Trabalhistas têm maioria, e Keir Starmer é eleito premiê do Reino Unido
O Partido Trabalhista, de centro-esquerda, conquistou a maioria das cadeiras no Parlamento britânico e elegeu Keir Starmer como novo primeiro-ministro do Reino Unido. Com o resultado desta quinta-feira (5), o Partido Conservador, representado por Rishi Sunak, deixa o poder após mais de 14 anos.
O que aconteceu
Trabalhistas conseguiram 412 cadeiras no Parlamento. Os Conservadores ficaram em segundo lugar, com 121 parlamentares eleitos, seguido por LibDems (71), SNP (Partido Nacional Escocês, 9), Sinn Fein (7), da Irlanda, e independentes (6). Reform UK, Verde e Plaid Cymru (Partido do País de Gales) ficaram com quatro assentos cada. Ainda faltam os resultados de duas cadeiras.
Starmer é o 1º premiê trabalhista em mais de 14 anos. O último representante do partido a ser primeiro-ministro foi Gordon Brown, que sucedeu Tony Blair e ficou no cargo de junho de 2007 a maio de 2010. Neste meio-tempo, o Reino Unido teve cinco premiês conservadores: David Cameron, Theresa May, Boris Johnson, Liz Truss e Rishi Sunak.
"Nós conseguimos, a mudança começa agora", declarou Starmer a apoiadores. Ele diz que o Reino Unido está vivenciando uma "luz de esperança" após 14 anos de governos conservadores.
No Reino Unido, é adotado o sistema de voto distrital. Os eleitores não escolhem seu primeiro-ministro diretamente, mas sim os 650 membros do Parlamento que vão representar os distritos onde moram. Esses parlamentares compõem a chamada Câmara dos Comuns (ou House of Commons), equivalente à Câmara dos Deputados brasileira. O líder do partido que tiver a maioria do Parlamento — neste caso, Keir Starmer — vai receber uma autorização formal do rei Charles 3º para assumir o cargo de primeiro-ministro e formar um governo.
Pesquisas já mostravam ampla vantagem dos Trabalhistas. Um levantamento feito pela emissora britânica BBC colocava o Partido Trabalhista com 39% das intenções de voto, contra 21% do Partido Conservador, segundo dados compilados até 3 de julho. A maior parte dos analistas via como muito improvável uma vitória de Sunak sobre Starmer. "Se tivesse uma virada, seria histórica, mesmo", disse ao UOL Kai Enno Lehmann, professor do IRI-USP (Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo).
Quem é Keir Starmer
Foi procurador-geral da Inglaterra e do País de Gales. Filho de um operário e uma enfermeira que também apoiavam os Trabalhistas, Keir Starmer tem 61 anos e nasceu em Londres, mas foi criado em Oxted, no sudeste da Inglaterra. Formado em direito pela Universidade de Leeds, entrou tarde na política: foi eleito deputado apenas em 2015 e substituiu Jeremy Corbyn à frente dos Trabalhistas em 2020. Desde então, tem insistido em aproximar o partido das posições de centro.
É um grande fã de futebol e torcedor do Arsenal. Starmer é casado com Victoria Alexander — conhecida como Lady Vic entre os Trabalhistas — desde 2007 e tem dois filhos, um menino e uma menina, ambos adolescentes. Em junho, em entrevista à Sky News, ele disse ter receio do impacto que a eleição para primeiro-ministro poderia causar a sua família. "Eles estão numa idade difícil", explicou, acrescentando que ainda não apareceu ao lado dos filhos em público para "protegê-los".
Durante a campanha eleitoral, definiu seis prioridades. Starmer prometeu estabilidade econômica, redução da fila de espera no NHS, reforço da polícia, nova política energética, abertura de cargos para professores e criação de um centro de comando para aumentar a segurança das fronteiras. Quando questionado sobre como gostaria de ser lembrado, respondeu: "Como alguém que teve um governo trabalhista ousado e reformista. Como um grande pai e amigo".
Detesto perder, principalmente no futebol e na política. Jogo futebol toda semana, no meio do campo, comandando. Muita gente fala que o importante é participar. Não sou dessa opinião. O que importa é vencer.
Keir Starmer, ao The Guardian, em agosto de 2023
Herança do antecessor
Economia britânica vem patinando desde o Brexit, em 2016. O principal argumento dos Conservadores era de que, com o Brexit, o Reino Unido estaria livre das amarras da UE e poderia fechar acordos comerciais com outros países. Na prática, aconteceu o contrário: os custos de vida e dos negócios subiram, a burocracia aumentou e a parte da mão de obra estrangeira deixou o país. Em 2019, o PIB (Produto Interno Bruto) britânico cresceu 1,6%, de acordo com dados oficiais; em 2023, a expansão foi de 0,1%.
Estado crítico dos serviços é visto como herança conservadora. Os trabalhadores perderam o poder de compra, as listas de espera do NHS — equivalente ao SUS brasileiro — estão ficando mais longas e há cada vez mais vagas não preenchidas. Desde 2022, houve uma greve atrás da outra em todos os setores do Reino Unido, sem nenhum resultado satisfatório para os sindicatos. Não à toa, segundo a RFI, os eleitores veem a saúde e a educação como as questões mais importantes dessas eleições gerais.
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Quero receberConvocação das eleições foi 'desespero', diz professor. Klaus Guimarães Dalgaard, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), lembrou que os próprios Conservadores tinham como certa a realização das eleições no outono no Hemisfério Norte — isto é, entre setembro e novembro —, na expectativa de que Sunak teria números melhores para apresentar à população. Como o prognóstico era ruim, o anúncio foi antecipado para maio. A estratégia não deu certo, e o atual premiê foi derrotado nas urnas.
O fato é que o Brexit tem sido um desastre econômico, e os britânicos estão sentindo isso na pele. O Estado está falido, com queda na arrecadação todo ano. Não tem dinheiro para nada - e até por isso tem cortado gastos sociais. A economia está absolutamente um desastre. É isso que tem levado a essa enorme queda de apoio do Partido Conservador.
Klaus Dalgaard, da UFSC
(Com AFP e RFI)
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