Topo

Bola diz que ex-delegado pediu "ao menos uma perna" de Eliza Samudio

Rayder Bragon e Carlos Eduardo Cherem

Do UOL, em Belo Horizonte

27/04/2013 14h46

O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de assassinar Eliza Samudio, encerrou seu depoimento por volta das 13h30 neste sábado (27) acusando um ex-delegado de pedir “ao menos uma perna da moça”.

O ex-delegado Edson Moreira, atualmente vereador pelo PTN em Belo Horizonte, foi um dos responsáveis pelas investigações do caso e é inimigo declarado de Bola e do advogado Ércio Quaresma, que defende o réu.

Bola disse que Moreira cobrou dele “ao menos uma perna da moça [Eliza]” porque, conforme ele, o então delegado teria dito: “Minha carreira está em jogo”.

Moreira não foi encontrado para falar sobre o assunto porque ele está incomunicável, à disposição da Justiça, após ter sido uma das testemunhas que depuseram durante a semana no julgamento de Bola. O pedido para que o ex-delegado ficasse à disposição foi feita pela defesa do réu.

Moreira foi, porém, a principal testemunha da defesa de Bola, que procura apontar falhas nas investigações e desconstruir as peças apresentadas pela polícia mineira à Justiça e explora as desavenças pessoais entre os três.

Bola disse também que Moreira teria considerado que o réu era uma espécie de “segurança” do goleiro Bruno, condenado por mandar marta Eliza.

Ainda de acordo com o depoimento de Bola, Moreira pediu R$ 2 milhões ao jogador para não indiciar os dois no inquérito. “Eu nem conhecia o Bruno”, disse Bola.

O assunto já tinha vindo a público em 2010, quando o Quaresma, que era defensor do goleiro, acusou o então delegado de tentar extorquir dinheiro de Bruno. À época, Moreira negou as acusações.

Na primeira parte do seu depoimento, na madrugada de sábado, Bola já havia acusado Moreira de mandá-lo torturar um preso no pau de arara, quando os dois trabalhavam na Polícia Civil de Minas Gerais.

Bola não responde promotor

Na retomada do depoimento, Bola não quis responder às perguntas feitas pelo promotor Henry Castro e limitou-se a falar sobre o que lhe era perguntado por seu advogado e pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, do 1º Tribunal do Júri de Contagem, onde o julgamento do réu já dura seis dias.

Segundo Bola, houve ameaça por parte do chefe das investigações, dando conta de que, caso ele denunciasse a cobrança do dinheiro, seria morto dentro do sistema prisional. A família do réu também poderia sofrer retaliações caso o assunto viesse à tona.

Em outro momento do interrogatório, Bola voltou a negar participação na morte de Eliza Samudio e disse que nem a conhecia. “Nunca estive com Eliza Samudio. Somente a vi pela TV, como todo mundo”, disse.

Ele ainda declarou ser evangélico. “Eu nunca matei ninguém, muito menos na minha casa”, salientou.

Segundo a acusação do Ministério Público (MP), Bola teria matado Eliza, no dia 10 de junho de 2010, por asfixia na sua casa, situada na cidade de Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte.

O ex-policial ainda negou ter ameaçado o detento Jaílson Alves de Oliveira, autor de denúncia sobre uma suposta lista de marcados para morrer ligados ao caso.

Oliveira atribuiu a lista a Bola e ao goleiro Bruno. A polícia investigou o caso, mas não provou a existência dela.

Oliveira ainda disse ter ouvido de Bola, quando dividiram o mesmo pavilhão na penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem, uma confissão de que teria matado Eliza.