. O namorado da vítima, também estrangeiro, sofreu agressões no rosto e, apesar de ter ficado com a face totalmente machucada, não teve nenhuma fratura.

Jonathan Foudakis de Souza, 20, e Wallace Aparecido Souza Silva, 22, são acusados de manter como reféns a turista e seu namorado. Eles foram forçados a fazer saques em caixas eletrônicos e compras em postos de gasolina em Niterói e São Gonçalo onde, mais tarde, os homens foram presos. De acordo com informações da Polícia Civil, os suspeitos também abusaram sexualmente da turista no trajeto, enquanto o namorado foi espancado.

O grupo que estuprou a turista é acusado de roubar pelo menos mais cinco pessoas, em outros dias. As vítimas denunciaram os casos na segunda-feira (1º) na Deat, onde fizeram o reconhecimento dos dois homens que estão presos. Um terceiro acusado continua foragido.

Até agora o grupo é acusado de estuprar duas mulheres (uma brasileira, no dia 23, e a estrangeira, no dia 30) e roubar oito pessoas (as duas mulheres estupradas, o namorado da estrangeira e as cinco pessoas que foram nesta segunda à Deat). A brasileira estuprada já havia denunciado o caso à Delegacia de Atendimento à Mulher de Niterói (Região Metropolitana do Rio), mas a investigação seguia lentamente. Devido à demora, a titular da Deam, Marta Dominguez, foi exonerada do cargo pela chefe da Polícia do Rio, Martha Rocha. A perita Martha Pereira, diretora do Posto Regional de Polícia Técnico-Científica de São Gonçalo, na mesma região, também foi exonerada, pela demora em atender a vítima do estupro.

Na tarde de segunda os dois presos foram conduzidos ao Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) para serem reconhecidos pelo estrangeiro. Ele é francês, tem 23 anos e pretende voltar para a França, por isso foi ao TJ-RJ para prestar depoimento em juízo e reconhecer a dupla. Assim não precisará voltar ao Brasil para audiências do processo. A namorada, uma norte-americana de 21 anos, já voltou para os Estados Unidos. O casal fazia intercâmbio e estudava em uma faculdade da zona sul do Rio.